terça-feira, 30 de agosto de 2016

‘Poeira 2014’ eleito o melhor branco português pela Wine Spectator

Na edição de Agosto, da prestigiada revista da especilalidade Wine Spectator, o vinho do Douro ‘Poeira branco 2014’, conquistou 93 pontos, sendo eleito o “melhor branco português” da vindima de 2014” e de uma extensa lista de vinhos brancos (de várias colheitas) provados pela WS em 2016.

Excelentes notícias para o enólogo Jorge Moreira, ainda mais quando recebidas em vésperas de celebrar 20 vindimas e 20 anos a desenhar e criar néctares no Douro (e mais recentemente também no Dão, com a marca M.O.B.). 

O ‘Poeira branco 2014’ é a terceira edição (antecederam-se 2012 e 2013) de um vinho bastante peculiar: um monocasta de Alvarinho, feito 100% a partir desta que é uma variedade típica da região dos Vinhos Verdes. Plantada na Quinta do Poeira – propriedade situada em Provesende, em pleno Douro Vinhateiro –, dá origem a néctares em que as características do terroir duriense se impõem.

Um branco de “sombra”, com uvas provenientes de uma vinha plantada em encosta com exposição norte e muito protegida do sol. Foi vinificado em barricas de carvalho francês de 500 litros e com estágio de oito meses em madeira e um ano em garrafa. O ‘Poeira branco 2014’ deu origem a cerca de 2.500 garrafas, com um preço de venda ao público de 30 euros.

In Press Release

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Radar do Vinho: 2 dias em Cape Town, Admirável Novo Mundo dos Vinhos

Por motivos profissionais, tive a rara oportunidade de aterrar na África do Sul, país onde Nelson Mandela é o "Deus" mas onde os fantasmas do Apartheid estão ainda bem patentes. Trata-se de um local onde as influências europeias e as multi-culturas fazem parte do dia-a-dia, de um país ainda à procura do seu destino e onde a pobreza e a violência são casos sérios. Joanesburgo é a capital, enquanto que Cape Town (Cidade do cabo) é a cidade turística por excelência, com uma beleza ímpar, rodeada de montanhas (a mais famosa a "Table Mountain"), com praias paradisíacas e onde a indústria do vinho é extremamente poderosa. Com uma história que remonta a mais de 300 anos atrás, os vinhos sul africanos refletem as tradições do Mundo Antigo, mas são também influenciados pelos estilos contemporâneos do Mundo Novo. 
Cape Town

Esta rara combinação ajuda a explicar a crescente popularidade internacional de vinhos sul africanos nos últimos anos. Cape Town é a porta de entrada para a região das vinícolas Sul Africanas. O clima mediterrâneo, com verões mornos e chuva de inverno, combinado com um solo rico, assegura o crescimento de videiras fortes e saudáveis. São cultivados mais de 100 000 hectares de vinhedos e vinhos em mais de 340 adegas de vinho e propriedades. Existem por isso diversas rotas, que os turistas e locais podem percorrer a partir de Cape Town, preparados para receber os visitantes e com todas as condições para uma tarde ou dia em família, com restaurantes, diversões e enormes espaços verdes, muito agradáveis.
Como referi anteriormente, estive em trabalho pelo que apenas consegui reservar dois dias para visitar algumas das propriedades onde a prova de vinhos é tratada turisticamente. Muito pouco, mas o suficiente para ter uma ideia de como funciona e ficar com vontade de regressar...
Dia 1:
Cape Town orgulha-se de cinco regiões de vitivinicultura, a Coast, a Olifants River, Boberg, Breede River Valley, e Klein Karoo. Todas têm suas próprias rotas de vinho onde visitantes são sempre bem-vindos. A Região Litoral (Coast) é talvez a mais importante e consiste nos distritos de Paarl, Stellenbosch, Swartland, Tulbagh, Tygerberg e Cape Point. Muitos locais importantes, tais como Constantia, Durbanville, Franschoek e Simonsberg, ficam dentro desta área. 
Fiquei hospedado no Protea Hotel, exactamente em Durbanville, um hotel localizado no meio dos vinhedos e que por esse motivo estava decorado com motivos alusivos ao vinho por todo o lado, sendo inclusive possível provar uma série de vinhos da região, a preços convidativos.
Sendo impossível de visitar todos os produtores e não tendo efectuado um real trabalho de casa, confiei no meu colega local Ryno que nos levou ao distrito de Paarl, perto de Durbanville e a 50km de Cape Town. Visitamos 3 produtores nesse dia: Simonsvlei, Fairview e Spice Route. Todos eles, produtores "mainstream" isto é, com todos os apetrechos preparados para receber turistas e locais, apresentando uma enorme variedade de vinhos, de perfil internacional, de novo mundo, com castas francesas e algumas autóctones. Tudo muito bem conseguido para proporcionar um belo tempo de relax à volta do vinho. Destaque para o produtor Spice Route onde para além da prova de vinhos, fizemos uma prova de chocolate negro artesanal e uma prova de cerveja artesanal...Brutal. Todos os espaços tinham pessoas que sabiam falar sobre o vinho e estavam com muita gente local e turista que aproveita a oferta para passar uma bela tarde de convívio e em família à volta do vinho. Mais tarde falarei mais em pormenor dos vinhos provados e dos produtores em questão.


Dia 2:
Visita a Cape Town. Aí pedi ao Ryno para visitarmos um produtor "boutique" e a escolha recaíu no produtor "Constantia Glen", na vila de Constantia, famosa pelos seus produtores de boutique, ou seja mais pequenos e tradicionais. Aqui os produtores produzem os seus vinhos das suas próprias uvas e vinhas dentro da propriedade, enquanto que em Paarl, as vinhas estão noutras regiões e por isso é mais uma produção em massa. A diferença foi enorme. Pela primeira vez fiquei positivamente surpreendido com os vinhos provados: Um Sauvignon Blanc delicioso um tinto com 3 castas franncesas e outro com um blend de 5 castas francesas, respectivamente Constantia Glen Three e Cosntantia Glen Five, de grande qualidade, apetecíveis, complexos e saborosos. Muito diferente e quiçá mais próximo da tal identidade que tanto aprecio na maior parte dos vinhos de Portugal, sobretudo do Dão e Bairrada. Fiquei fã!

