quarta-feira, 24 de julho de 2019

Radar do Vinho: Quinta Seara d'Ordens

A Quinta Seara d’Ordens existe desde finais do século XVIII e está situada no coração do Douro a 9 kms de Peso da Régua. A partir dos anos 60, João Leite Moreira, proprietário da Quinta, iniciou uma forte dinâmica de modernização que viria a ser concluída anos mais tarde pelos seus três filhos: António, José e Fernando. Em 1988, os três irmãos, incentivados pelo seu pai, formaram a Sociedade Agrícola Quinta Seara d’Ordens, abraçando todo o projeto. Quatro anos mais tarde, deram início à comercialização de vinhos com marca própria (1992).

O nome provém do facto do filho do fundador ter sido militar e quando os soldados visitavam a Quinta era para "receber ordens do comandante", daí ter ficado o nome "Quinta Seara D'Ordens". Atualmente, com 60ha de área e uma tradição vitivinícola centenária, são produzidos vinhos Doc Douro sob as marcas Carqueijal (entrada de gama) e Quinta Seara D'Ordens, para além de Vinho do Porto de elevada qualidade e de todos os tipos - Tawnies/Rubys, Reserva, Colheitas, LBV e Vintage, também sob a marca Quinta Seara D'ordens, que vale bem a pena provar. Tivemos a oportunidade de provar à mesa, alguns vinhos Doc Douro, de entre as várias referências da casa, comprovando o perfil clássico duriense patente nos mesmos, mantendo sempre o selo de qualidade.
O Quinta Seara d'Ordens Reserva Branco 2016 (7,5€) feito de Malvasia Fina, Rabigato, Fernão Pires e Viosinho, fermenta em barricas de carvalho francês durante 6 meses. É um branco untuoso qb e bastante equilibrado, mas sem grandes ponto de destaque. Já o Quinta Seara d'Ordens Reserva Tinto 2016 feito de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca apresenta um equilíbrio notável, entre fruta, taninos macios e madeira bem integrada. De corpo médio, boa acidez e um final eminentemente gastronómico, mostra claramente que estamos na presença de um Douro Clássico, que dá muito prazer à mesa. E com um preço fantástico (7,5€).

O Quinta Seara d'Ordens Vinhas Velhas 2015 (22€) é feito das mesmas castas que o reserva mas passa mais tempo em madeira. É um vinho poderoso, de recorte clássico, bastante complexo de aroma, com a fruta vermelha e preta em primeiro plano, especiarias e alguma madeira ainda em integração. Na boca é volumoso, com taninos firmes e final longo. Nunca cai no entanto em sobrematurações, o que é ótimo. A precisar de tempo em garrafa, mas com um elevado potencial de guarda.. 
Recentemente começaram a explorar vinifcar em separado as 3 castas rainhas do Douro - Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, lançando assim vinhos monocastas para o mercado, com produções a rondar as 2000 garrafas por referência, para tentar mostrar o perfil de cada uma e quiçá demonstrar-nos também o que poderão aportar individualmente quando em lote.

O Quinta Seara d'Ordens Touriga Nacional 2017 (18€) é um vinho leve, elegante e que procura mostrar o lado mais puro e floral da casta. É um vinho muito fácil de beber, fresco, de corpo manos volumoso do que se espera de um Douro, mas carregado de sabor. Sem qualquer exagero aromático e com muita frescura.Gostei particularmente deste vinho. O Quinta Seara d'Ordens Tinta Roriz 2016 (18€) está mais próximo do Vinhas Velhas, mas sendo menos opulente e poderoso. Tem contudo a marca duriense da fruta tão característica do terroir e da casta em particular, bem como um lado vinoso muito interessante. Os taninos são firmes mas civillzados e nunca se apresenta sobremaduro. Termina muito fresco e mais uma vez a pedir comida.

Falta ainda falar sobre o topo de gama Quinta Seara d'Ordens TalentVs Grande Escolha 2015, mas isso fiacrá para outro post...

Sérgio Lopes

terça-feira, 23 de julho de 2019

Em Prova: Quinta Vale D'Aldeia Espumante Bruto 2015

O Quinta Vale D'Aldeia Espumante Bruto 2015 é feito de 50% Viosinho e 50% Rabigato, de vinhas plantadas a 550 metros de altitude. Com fermentação efetuada parcialmente em barricas de carvalho francês, estagia sobre borra fina durante 6 meses, com batônnage periódica, ocorrendo a segunda fermentação em garrafa pelo método clássico.