Alguns factos curiosos:
- Vasco da Gama e Bartolomeu Dias foram os primeiros a chegar à África do Sul e a Cape  Town, na rota a caminho da Índia.
- Mais de 70% da produção de vinho da África do Sul é destinada à exportação.
- A partir das 17h locais não se pode adquirir mais vinho, a não ser em estabelecimentos comerciais e para consumo nesses espaços. O mesmo aos Domingos e feriados - No Álcool! A excepção é uma garrafeira em Waterfront Park, em Cape Town que pode vender as garrafas de vinho aos Domingos, pois o local é eminentemente turístico...

Voltei a Cape Town por mais duas vezes, onde visitei Stellenbosch e outras regiões e produtores que merecem a pena mencionar. Mas ficará para breve o retrato dessas experiências.
Sérgio Lopes 

             

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Fora do Baralho: Conceito Bastardo 2014


16/20.

Sim. Bastardo é um tipo de uva, que caiu em desuso talvez por ser uma casta pouco fértil, com maturação muito preococe e fabricar vinhos de coloração pouco intensa. Talvez. Just guessing. Pois Rita Ferreira Marques tem aqui o seu conceito de um 100% Bastardo como homenagem à presença da casta na região, nomeadamente em vinhas velhas.

A cor revelada é a de um vermelho muito pálido. À primeira vista até parece a cor mais característica para um Rosé... Mas não é um Rosé. O aroma denota uma mistura de cereja madura e especiarias (pimenta branca) com leve vegetal. Boca com acidez no ponto, com aquela profundidade característica da Rita, bom volume, taninos sedosos e final longo e seco, o que lhe confere aptidão gastronómica.

Deveras singular, ou realmente atrai pela sua originalidade, ou então não se gosta mesmo. Eu sou do grupo dos que gostam realmente. Pois é diferente.


Sérgio Lopes

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Opinião: Defeitos nos vinhos : Oxidação | Redução

Penso que o mais difícil, por vezes, na prova de vinhos, para simples apaixonados da matéria como eu, mas na realidade amadores, é descobrir os defeitos dos vinhos. Principalmente aqueles mais difíceis e mais escondidos, por ventura menos comuns. Há no entanto dois fenómenos que podem ocorrer e serem identificativos de defeitos nos vinhos provados. Falo da Oxidação e da Redução, cujas definições retiradas do site da sogrape, podem ser lidas abaixo:

OxidaçãoTransformação de um vinho pelo contacto com o oxigénio, o que se traduz por uma modificação da sua cor. Indesejável nos vinhos de mesa novos, pode ocorrer nos vinhos velhos por defeito de rolha ou mau acondicionamento. Nalguns casos a oxidação é indispensável, caso do Vinho do Porto, conferindo-lhe aromas característicos.
Vinho OxidadoVinho deteriorado pela presença do ar; que perdeu frescura e aromas.
ReduçãoProcesso de estágio em garrafa em que o vinho consome só o oxigénio contido no recipiente e amadurece lentamente, sem ar.
Vinho ReduzidoAroma a couro, que recorda certos odores animais (caça, pele), que pode aparecer em vinhos que permaneceram muito tempo em garrafa.

Isto a propósito de um vinho provado recentemente do ano de 2005 onde estava nitidamente presente o fenómeno da Redução e que me levou a abordar este tema.

Para finalizar, partilho o excelente artigo do blogue "Janela de Cheiros" no link abaixo sobre os defeitos dos vinhos. Extremamente bem escrito de fácil leitura e com ilustrações que ajudam qualquer interessado na matéria a perceber melhor os fenómenos descritos e até identificá-los mais facilmente.

http://janeladecheiros.blogspot.pt/2011/10/defeitos-do-vinho-oxidacao-e-reducao.html


Sérgio Lopes



quarta-feira, 24 de agosto de 2016

10 vinhos brancos a menos de 5€, para o Verão (que ainda não terminou)

Em semana de calor apertado, um pouco por todo o país, é ainda tempo de beber uns vinhos brancos para refrescar. Na verdade, cada vez bebo mais brancos e me dão muito prazer. Mas o Verão que ainda não terminou é propicio a consumir mais brancos do que tintos,, época de excelência para bebidas leves, frescas e frutadas. 

Assim, aqui fica uma lista possível de 10 brancos frescos, a preços cordatos, fáceis de encontrar, para apreciar. Podiam ser outros, mas escolhi estes, porque gosto!


Eis os eleitos:


Pequenos Rebentos Alvarinho / Trajadura 2015 (Márcio Lopes- Verdes) - PVP 3,99€
Marquês de Borba 2015 (João Portugal Ramos - Alentejo) - PVP 4,99€
Tons de Duorum 2015 (João Portugal ramos - Douro) - PVP 4€
Maias Branco 2014 (Quinta das Maias - Dão) - PVP 4,99€
Planalto Reserva Douro 2015 (Sogrape - Douro) - PVP: 4,5€
Quinta das Bageiras 2015 (Mário Sérgio Alves Nuno - Bairrada) - PVP 3,99€
Muros Antigos 2015 (Anselmo Mendes- Verdes) - PVP: 4,99€
Murta 2015 (Quinta da Murta - Lisboa) - 4,99€
BSE 2015 (José Maria da Fonseca - Setúbal) - 3,50€
Alvarinho Pouco Comum 2015 (Quinta da Lixa - Verdes) - 4,5€

Extra RQP:

Torre de Mengaem 2015 (Quintas de Melgaço - Verdes) - 3€
Adega de Pegões Colheita Seleccioinada (Adega de Pegões - Setúbal) - 3€


Enjoy...!

Sérgio Lopes

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Caminha Wine Party

No próximo dia 27 de agosto, sábado, das 18 às 23 horas, o jardim do Design & Wine Hotel, em Caminha, vai receber a primeira edição do Caminha Wine Party, festa vínica organizada pela revista Paixão pelo Vinho. O evento vai reunir produtores de vinhos e muitas propostas, portuguesas e algumas estrangeiras. Serão várias as regiões representadas, com destaque para Vinho Verde, Douro, Dão, Bairrada e Alentejo, por exemplo. No decorrer do evento serão realizadas, no anfiteatro do Design & Wine Hotel, provas especiais e workshops temáticos, de acesso livre e que prometem ser experiências sensoriais únicas. A entrada na Caminha Wine Party tem um custo de 5 Euros, com oferta de copo de prova. As atividades paralelas, provas especiais, masterclass e workshops têm acesso livre e gratuito.

Mais info em : https://www.facebook.com/events/514602675402162/

In Press release

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Opinião: Para onde vai a Baga?

O país vinícola tem vindo a apresentar muitas e grandes transformações. Uma região que, num passado recente, perdeu algum do seu brilhantismo mas atualmente está a recuperar, encontrando-se em franco desenvolvimento e transformação é, sem dúvida, a Bairrada. No fulcro desta recuperação podemos encontrar múltiplos fatores: novas formas de vinificação das diferentes castas, introdução de novos produtores que apostam na qualidade dos vinhos, conjugação de sinergias (“Baga Friends” e movimento espumante Baga Bairrada), etc. Nos últimos anos têm vindo a instituir-se na Bairrada novos produtores que, juntamente com os já estabelecidos, têm estimulado um novo fôlego a esta região. Alguns têm apostando em castas menos usadas, outros na já conhecida, e há muito usada, Baga. No entanto, a Bairrada está longe de se cingir apenas a uma casta ou a um “blend” particular de castas, mas não será menos verdade que a Baga é a casta rainha desta região.


As mudanças que se vão operando estão mais ligadas às técnicas usadas na adega do que na vinha. Em traços gerais, temos de um lado os produtores “clássicos” e os produtores “modernos” da Baga. No entanto, a distinção, na maioria das vezes, não é clara. Há alguns produtores que têm no seu portefólio referências que podem encaixar nas duas tendências. Os primeiros apostam na extração, no menor ou maior uso de engaço no mosto, originando um vinho mais rústico com taninos muito duros que necessitam de 15 ou 20 anos de estágio em garrafa para que sejam domados antes de se atingirem o apogeu. Os segundos arriscam em macerações mais curtas, temperaturas controladas e fermentações em cubas de aço inoxidável ou em madeira nova. Esta forma de trabalho ocasiona vinhos prontos ou quase prontos a beber no ano em que são lançados no mercado.

Com o passar dos anos têm aumentado as referências de grande qualidade provenientes da casta Baga que, surpreendentemente, estão prontas ou quase prontas a beber. Os exemplos mais expressivos dessa mudança são os vinhos Nossa e Poeirinho produzidos por Filipa PatoDirk Niepoort, respetivamente. Outros produtores há que, muito embora tenham vinhos com um perfil mais "tradicionalista", já lançaram no mercado referências de contorno mais “moderno”, são exemplos disso as últimas referências do Avô Fausto e Vinha Barrosa produzidos pela Quinta das Bágeiras e Luís Pato, respetivamente.

No último ano tenho provado algumas amostras de cuba e de barrica que apontam claramente nesta direção. Esperemos calmamente pelo desenrolar das tendências oriundas da Bairrada.

Paulo Pimenta (Wine & Stuff)

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Em Prova: Monte da Ravasqueira Branco e Tinto

O produtor Monte da Ravasqueira localiza-se em Arraiolos, no Alentejo. Não há muito tempo efectuou um rebranding de todo o seu portfolio, apostando igualmente numa linha de maior consistência e num marketing mais agressivo, com vista a desenvolver o seu negócio quer nacional, quer internacionalmente. O enólogo Pedro Pereira Gonçalves encetou uma verdadeira revolução e os resultados estão à vista, com a criação de novas referências e a qualidade e consistência do projeto, ano após ano. 


Os Montes da Ravasqueira Tinto, Branco e Rosé podem ser encontrados nas grandes superfícies, na casa dos 5€ e são sempre valores seguros.
Monte da Ravasqueira Branco 2015 Viognier (30%), Alvarinho (30%), Semillon (25%) e Arinto (15%), com passagem apenas por inox e ligeira battonage, durante alguns meses. Mistura de duas castas portuguesas com duas castas estrangeiras. Cor brilhante esverdeada. Nariz complexo e fino, com uma mistura de frutas (pêssego, lichias, lima) e também flores. Grande frescura e mineralidade no primeiro impacto aromático. A boca confirma a mineralidade e frescuras sentidas no nariz. Bom volume de boca, terminando de agradável persistência. Um branco mais internacional, com alguma elegância de conjunto, mas sobretudo uma frescura e mineralidade bem patentes


Monte da Ravasqueira Tinto 2014. Syrah, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Aragonez, Trincadeira, Touriga Franca e Petit Verdot. Cerca de 40% do lote estagiou durante 6 meses em barricas de Carvalho Francês. Cor rubi, apresenta um aroma a fruto madura, alguma especiaria, leve fumado. Na boca, taninos suaves, frescura, bom volume. Final de bom comprimento. Um tinto do Alentejo muito bem conseguido e consensual com complexidade qb.

Por vezes encontram-se estes vinhos nas grandes superfícies comerciais a bom preço, com um desconto generoso. Quando é assim, é para comprar às caixas!

Sérgio Lopes

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Em Prova: Portal do Fidalgo Alvarinho 2015


16/20. A Provam - Produtores de Vinhos Alvarinho de Monção, é uma sociedade por quotas, constituída por um grupo de viticultores da Sub-Região de Monção, que construíram em 1992 uma adega moderna e funcional para a produção de vinhos e espumantes da casta Alvarinho e de Alvarinho/Trajadura.

Portal do Fidalgo, é produzido unicamente 100% da casta alvarinho. Trata-se de um vinho de cor citrina e aspecto límpido. No nariz, notas limonadas e citrinas, mineral e fresco. Na boca, confirma-se os aromas experimentados no nariz. Tem corpo, é envolvente, crocante, bela acidez e final bem longo e refrescante.

Dos primeiros alvarinhos que provei juntamente com o Reguengo de Melgaço e que me "abriu" caminho para esta mui nobre casta. Um vinho que representa bem a tipicidade da casta. Disponível em supermercados e hipermercados. Recomendado! PVP: 7€.

Sérgio Lopes

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Radar do Vinho: Folias de Baco (Olho no Pé)

Agricultor, viticultor, enólogo, produtor de vinhos e comercial. Autêntico one man show, Tiago Sampaio é o responsável pela criação da marca Folias de Baco. É em terras durienses, às cavalitas do seu avô, que tem o seu primeiro contacto com a agricultura e com o mundo dos vinhos. É nesse entorno que Tiago Sampaio aprende a conhecer um ofício que nasceu na pura curiosidade e brincadeira para se tornar, atualmente, no seu espaço de trabalho e investigação. 

As vinhas encontram-se localizadas em terra agreste, dura, desafiante, no concelho de Alijó, alto Douro vinhateiro, divididas entre as mais antigas, vinhas velhas herdadas dos tempos dos seus avós, e as mais recentes, plantadas pela mão de Tiago Sampaio, como é o caso da casta Pinot Noir pouco dada a climas mais quentes, mas com a qual se apaixonou durante a sua especialização nos Estados Unidos, dando desde o início do projeto, o mote a um dos tintos da marca.

Os solos pedregosos derivam de xisto e granito e as encostas suavizadas pela altitude, entre os 500 e os 700 metros, conferem às vinhas características singulares. As temperaturas extremas do Verão são amenizadas, permitindo um amadurecimento mais lento das uvas e transmitindo aos vinhos um bom equilíbrio de açúcares, acidez e frescura aromática. 

Do portfolio constam as marcas Olho no Pé e mais recentemente, a gama Uivo que pretende mostrar a expressão do enólogo / produtor com castas e estilos que aprecia e pretende apresentar, num lado mais pessoal. Quase de autor.



Tiago é de uma humildade e simpatia desconcertantes. E foi neste ambiente de pura partilha que tivemos oportunidade de provar as suas mais recentes colheitas. A prova decorreu no taberna Folias de Baco, no Porto, um wine bar e petisqueira, o sonho de Tiago, tornado realidade. Ali podem-se degustar petiscos deliciosos, acompanhados claro está por vinhos da marca...


Gama Olho no Pé:
- Moscatel Galego 2015 - A expressão da casta sem doçura exacerbada, num branco seco e muito fresco. PVP 6,50€
- Rosé de Pinot Noir 2015- Elegante, delicado, floral, mas sobretudo de uma enorme sobriedade e frescura. Delicioso. PVP 6,50€
- Branco de Vinhas Velhas Reserva 2013 - Um branco gastronómico, que passa por madeira, untuoso e com notas belissimas de evolução. Para quem gostar deste tipo de vinhos. Eu gosto muito. PVP 8,50€
- Tinto de Vinhas Velhas Reserva 2011 - Tinto das vinhas mais velhas da propriedade. Do ano vintage de 2011. Para se comprar às caixas! PVP: 9,90€
- Tinto Pinot Noir Reserva 2013 -  22 meses de barrica, mas sem se sentir em demasia. Fruto maduro. Elegância mais uma vez. belo vinho! PVP: 16,50€

Gama Uivo
- Uivo Alvarinho 2015 - Um branco frutado e muito agradável. Acidez delicada. Vai ser um best seller. Fora do baralho para o Douro. 7,90€
- Uivo Rabigato 2015 - Mineralidade acima de tudo. Uma das caracteristicas que o rabigato pode conferir a um branco. E é o que mais transparece. Top. 7,90€
- Uivo renegado - Um tinto feito à moda antiga, ou seja, mistura de uvas tintas e uvas brancas. Muito viciante e "fácil", sem deixar de ter a sua identidade e complexidade. Muito bem! 7,90€

Finalizamos a prova com dois colheita tardia, o Olho no Pé 2012 e o Uivo LH+ 2011, este último, uma autêntica explosão na boca de doçura com uma acidez interminável! Completamente à parte!

Em conclusão, são vinhos com a identidade de Tiago Sampaio - frescos, elegantes, sedutores, sem perder uma certa rusticidade da região. E estão escandalosamente posicionados num segmento de preço claramente abaixo daquilo que valem. Valem muito mais, pelo menos em comparação com muito do que se vê por aí.... Mas continue assim, que nós vamos comprando às caixas! E vamos nos deliciando.

Sérgio Lopes

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Da minha cave: Myrtus Reserva Arinto 2008

17/20

"Isto é tão bom Hugo Mendes..!", foi o que eu exclamei baixinho, várias vezes, sozinho, enquanto degustava copo após copo este magnífico exemplar da casta Arinto, com uns singelos 8 aninhos de idade. 

Myrtus é o nome inspirado na denominação científica da planta que dá nome à casa que o produz, a Quinta da Murta, cujo carismático enólogo Hugo Mendes,é a face mais visível do projecto. Aliás, quase que se confundem um com outro, não é?

Hugo Mendes, parte integrante da criação deste vinho, desafiador, na medida em que se trata de um branco pensado para envelhecer bem, e a melhorar com o passar do tempo. Feito em Bucelas, 100% Arinto, como não podia deixar de ser, estagiou durante três meses com “Batonage” em barricas novas de carvalho francês. Só existe uma colheita, esta mesma provada, a de 2008.

No copo, apresenta uma belíssima cor dourada, a mostrar boa evolução que se confirma nos aromas inebriantes sentidos quando se chega o copo ao nariz. Arinto, com notas citricas de laranja confitada, algum caramelo, fruta caramelizada, enfim deliciosamente complexo . Alguma especiaria da madeira a dar-lhe ainda mais profundidade. Na boca mostra-se untuoso, fresco e com um final muito muito longo. Pode ombrear com diversos pratos, mas não foi o caso.

Foi provado (bebido e degustado) a solo, num fim de noite marcado por temperaturas altas abismais e com o céu coberto de fumo dos horríveis incêndios que se fizeram sentir. Foi um verdadeiro deleite para os sentidos. Pena não haver mais...! Provavelmente está no seu auge, mas apenas Hugo Mendes o poderá comprovar.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Em Prova: Aliança Baga Bairrada Espumante Reserva Rosé Bruto 2014

Sem hesitações, diria que os espumantes Baga jovens são os vinhos perfeitos para o Verão, pois, não há outra casta que confira tanta frescura e energia. Na senda do pioneirismo que lhe é habitual, as Caves Aliança lançaram, em boa hora, o primeiro espumante Rosé que ostenta a logomarca BAGA BAIRRADA.  Derrubando preconceitos - "o ROSÉ é bebida para meninas",  Francisco Antunes criou um espumante que tem todos os predicados para ser um sucesso de vendas. 

Cromaticamente carregado, este Rosé preserva os aromas do terroir bairradino, não hesitando na complexidade aromática e de sabores. Mas é na boca que este espumante ganha todo o seu esplendor. Enérgico, fresco, este Baga Bairrada é um fogo de artifício que nos explode na boca e nos preenche com uma cremosidade intensa. 

É, a partir de hoje, o meu espumante Rosé de eleição.

Miguel Ferreira (A Lei do Vinho)

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Em Prova: Quinta do Piloto Reserva Tinto 2013

16,5/20. O Quinta do Piloto Reserva Tinto é um vinho elaborado a partir de uvas produzidas numa pequena vinha velha situada no Monte da nossa Herdade de Agualva. A casta predominante desta vinha é a Castelão, misturada com outras castas. As vinhas velhas e o castelão imprimem a este vinho enorme complexidade. Com 12 meses de estágio em barricas de carvalho francês, seguido de 12 meses de garrafa, trata-se de um digno exemplar do que um Castelão profundo e complexo pode apresentar, na sua região de eleição - a peninsula de Setubal. Perfil maduro, com enorme profundidade aromática. Fruta, especiaria, boca potente, mas ao mesmo tempo elegante. Seco, mesclado entre um toque de rusticidade, mas amplamente apelativo. Gastronómico e com potencial de evolução. Muito bem! PVP: 15,95€. Disponibilidade: Garrafeiras Seleccionadas.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Em Prova: Quinta do Piloto Reserva Branco 2014

15,5/20. Vinho branco proveniente de uma vinha pequena, com uvas seleccionadas das castas Antão Vaz, Arinto e Roupeiro. Fermenta em barricas de carvalho francês, sofrendo posterior estágio por 6 meses, sob batonnage. Trata-se de um vinho de cor amarelo palha, fruto da passagem por madeira. O nariz é fresco e com notas de fruta madura, com um lado citrino em evidência. A boca tem volume , focado na fruta, aparecendo as notas de fruto seco suave. À semelhança do branco de moscatel roxo, termina com uma sensação de doçura que pode ser "perigosa" não o bebendo à temperatura certa. Um vinho que não será consensual, mas que volto a referir agradará a quem gostar de um perfil mais maduro e adocicado num vinho branco. PVP: 15,95€. Disponibilidade: Garrafeiras Seleccionadas.

Sérgio Lopes

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Em Prova: Piloto Collection Touriga Nacional 2014

15,5/20. Piloto Collection trata-se de uma edição limitada das melhores uvas, seleccionadas dos mais de 200 hectares da propriedade. Para além do Branco de Moscatel Roxo, existem também o Collection Cabernet Sauvignon e o Collection Touriga Nacional. Este último tivemos oportunidade de provar. Trata-se de um vinho tinto de perfil mais maduro. Nariz com notas de violeta, algum abaunilhado da madeira. Boca densa, a mostrar um Touriga a pedir comida, num tinto gastronómico e bem consguido. PVP: 8,95€; Disponibilidade: Garrafeiras Seleccionadas.

Sérgio Lopes

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Fora do Baralho: Piloto Collection Roxo 2015

16/20. A Quinta do Piloto é uma das mais antigas adegas de Palmela, propriedade da família Cardoso há quatro gerações. Há um século que a família Cardoso está ligada aos vinhos de Palmela, chegando a ser o segundo maior produtor da região, com 500 hectares de vinhas, produzindo e vinificando para conhecidas marcas da região. 

Com o lançamento da marca própria em 2012 - Quinta do Piloto – a família Cardoso realizou o sonho antigo de divulgar o melhor das suas herdades e adegas, integrado num projeto mais vasto de recuperação da adega histórica e a criação de uma loja de vinhos. 

Situada em Palmela, o primeiro vinho lançado trata-se de um branco da uva tinta Moscatel Roxo, do qual provamos a última colheita. Trata-se de um branco de uva tinta, feito de uvas provenientes de uma pequena vinha propriedade da familia, há muitos anos, com aroma exuberante à casta, muito floral e com alguma lichia. Boca exótica e com bom volume. Elegante, mineral, termina de bom comprimento, mas com sensação doce, compensado por uma boa acidez. 

A título pessoal, é claramente fora do baralho - sim, mas apresenta uma certa sensação de doçura (o produtor afirma ter muitissimo pouco açúcar residual) que há que ter cuidado com a temperatura para não se tornar enjoativo. Ou seja pessoalmente, foge um pouco do registo de vinhos que mais gostamos. Mas claramente trata-se de um best seller, um vinho de carácter internacional e que fará as delicias de muitos. Diferente. PVP: 8,95€.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Da minha cave: Quinta da Ponte Pedrinha Branco 2006

14,5/20.

Se há uma região que me orgulho de dizer que dificilmente apresenta vinhos maus, é a região do Dão. Tintos e brancos. Com idade. Aliás, até melhoram, com alguns anos em cima... Ainda se encontra na memória uma magnifica prova de brancos com largas dezenas de anos, ocorrida no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, em Nelas, simplesmente do outro mundo.

Assim, comprei duas garrafas de Quinta da Ponte Pedrinha branco 2006 num leilão. esperando uma boa surpresa. O produtor apresenta vinhos simpáticos com uma excelente relação qualidade-preço, mas nunca tinha provado vinhos mais antigos desse produtor.

O resultado não foi muito satisfatório. O vinho apresentava sinais de cansaço, com notas de fruta cozida e não se mostrou muito agradável. Estava estragado? Não. mas já tinha passado o seu melhor momento. Terá sido da garrafa? tenho mais uma para comprovar, mas parece-me que 10 anos para este branco, poderá ser um bocado a mais. O que é pena.

Sérgio Lopes

domingo, 7 de agosto de 2016

Bairrada: vinhos da região eleitos para representar Portugal nos Jogos Olímpicos Rio 2016




Começados os Jogos Olímpicos Rio 2016, evento que se prolonga até dia 21 e que vai contar com uma entusiasta comitiva portuguesa. Na bagagem, o Comité Olímpico de Portugal (COP) leva uma mostra do que de melhor o nosso país tem para oferecer: bons vinhos! A Bairrada foi a região eleita para fazer representar e promover os néctares de Portugal além fronteiras.

Espumante, branco e tinto: são três os vinhos que envergam a marca ‘Comité Olímpico de Portugal Bairrada’ e vão estar à prova nos momentos gastronómicos e de celebração da Missão Portuguesa nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Em Portugal estão à venda nos dois espaços da Rota da Bairrada – na Cúria e em Oliveira do Bairro – e na loja on-line. Oito, cinco e seis euros são os preços de cada garrafa. O pack dos três vinhos, todos eles de lote e, por isso, compostos por mais do que uma casta, pode ser adquirido por €16,00. 

O ‘Comité Olímpico Bairrada Grand Cuvée Bruto 2012’ (PVP = €8,00); ‘Comité Olímpico Bairrada branco 2015’ (€5,00), ‘Comité Olímpico Bairrada tinto 2011’ (€6,00), 

Sérgio Lopes (in press release)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Em Prova: Espumante Murganheira Super Reserva Bruto 2009

16,5/20. Este espumante e a marca Murganheira não necessitam de grandes apresentações. São sinónimo de qualidade e consistência, ano após ano. Este Murganheira Super Reserva Bruto 2009, produzido na região de Távora Varosa é composto pelas uvas das castas Malvasia Fina, Cerceal e Tinta Roriz. Estágio de 4 anos nas caves após a 2ª fermentação. Tem tudo o que um bom espumante deve ter: Bolha fina e presente; notas abaunilhadas e sabor delicado e muita frescura. Equilibrado e prazenteiro. PVP: 9,99€; Disponibilidade: Grandes Superfícies.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Em Prova: Primavera Espumante Baga Bairrada Extra Bruto 2014


16/ 20. O projecto Baga Bairrada junta um conjunto de produtores com base na criação de um espumante da casta rainha da Bairrada, a Baga, e que tenham um perfil muito próximo entre si, pretendendo assim conquistar os consumidores e consolidar a marca Baga Bairrada. De entre o grupo, naturalmente que uns estão mais avançados do que outros e na minha opinião este exemplar Primavera Espumante Baga Bairrada Extra Bruto 2014 (a par do São Domingos) está muito bem conseguido. Trata-se de um espumante de cor pérola, bolha bem desenhada e abundante e com uma bela acidez. Fresco, gastronómico e com complexidade qb, tanto brilha a solo como para acompanhar refeições, devido ao seu pendor gastronómico. Muito bem! PVP:8€. Disponibilidade: Garrafeiras Seleccionadas.

Sérgio Lopes

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Opinião: Aprendendo e Partilhando - O Vale do Rio Ródano




Aproveitando duas crónicas antigas sobre esta região resolvi aqui fazer uma só, dado o espaço generosamente oferecido pelo nosso amigo Sérgio. 

Há uns anos atrás tive a rara oportunidade de participar numa apresentação de vinhos da região de Côtes du Rhône que decorreu na Quinta de Nápoles, navio almirante da casa Niepoort e organizado por este incansável e apaixonado do vinho chamado Dirk van der Niepoort, que aproveitou e muito bem para, mais uma vez, promover o grupo de produtores autodenominado de Douro Boys (isto apesar de alguns terem idade para serem meus pais… ou quase!) que produzem dos melhores vinhos que se fazem na região ano após ano.

Mas esta crónica não é para aclamar este grupo que bem o merece, mas sim para falar de uma região quase desconhecida dos portugueses, mas que foi o berço de duas das mais aclamadas castas a nível mundial, a Viognier nos vinhos brancos e a muito mais elogiada e conhecida Syrah (muitas vezes escrita Shiraz) nos vinhos tintos. 

A Viognier é uma casta que origina vinhos encorpados e que aceita bem o estágio em barricas de carvalho, apesar de o não exigir, com uma propensão elevada para ter um teor alcoólico elevado, não é fácil encontrar vinhos desta casta com menos de 13% de vol. de álcool e que tem a particularidade de ser muito sensível na fase final da maturação, dado que com facilidade perde os sabores característicos a fruta (alperce, pera, flores…) e se a uva for colhida demasiado cedo pode perder esses mesmos aromas, se for colhida demasiado tarde perde a acidez e dará origem a vinhos desinteressantes! A região onde melhor esta casta se expressa é uma pequena área na zona norte da região chamada Condrieu onde apenas se produzem vinhos brancos. Analogamente existe também uma pequena região nessa zona que só produz tintos com a casta Syrah e se designa Côte-rôtie, mesmo se por vezes apresentem uma pequena quantidade de Viognier, sendo estes provavelmente os vinhos mais caros da região, com valores a superar com facilidade a centena de euros.

Quero antes de mais, falar de algo que durante a prova me deixou chocado dada a estonteante semelhança apresentada com os vinhos verdes tintos e a custarem acima dos quarenta euros! É verdade que essa característica só se mantém enquanto jovens, mas ainda assim fiquei estupefacto! Nunca me passaria pela cabeça que estes vinhos pudessem ser tão difíceis enquanto novos. Apresentam uma acidez impressionante, com taninos muito evidentes e adstringentes, deixando-nos a boca a saber a papel de música, como se costuma dizer quando ela fica seca. Paradoxalmente, depois de termos acabado de beber…

Nesta apresentação, um produtor, consciente dessa característica apresentou uma série de vinhos de diferentes anos que nos permitiu fazer uma prova vertical verdadeiramente educativa ainda que não entusiasmante. Ele sabe que o marketing ajuda, mas tem uma clara noção de como os vinhos dele evoluem e não se coíbe, mesmo gastando algumas centenas de euros de o mostrar. Não é por acaso que os franceses, mesmo não tendo os vinhos mais entusiasmantes do planeta são claramente os melhores vendedores acrescentando-lhe uma auréola de exclusividade difícil de resistir… é que não deixa de ser notável que sendo a casta Syrah uma casta tão fácil de apresentar de uma forma harmoniosa e de gosto consensual eles não sigam esse caminho, porventura por saberem que esse campeonato estaria perdido à partida para a Austrália, Estados Unidos ou Chile.

Mas debrucemo-nos um pouco sobre esta velha região, Côtes du Rhône, de vinhos essencialmente tintos. 

De uma forma um pouco simplista devemos começar por separar a região em duas, a zona norte (ou septentrionale como os franceses lhe chamam), mais montanhosa, que começa pouco abaixo de Lyon e a zona sul (ou méridionale) onde o rio Rhône se espraia pelas planícies da Provença.

A zona norte produz apenas uns dez por cento do total, mas é aqui que estão os vinhos mais caros da região. Aqui temos uma política de quase casta única. De facto nesta região a Syrah (ou Shiraz como os anglófonos gostam de dizer) reina de uma forma absoluta e os tintos ou são 100% da casta ou têm uma pequena percentagem de uma casta branca, a Viognier. Algo estranho, mas não tão incomum assim, até por terras portuguesas num passado não muito remoto. Mas ficarão por certo surpreendidos se vos disser que o objetivo é o de fixar a cor e não, como inicialmente pensei, o de amaciar um pouco o vinho dado o caráter untuoso da Viognier. Nas brancas a Viognier é usada a solo em Condrieu mas junta-se à Marsanne e à Roussanne quando descemos um pouco em direção ao sul. As duas outras regiões muito famosas desta zona norte, produzindo apenas vinho tinto, são Côte-Rôtie e Hermitage, onde um hectare de vinha pode vale qualquer coisa como um milhão de euros. Coisa pouca não andassem os euros tão arredios…

Já falamos um pouco do carácter dos vinhos da região norte e por isso vou agora concentrar-me na zona sul, onde são produzidos a grande maioria dos vinhos desta zona. A primeira vez que me lembro de ter bebido um vinho desta zona veio quase de certeza desta sub-região e lembro-me que me foi particularmente agradável pois apesar de ser muito jovem na altura, memorizei para sempre o nome da região. Teria provavelmente 20 anos e bebi-o na casa de uns simpáticos emigrantes portugueses em Saint-Etiénne, onde era consumido diariamente. Mais tarde percebi o porquê da escolha. Bom preço e muito provavelmente com os tintos mais parecidos com os vinhos portugueses.

Nesta região o número de castas passíveis de serem utilizadas é muito maior que o permitido nas mais reputadas regiões francesas, com destaque nas tintas para a Grenache Noir, Syrah, Mourvèdre, Terret Noir, Carignan e Cinsault e nas brancas para a Grenache Blanc, Clairette Blanche, Marsanne, Roussanne, Bourboulenc e Viognier. Assim, não é de estranhar que existam uma grande variedade de estilos na região e inclusive um dos mais famosos rosés de França, produzido numa pequena sub-região chamada Tavel. De todas as sub-regiões, e são bastantes, a mais famosa é sem sombra de dúvidas Châteauneuf-du-Pape, não só por ter sido aqui que o Papa dissidente assentou arraiais, mas porque sistematicamente alguns destes vinhos são classificados pelas melhores revistas mundiais com pontuações acima dos 96 pontos em 100 possíveis. Nos últimos tempos tenho consolidado a ideia de ser aqui que se produzem os meus vinhos preferidos da região, sejam eles tintos sejam brancos, que ao contrário dos que são feitos exclusivamente com Viognier, têm uma capacidade impressionante de evolução em garrafa originando vinhos que me deixam absolutamente extasiado. A Grenache ocupa já mais de 40% dos vinhedos em Châteauneuf-du-Pape e não é de admirar pois que seja ela que está por detrás de quase todos os vinhos tintos desta região dando, no entanto, origem a vinhos muito diferentes entre si. De vinhos leves e aromáticos a vinhos encorpados e fechados, de tudo é possível encontrar, talvez por a legislação nesta zona ser muito pouco apertada e permitirem grandes produções por hectare.

Já agora, se quiserem provar bons vinhos desta última casta, bastará ir ao norte de Espanha, de preferência ao Priorat se o bolso assim o permitir, e provar os vinhos feitos de Garnacha Tinta.

Hildérico Coutinho (Escanção / Sommelier)

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Em Prova: Quinta do Carmo Branco 2015

15/20. Produzido pela Bacalhoa o Quinta do Carmo Branco 2015 é um vinho branco do Alentejo, feito de Roupeiro (50%), Antão Vaz (30%), e Arinto (20%). Trata-se de um vinho bem feito, com boa acidez, notas leves de fruta tropical, misturado com algum citrino, num conjunto equilibrado e de média complexidade. Sem defeitos, mas também sem grandes virtudes que justifiquem o seu preço algo desajustado, pelo menos na minha opinião. PVP: 7,90€; Disponibilidade: Grandes Superfícies.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Arena de Baco: 13 à Sexta (14 por sinal)


13 à sexta, porque seriam 13 pessoas a provar vinhos na passada 6ª feira. Fomos 14, mas fica o nome pois faz sentido e até para se repetir esta magnífica experiência, mais vezes, por sinal. O evento foi promovido por amantes do vinho e alguns enólogos do setor o que o tornou ainda mais divertido e sobretudo muito didático, sempre num ambiente totalmente descontraído, como se pretende. O local de degustação vínica e também de grandes iguarias italianas foi a casa do, quiçá, italiano mais português do mundo dos vinhos, o Marco Giorgetti. Marco e sua esposa prepararam um autêntico manjar de iguarias italianas que foram sendo acompanhadas por vinhos brancos, espumantes e tintos. No final tivemos o ENORME privilégio de provar 3 vinhos italianos de outra galáxia. Bravo! 

A foto acima ilustra a quantidade de vinhos provados e também a enorme qualidade, sobretudo nos brancos. Todos os vinhos provados às cegas... Eu diria que os espumantes, que foram apenas 3, serviram de entrada, seguiu-se a maratona dos brancos em grande forma e terminamos com os tintos que infelizmente na sua maioria já tinham passado o seu momento, pois eram bastante antigos, embora prometedores. Uma pena. Mas já sabemos que num vinho antigo, cada garrafa é... uma garrafa. Pode daí advir boas ou más surpresas. É essa também a piada e o gozo de os provar. 

Aqui ficam as fotos de alguns dos vinhos que mais impressionaram em prova:



Destaques Brancos:
- Permitido de Márcio Lopes, um branco de altitude, da Meda, com mineralidade e frescura brutais. Muito delicado e com um potencial de envelhecimento bastante elevado. Delicioso.
- Muros de Melgaço Loureiro 2005, um branco da região dos vinhos verdes deliciosamente evoluído, com uma estrutura fabulosa e notas de mel, passas, frutos secos, tudo num registo de enorme frescura. O Loureiro a envelhecer muito bem!
- Anselmo Mendes Curtimenta, Tempo, Parcela Única e Expressões. O que dizer novamente destes grandes brancos feitos pelo Constantino Ramos? Cada um muitíssimo bom, dentro do seu estilo.
- Portal da Azenha Grande reserva 2013, um branco Duriense que agradou bastante de uma forma geral. Um perfil mais maduro, com madeira, muito gastronómico.
- Quinta das Bageiras Garrafeira 2014, um vinho de Mário Sérgio que não gerou consensos. Houve quem adorasse e houve quem achasse o garrafeira branco do produtor mais "estranho" e fora do perfil habitual. Eu que sou um grande fã do seu trabalho, não fiquei deslumbrado com este vinho...

Destaques Tintos:
- O mau estado de quase todos os tintos provados, já fora de prazo. Infelizmente, foi azar...Ainda assim destacaria:
- Quinta de Pancas Cabernet Sauvignon 97, em grande forma para quem gostar do estilo.
- Adega de Borba Reserva 92, ainda vivo, o que é deveras surpreendente!
- Sarmassa 2010, um Barolo, claramente o vinho vencedor (também o mais jovem dos tintos em prova cega).

Para o final estavam reservados, pelo anfitrião (na foto abaixo querendo anonimato :-)), 3 vinhos italianos... Mas não foram 3 vinhos quaisquer. Foram 3 grandes vinhos! 


2005 La Spinetta Vursu Vigneto Campe, o VINHO DA NOITE. Um Barolo que o Marco teve a gentileza de nos dar a provar. Eu diria a honra e privilégio de degustar! Tudo em grande nível: Complexidade, elegância, frescura, boca, enfim... Deixou toda a gente boquiaberta!
- 2006 Tenuta Pianpolvere Barolo Riserva, Barolo também, mas um reserva, num perfil mais tânico e "rude". Outro grande vinho.
2004 La Spinetta Sezzana Sangiovese Toscana. terminando em grande com este magnifico Sangiovese, de novo com uma elegância e complexidades ímpares, para um vinho com mais de 10 anos. Bela casta, que permite fazer igualmente os mundialmente famosos Chianti!

NOTA:
- O Barolo é um vinho produzido no noroeste da Itália, Província de Cuneo, região do Piemonte, com a casta Nebiolo.

Sérgio Lopes