Trata-se de um espumante muito equilibrado, com alguma fruta e biscoito presentes no nariz. Na boca a bolha é fina e com uma mousse agradável. Termina fresco, com boa acidez e com uma leve sensação de doçura que o torna versátil de principio ao fim da refeição, inclusive quiçá acompanhando sobremesas. Um espumante do Douro Superior bastante competente. PVP: 14,50€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes




sábado, 20 de julho de 2019

Em Prova: São João Espumante Bruto Reserva 2016

Depois de muito pensar num espumante para celebrar o batizado do meu filho, acabei por selecionar este bairradino São João Espumante Bruto Reserva 2016. Precisava de um espumante que fosse complexo o suficiente, sem ser em demasia, para poder agradar a enófilos e a bebedores tradicionais, deste tipo de cerimónias. E foi isso mesmo conseguido. Um espumante constituído pelas castas Bical (35%), Chardonnay (20%), Arinto (10%) e Maria Gomes (35%), com 20 meses de estágio em garrafa, sobre borras. O resultado é um espumante muito equilibrado, com um ataque super fresco e alguma complexidade, com ligeira tosta, muita fruta citrina e algum leve floral. Mousse boa, bolha porreira, acidez no ponto, boa estrutura e final super fresco e crocante. Por pouco menos que 6€ estamos na presença de uma extraordinária escolha a um preço de arromba. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Em Prova: 3 Tintos da Quinta Vale D'Aldeia

A Quinta Vale D’Aldeia tem cerca de 200 hectares – sendo 120ha de vinha, 40ha de olival e 10ha de amendoal, na freguesia de Longroiva, na Meda, e a produção atual ronda os 700 a 800 mil litros. O projeto, que tem hoje 21 colaboradores, nasce em 2004 quando os irmãos José e João Amado, apaixonados pela agricultura e com vontade de investirem na sua terra, decidem comprar um hectare de terreno com vinha. A partir daí entusiasmaram-se, foram comprando mais terrenos à volta e investindo na plantação de vinha, olival e amendoal. Em 2009, apostaram na construção de uma moderna adega, com capacidade para cerca de um milhão de litros. O portfolio é vasto e assenta na premissa de vinhos de qualidade, provenientes de um Douro Superior, de vinhas de altitude.

Provamos à mesa 3 vinhos tintos deste produtor (há mais referências) que espelham o perfil do nível de preço e consequente posicionamento de cada um, de forma muito competente. O Infiel 2015 é produzido 100% de Touriga Nacional e trata-se de um vinho muito equilibrado nas componentes fruta - madeira - acidez, de taninos suaves, em harmonia de conjunto. Bastante apelativo e ótimo para o dia-a-dia (6€). O Xaino Selection 2015 produzido com um blend Touriga Nacional - Touriga Franca e com maior passagem por madeira já é mais complexo, com mais corpo, mas mantendo a matriz de equilíbrio, e a frescura, sobretudo sem sobre maturações. Excelente para a mesa e resultando numa boa escolha quando procuramos um vinho a rondar os 10€. 
O grande ex-libris da casa é talvez o Quinta Vale D'Aldeia Grande Reserva Tinto 2014, que recentemente foi agraciado com o prémio Revelação Portugal no Concours Mondial de Bruxelles de 2019, sendo inclusive considerado o melhor vinho português, no conjunto dos vinhos distinguidos com a Grande Medalha de Ouro. Feito de 55% Touriga Franca, 30% Touriga Nacional, 5% Tinta Roriz, 5% Sousão e 5% Tinta Amarela, tem passagem por madeira nova por 18 meses. Trata-se de um vinho de grande potência e complexidade. Os seus 15 graus de alcool obrigam a uma temperatura de serviço acertada e a decantação é obrigatória. Foi um vinho que provado à mesa foi abrindo lentamente e apenas no dia seguinte estava mais equilibrado e a dar tudo o que se esperava dele. Um vinho super complexo, mas que com toda essa potência e algum pendor alcoólico necessita de tempo e algum cuidado, também no pairing certo à mesa. Contudo, não apresenta sobrematuração e tem a elegância e frescura suficientes para se manter equilibrado. Belíssimo vinho para quem aprecia este estilo mais opulento. PVP: 30€. 

Sérgio Lopes

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Em Prova: 1000 Curvas Chardonnay Alvarinho 2016

1000 Curvas é um projeto familiar, localizado em Baião. Nasce da vontade de fazer vinho branco invulgar na região dos vinhos verdes, através da utilização do blend Chardonnay / Alvarinho, em vinhas plantadas a mais de 250 metros de altitude, numa região de transição mesmo na fronteira entre a região demarcada do Douro e a região dos vinhos verdes, rica em solo granítico, aproveitando assim o melhor destes dois mundos: o solo granítico típico da região dos verdes e a influência do rio Douro ali mesmo a 2 km. 

O resultado é um vinho de facto invulgar para a região. No nariz, demorou a abrir, mas quando ocorreu mostrou a sua complexidade, com fruta citrina e de pomar (ameixa) muito bonita, notas vegetais e muita mineralidade. A boca é carregada de mineralidade o que lhe confere uma frescura imensa. Austero até, mas muito gastronómico. Fresco e de corpo médio, termina com um amargor do lado vegetal que pede comida. Um vinho diferente, irreverente e que precisa de tempo. Aposto que em novo estava bem difícil de provar! PVP: 10€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Em Prova: Quinta da Vegia Solo Franco Tinto 2015

A Quinta da Vegia situa-se no Dão e juntamente com a Quinta de San Joanne, esta última localizada em Amarante, constituem a Casa de Cello, de João Pedro Araújo. No Dão, João Pedro priveligia também a tradição e o terroir, criando vinhos de recorte mais clássico. Este vinho, o Quinta da Vegia Solo Franco Tinto 2015 prima pela simplicidade, mas uma simplicidade que não é simplória. "Solo Franco" pois pretende ser um vinho direto ao solo, franco, honesto e respeitador do terroir a que pertence. Feito de Tinta Roriz, Touriga Nacional e Tinta Amarela, não vai a madeira. O resultado é um vinho muito agradável, com fruta fresca e um lado vegetal, tudo num registo de juventude que é o seu propósito. De corpo médio e taninos macios, termina com uma belíssima acidez. Apesar dos seus 14,5º de alcool, essa acidez mantém o vinho muito fresco e equilibrado, sendo perfeito para acompanhar a nossa gastronomia portuguesa. Eu bebi-o com umas bochechas de porco estufadas e ligou lindamente. PVP: 7€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Em Prova: Afluente Alvarinho 2017

Depois do Zafirah, um tinto da região dos vinhos verdes, temos finalmente o lançamento do branco feito de Alvarinho por Constantino Ramos. Chama-se Afluente e as uvas de alvarinho são provenientes de uma vinha em Monção plantada a cerca de 250 metros, da colheita de 2017, fermentadas em barrica usada e estagiadas nas mesmas barricas durante 9 meses, ao qual se seguiu mais 9 meses de estágio em garrafa. O homem que assina os vinhos de Alvarinho de Anselmo Mendes (Parcela Única, Expressões, Curtimenta, Muros de Melgaço) e colabora em alguns projetos muito interessantes na região, só podia fazer um grande vinho da casta Alvarinho. 

O resultado é um vinho de aroma extremamente contido, mas muito complexo, com notas citrinas muito bonitas, conjugadas com mineralidade e muita profundidade. Mesmo aberto no dia anterior, foi-se mostrando muito lentamente ao almoço, abrindo para o jantar (onde já havia muito pouco). Na boca confirma esse lado citrino, impressionando pela acidez acutilante e vibrante que saliva completamente na boca. A madeira está perfeitamente integrada - impercetível quase, conferindo apenas o volume e untuosidade pretendidas para lhe conferir a textura necessária. De corpo médio, com toque salino e muita, muita frescura, termina longo. Um crime bebê-lo tão novo pois precisa de tempo de garrafa para se desprender e mostrar todo o seu potencial. Grande estreia! PVP: 20€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

terça-feira, 2 de julho de 2019

Em Prova: Casa Santa Eulália Superior Alvarinho 2018 e Avesso 2018

A região dos vinhos verdes cada vez se posiciona mais na linha da frente no que concerne à qualidade e frescura dos seus vinhos, independente da sub-região de onde os mesmos provêm. A Casa Santa Eulália, fundada no séc. XVII, situa-se em Atei, no Concelho de Mondim de Basto, constituída por 38 hectares de vinha, de solos graníticos, entretanto recuperada. Produz as marcas Plainas e Casa de Santa Eulália, esta última com brancos monocasta (Alvarinho, Avesso e Sauvignon Blanc).

Tanto o Alvarinho como o Avesso, ambos de 2018, que tivemos oportunidade de provar são muito frescos e cheios de tensão, devido sobretudo à região e aos solos graníticos. O Casa de Santa Eulália Superior Alvarinho apresenta um lado citrino muito bonito, delicado, quase a fazer lembrar laranja pouco madura ou tangerina e uma boca deliciosamente fresca, elegante e crocante. Gostei muito pois apresenta o lado citrino da casta que se encontra em Monção & Melgaço, mas aqui digamos que um citrino diferente, mais para o lado da tangerina. Depois é muitíssimo equilibrado e dá muito prazer a beber. Boa. O Casa de Santa Eulália Superior Avesso é mais austero, tem também um lado limonado e citrino, mas mais de lima e toranja. È mais ácido e por isso menos direto que o alvarinho. Mais difícil na prova, pelo menos nesta fase. Um avesso a mostrar como a casta pode aportar vinhos cheios de tensão e carácter, a necessitar de tempo em garrafa para acalmar a sua acidez demasiado vibrante agora. Dois belíssimos vinhos para o Verão, curiosamente bebidos nas minhas férias, no inicio e final das mesmas, respetivamente. Enologia por Anselmo Mendes, who else? PVP:8€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes