segunda-feira, 31 de julho de 2017

Radar do Vinho: Prova dos Vinhos A&D Wines

Conheci este projecto há uns anos atrás, ainda bem no inicio. Lembro-me perfeitamente. Foi na Essência do Vinho quando estes ilustres desconhecidos tinham há prova apenas dois vinhos, Casa de Arrabalde e Espinhosos. Hoje, já acrescentam ao seu portfolio 3 monocastas, Avesso, Arinto e Chardonnay, sob a insígnia Monólogo e o topo de gama denominado Singular, que reflecte exactamente as "singularidades" de cada colheita. A distribuição está a cargo da Decante.

Tive a oportunidade de provar recentemente todas as referências do produtor, do ano de 2015 (ano que muitos consideram perfeito na região dos vinhos verdes) e o resultado foi muito agradável. 

Contudo, aqui fica, em primeiro lugar um pouco de contexto sobre a A&D Wines: Em 1991, Alexandre Gomes planta em Baião a primeira vinha, com 5 hectares, privilegiando as castas autóctones da região. Apenas em 2005 cria a A&D Wines adquirindo a Quinta dos Espinhosos, com uma uma área de vinha de 7 ha que permitiria viabilizar o projeto de montagem de uma adega com todo o equipamento necessário à elaboração de vinhos brancos de quinta. O vinho Casa do Arrabalde é colocado no mercado em 2007 e em 2009 surge a primeira colheita de Espinhosos. O trajecto tem sido de crescimento passo a passo e de consolidação, quer nacional, quer internacionalmente, onde a sua presença é significativa. Assim, em 2015, a A&D Wines decide avançar para um projeto ainda mais ambicioso ao adquirir a Quinta de Santa Teresa, mais uma aposta na sub-região de Baião, com 33 ha de vinha a que se somam 5 ha da Casa do Arrabalde e 7 hectares da Quinta dos Espinhosos, o que perfaz um total de 45 ha. Surgem assim quatro novas referências a marca Monólogo para os três vinhos de casta e parcela única - Monólogo Arinto P24, Monólogo Avesso P67 e Monólogo Chardonnay P706, sendo esta proveniente da Quinta dos Espinhosos. É também apresentado o Singular, “blend” de escolha e gosto do Eng. Fernando Moura, enólogo da A&D Wines.


Mas vamos à prova dos vinhos A&D Wines. Começamos pelo Casa do Arrabalde, blend de Avesso, Arinto e Alvarinho, um vinho correto, equilibrado, com boa presença e frescura, de pendor gastronómico - competente. Na minha opinião, falta-lhe apenas um pouquinho mais de complexidade para se diferenciar entre os demais, na sua gama. O Espinhosos, blend de Avesso e Chardonnay, vinho de grande consistência onde fruta madura convive muito bem com frescura e mineralidade, apresentando um lado untoso bem interessante. Ambos a rondar 6,5€

Seguiram-se os monólogos, vinhos monovarietais produzidos em parcelas específicas da vinha, selecionadas pela sua consistência na produção, intervenção minimalista na adega e qualidade ano após ano. O Monólogo Arinto é um vinho monocasta produzido com uvas da parcela P24 da Quinta de Santa Teresa. Achei um arinto focado nos aromas florais, leve e delicado, sem aquele ataque de acidez que a casta aporta muitas vezes. Gostei deste lado mais contido da casta sem perder frescura e boa presença de boca. O Monólogo Chardonnay P706 com notas de fruta madura, alguns amanteigados, mostrando-se estruturado, envolvente e muito fresco. Sem passagem por madeira, mas a mostrar-se muito bem e nada enjoativo. Gostei bastante. O Monologo Avesso P67 com um lado citrino em evidência e um toque vegetal. Na boca tem nervo, volume e frescura, terminando longo e prazeroso. O meu preferido dos três Monologo. Por 7,5€ vale bem a pena provar estes monocastas.

Por fim, O singular que reflecte as escolha das castas e seu loteamento por parte do enólogo Fernando Moura.. Por apenas 9€, talvez o vinho mais sério, isto é, o mais complexo, encorpado e longo de todos os vinhos provados, fechando assim com chave de ouro a prova dos vinhos A&D Wines. 

A&D Wines um projecto de Baião para o mundo, que vale a pena conhecer. Situado na fronteira entre a região dos vinhos verdes e o Douro, talvez pela sua localização invulgar (como a Quinta da Covela), também se reflita no perfil de alguns dos seus vinhos. Destaque igualmente para os rótulos, modernos e apelativos, diferentes do habitual, que acrescentam essa diferenciação no mercado nacional e internacional.


Sérgio Lopes


domingo, 23 de julho de 2017

Moscatéis portugueses, abaixo de 15€, brilham em França....!


Este post vem a propósito do concurso "Muscats du Monde" que decorre em França todos os anos e no qual Portugal conseguiu 4 moscatéis no TOP 10 do certame! O primeiro lugar é inclusivé nosso com o Venâncio Costa Lima Moscatel Roxo 2013. Os restantes três são o Moscatel Roxo 5 anos da Bacalhôa e o Moscatel Roxo Pioneiro 2013, também da Venâncio da Costa Lima  o Adega de Favaios Moscatel 1980 que receberam a Medalha de Ouro e colocaram-se igualmente entre as 10 melhores classificações no concurso.

O concurso, que decorreu nos dias 5 e 6 de Julho, na cidade de Frontignan-la-Peyrade - França, teve em prova 214 moscatéis de 25 países. O júri internacional, composto por mais de 55 especialistas, atribuiu 71 medalhas, 38 de ouro e 33 de prata. Portugal é, a seguir à França, o país com mais medalhas, num total de 13 - 7 ouros e 6 pratas.

Gratificante e de louvar sem dúvida, que vinhos generosos abaixo de 15€ tenham sido tão bem recebidos. Só prova que o Moscatel Roxo, de Setúbal ou o do Douro produzem vinhos extraordinários. Mas será esse o target do concurso - vinhos extraordinários? Provavelmente não.

A questão surge pois não retirando o excelente mérito dos vinhos premiados, saltam-me à vista desde logo 2 ou 3 referências de produtores como José Maria da Fonseca ou Horácio Simões, de dimensão estratosfera, mas que provavelmente não fazem sentido neste concurso, face aos resultados. O próprio Bacalhoa 30 anos ficou abaixo dos 4 moscateis portugueses do top 10... Talvez os produtores nos possam esclarecer um pouco mais.

Sérgio Lopes

sábado, 22 de julho de 2017

Em Prova: Pouca Roupa Rosé 2016


15/20. Pouca Roupa é o projecto mais recente de João Portugal Ramos (vai na sua 2ª edição), desenvolvido com o seu filho, o enólogo João Maria, destinado a um público jovem, "à geração que vive online e constantemente ligados, que cria e vive experiências”. O nome da marca é também o nome do Monte Alentejano, onde está implantada a vinha que dá origem a este vinho, sendo ainda um “apelido comum no Alentejo”.

O Pouca Roupa Rosé de 2016, elaborado a partir das castas Aragonês, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, é isso mesmo - um vinho despreocupado e descontraído, perfeito para o verão, com as notas típicas de um rosé, ou seja, fruta vermelha fresca, um lado vegetal e alguma secura a conferir um pouco mais de pendor gastronómico. Fresco, leve, directo, pronto para beber à piscina ou acompanhar algumas entradas. O Rosé, e já agora, o tinto e o branco - Pouca Roupa, encontram-se facilmente na grande distribuição a um PVP de 3,99€.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Em Prova: Quinta das Pereirinhas Superior 2016

16,5/20. Numa altura em que decorre até domingo o Vinho Verde Wine Fest, na Alfândega do Porto, nada melhor do que apresentar um exemplar de Alvarinho da região, mais propriamente de Monção. tomei contacto com este projecto na Feira do Alvarinho de Melgaço, e achei que para além dos 3 "grandes" (Soalheiro, Regueiro e Anselmo), foi um dos que se destacou, na minha opinião. 

Talvez a referência mais conhecida deste produtor seja a Foral de Monção, mas foi o Quinta das Pereirinhas Superior que considerei mais à minha medida.

Um Alvarinho como eu gosto, mineral, muito fresco, com estrutura, fiel à casta nas suas notas citrinas e com uma acidez refrescante e vibrante a conferir um grande final.

O alvarinho é de facto uma casta que produz brancos na sub-região de origem de elevada qualidade!

Sérgio Lopes

terça-feira, 18 de julho de 2017

Vinho Verde Wine Fest, na Alfândega do Porto

A quarta edição do Vinho Verde Wine Fest, realiza-se entre 20 e 23 de Julho, mais uma vez na Alfândega do Porto. Organizado pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), o festival terá mais de 300 vinhos em prova de 33 produtores, para além de muita animação, com provas comentadas, workshops, showcooking, cursos de vinho e ainda um dia dirigido às famílias, no dia 22, sábado.

Estão igualmente previstas atividades para as crianças, que, segundo a CVRVV, "permitem primeiras experiências com a gastronomia e descoberta de sabores".O festival terá lugar no parque nascente da Alfândega, com o rio Douro como vizinho próximo, e este ano ocupara uma área maior do que a do ano passado, com sacrifício do espaço que era reservado ao estacionamento automóvel.

A entrada no festival custará dez euros, com direito a um copooito senhas de provas e a uma prova comentada.

Mais informações, incluindo o programa do festival em http://www.vinhoverdewinefest.com/pt

Sérgio Lopes

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Radar do Vinho: Quinta do Regueiro

A Quinta do Regueiro situa-se em Melgaço. É constituída por 6ha de vinha e distingue-se dos demais produtores da região pelos seguintes factores: Vinhas em altitude, solos graníticos e intervenção minimalista nos vinhos que produz, respeitando ao máximo a casta Alvarinho, e o terroir da sug- região de Melgaço.

A história inicia-se em 1988 com a plantação da primeira vinha de Alvarinho, mas é só em 1999 que nasce o primeiro vinho. Desde então tem sido um caminho de sucesso que coloca a Quinta do Regueiro, na minha opinião, no top 3 dos produtores de grandes brancos da região.

Este é um projecto familiar, no qual o homem do leme é Paulo Cerdeira Rodrigues, homem de uma humildade e generosidade tão graciosas que acrescem ainda mais valor a este projecto. Depois, é claro, os vinhos acabam por reflectir um pouco da personalidade de quem os produz e nesse sentido, Regueiro produz vinhos autênticos, sem maquilhagem, que privilegiam o que a terra dá e que no final dão muito prazer à mesa, para além de garantirem uma longevidade muito grande.


"Os vinhos alvarinho produzidos pela Quinta do Regueiro distinguem-se pela sua originalidade e tipicidade, fruto de um “terroir” que lhes confere propriedades únicas, em termos de mineralidade. Distinguem-se também pelos elevados níveis de qualidade obtidos consistentemente, ano após ano, graças ao sentimento e a dedicação do produtor às vinhas e ao vinho"  - Palavras retiradas da página do facebook do produtor, mas que exprimem tão bem o projecto.

A Quinta do Regueiro produz vários vinhos sobre a marca Regueiro, para além de alguns raridades e colaborações que vão surgindo. Aqui fica a gama principal comercializada e que é obrigatório conhecer e provar:

Regueiro Alvarinho / Trajadura


15,5/20. Fresco, equilibrado, frutado, mas nada exuberante. Bem conseguido e acima dos seus pares no que concerne aos blend estilo "muralhas" ou "Torre de Menagem", apresentando um pouco mais de corpo e profundidade. PVP: 4,5€

Espumante Regueiro

16/20. 100% produzido de alvarinho, pois claro está. Um espumante Bruto, bem equilibrado, com bolha fina, mousse agradável, tudo bem composto. Claramente acima da média, numa região, que na minha opinião ainda não apresentou um "mega" espumante. PVP: 13€

Regueiro Reserva


16,5/20. Um Alvarinho muito mineral e fresco, com uma excelente acidez. Muito puro, com uma boa estrutura, fiel à casta, sem notas tropicais, muito focado no lado citrino. Um belo branco, ano após ano. Bebe-se com enorme prazer. PVP: 9,90€

Regueiro Primitivo

17,5/20. Feito a partir das vinhas mais antigas da quinta. Elegante e de aroma contido, mas tudo num registo fino e de grande profundidade. Citrinos frescos (tangerina, toranja), mineralidade, tanto no nariz como na boca, a conferir um corpo envolvente e uma acidez limonada que lhe dá um "nervo" impressionante, bem como um final longo. Estou completamente rendido a este vinho, sobretudo a colheita de 2015, que está aí para durar. PVP: 14,5€

Regueiro Barricas

17,5/20. Se o Regueiro Primitivo feito das uvas mais antigas da propriedade é fino e cheio de nervo, o "Barricas" é ainda mais mais preciso e delicado. São apenas 2000 garrafas de um branco que amadurece em barrica, como o próprio nome o sugere. A madeira aparece sempre superiormente integrada, conferindo-lhe apenas a complexidade e arredondamento extra, que o elevam a outro patamar de "finesse". Um exemplo claro de como utilizar a madeira de forma a potenciar a uva Alvarinho, sem marcar em demasia. Um grande vinho juntamente com o Primitivo a mostrar 2 formas de apresentar a casta Alvarinho, produzindo 2 brancos superiores. PVP: 17,5€.

Sérgio Lopes


sábado, 15 de julho de 2017

Em Prova: Tons de Duorum Branco 2016


15,5/20. Nova colheita do branco Tons de Duorum, acabadinha de chegar ao mercado e que sigo ano a após ano, desde 2010. E já lá vão 6 anos. 6 anos de consistência que é a palavra que define o futuro e o presente de um projecto. E é o que encontramos em 2016, um vinho que confirma o seu perfil frutado e fresco, à volta dos citrinos, algum tropical e floral, sempre com uma acidez refrescante e uma complexidade média, a aportar corpo suficiente para lhe conferir versatilidade no Verão que se avizinha. Uma compra segura. PVP: 3,99€. Disponibilidade: Grandes Superfícies.

Sérgio Lopes

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Em Prova: Quinta de SanJoanne Terroir Mineral 2013


16,5/20. Produzido das castas Avesso e Loureiro, em Amarante, trata-se de um vinho que faz jus à designação de "mineral" - com alguma austeridade e um traço acentuado a "pedra molhada" (bem sei que o descritivo "mineral" não é consensual - mas é mesmo o que parece!). Sendo de 2013, neste momento sente-se também alguma fruta branca e um travo limonado com alguma intensidade, provavelmente com a casta Avesso a começar tomar conta do conjunto e que lhe confere uma grande acidez / frescura. Conjunto esse bem afinado, com apenas 11º de alccol e que dá muito prazer a beber já (com 4 anos) mas que irá crescer em garrafa. A rondar os 7€, é na realidade uma excelente compra, sobretudo para quem procura brancos com clara tipicidade e diferenciação. Uma boa porta de entrada para os restantes vinhos que João Pedro Araújo produz na sua Quinta de SanJoanne. PVP: 7€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Wines and Blue Festival

Começa hoje , o Wine & Blues Festival, até dia 15 de Julho, sábado, na sua 2ª edição, representa o renascimento bem-sucedido da tradição dos Blues em Viana do Castelo, assumindo três ambições: a internacionalização, a aliança com a promoção do Vinho Verde e a animação do centro histórico.

MÚSICA_
Durante três noites a Praça da República será o palco onde se irão cruzar as mais diversas sonoridades da história dos blues.

VINHO VERDE_
As grandes quintas vitivinícolas da região associam-se ao Wine & Blues Festival, fazendo-se representar por uma mostra vínica direcionada para a divulgação do Vinho Verde, que estará patente ao longo das três noites do festival entre as 21h e as 02h, no edifício dos Paços do Concelho.


PROGRAMA_
DIA 13.07

DIA 14

DIA 15



quarta-feira, 12 de julho de 2017

Da minha cave: Casa de Saima Garrafeira Tinto 1991

Grande Vinho! São experiências sensoriais como a que este vinho proporcionou que fazem valer a pena o risco, a paciência e toda a logística que envolve guardar garrafas de vinho tanto tempo!

Às vezes fico trémulo quando vou abrir um vinho com alguma idade... principalmente quando há convidados e as expectativas são elevadas... como se estivesse a fazer uma grande aposta em frente a uma mesa de jogo!

Mostrou no nariz um perfil clássico, apanágio da casa! Provei ao abrir... começou austero mas deu sinal de afabilidade!
Decantei durante 2 horas! Este Baga estava simplesmente delicioso, harmonioso, sedutor... final longo!

Um daqueles vinhos que desejaríamos não ver acabar na garrafeira!

Este ainda não tem enologia de Paulo Nunes, mas é um excelente exemplar do que a casa pode produzir. provem também as novas colheitas, pois o regresso da Casa de Saima está anunciado.

Jorge Neves (Wine Lover)

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Arena de Baco: Prova Cega - Aniversário Sérgio Lopes

No passado dia 25 de Junho decidi, para comemorar o meu aniversário, abrir a minha casa e a minha garrafeira para uma prova cega com "the gang" que gosta destas coisas e que me acompanha nestas andanças. Preparei assim uma prova cega de 10 brancos e 10 tintos, todos vinhos provenientes da minha garrafeira pessoal e que decidi partilhar com os amigos. A escolha dos vinhos foi baseada no meu gosto pessoal, mas também com o objectivo de apresentar uma prova equilibrada, passando por várias regiões e anos de colheita. Cada conviva trouxe um petisco que acompanhou os brancos e que acabou por se prolongar para os tintos. 


O "Welcome Drink" decorreu com um muito competente espumante da Quinta do Encontro, em magnum, que serviu esse propósito. Mais tarde, já bem mais tarde... foram servidos fora da prova cega mais alguns espumante, para fechar a noite. Espumantes que eu gosto bastante, tais como, o Quinta de São Lourenço 2007 e o Velha Reserva 2008, ambos das Caves Solar de São Domingos e o delicado Marquês de Marialva Cuvée 2011, da Adega de Cantanhede.

Prova Cega dos Vinhos Brancos


Os vinhos foram servidos da década mais antiga para a mais recente. Começamos em grande com 2 brancos dos anos 90 de se tirar o chapéu - o Casa de Saima 1993 e o Quinta Poço do Lobo de 1991, ambos da Bairrada, ambos cheios de vida! O Bons Ares 2001 já estava um pouco cansado mas ainda a dar boa prova. Seguiu-se um desconhecido Carvalha do Assento 2000 do Dão, competente e um surpreendente Quinta de Maderne Pedernã 2005 a mostrar como os vinhos verdes evoluem bem. O Myrtus 2008 estava em grande forma com a madeira bem integrada e o Pormenor 2015 a mostrar um lado bem mais sedutor do Douro. O Permitido 2015 continua excelente, um belíssimo branco do Douro Superior, feito 100% de Rabigato que faz parte das minhas escolhas habituais, tal como os Alvarinhos do Paulo, do qual o Regueiro Primitivo 2015 está simplesmente sublime, com uma acidez para durar anos e anos. Terminamos a prova de brancos com um Morgado de Santa Catherina 2012 num belissimo momento, a provar que este best seller é muitissimo competente e um preço cordato. Foi uma grande prova com os 6 primeiros vinhos separados por décimas. Sendo que o Regueiro e o Morgado ficaram em primeiro lugar ex-aqueo!

Prova Cega dos Vinhos Tintos


       

Chegados aos tintos começamos logo com duas magnum e que grandes vinhos - O Dão Pipas 1975 extraordinário, parecia um vinho com menos 20 anos, de tal jovialidade que demonstrava. Brutal. O Periquita de 1982 um clássico que até tem um preço e acessibilidade bons, a mostrar-se ainda vivo e bem prazeroso.  De seguida, o Porta dos Cavaleiros de 1984, já tendo passado o seu esplendor mas ainda a dar uma prova minimamente agradável. Duas bombas de taninos do ano de 1991, surpreendentes, se seguiram, um Casa de Saima e um Quinta de Camarate, Bairrada - Baga e Castelão - Setúbal, respectivamente a representar as regiões e castas superiormente. Luis Pato Vinhas Velhas 1992, mais um excelente exemplar de Baga, macio e delicado. Esporão 4 castas 2002, ainda com fruta madura e a mostrar o terroir quente do Alentejo. Quinta do Corujão 2003, num excelente momento de prova, a demonstrar o caracter, elegância e pendor gastronómico dos vinhos do Dão. E finalmente dois durienses muito interessantes o Pormenor 2014 do meu amigo Pedro Coelho e o Aneto 2011, um colheita acima da média do extraordinário ano de 2011, produzido por Francisco Montenegro. Resultados da prova cega, podem ser consultados acima.

No final ainda tivemos um Porto Vintage de 1963 da Borges & Irmão, já um pouco evoluído demais e um LVB de 1995 da Ramos Pinto, muito bom, a acompanhar o bolo de aniversário.


Foi uma grande prova, mas talvez um pouco longa demais... A repetir, sem dúvida, pois a minha garrafeira ainda tem mais coisinhas interessantes para partilhar...

Sérgio Lopes

sexta-feira, 7 de julho de 2017

A abertura do garrafão de Colares "Genuíno" (Epílogo)

A abertura do garrafão de branco de Colares "genuíno" provocou grandes emoções em todos os presentes, que ao fim de quase uma hora já mereciam apreciar o repasto que lhes estava reservado pela D. Zezinha. As "entradinhas" constavam de petinga frita (pescada no dia) com uma salada de tomate à marroquina, bolachinhas de queijo parmesão, pataniscas de bacalhau, azeitonas e o inevitável pão de Mafra. A acompanhá-las havia um branco Patrão Diogo 2015, de Chão-rijo, do José Baeta , que pedia meças aos brancos de chão-de-areia e não se intimidava com as deliciosas entradas. Depois, para acompanhar ao melhor nível o Bacalhau à Gomes de Sá, foi tempo de apreciar um Arinto e um Vital, estremes, do Nuno Ramilo, também de chão-rijo (Alqueidão), que não deixaram os créditos por mãos alheias e mostraram a raça de duas grandes castas portuguesas. O entrecosto com batatinhas assadas e legumes salteados estava reservado para o Ramisco adolescente, de 2008 e, para quem quisesse, para o branco de Colares na idade adulta, do garrafão. As fortes emoções do dia convidavam aos prazeres da mesa e às mais variadas conversas, cujo tema principal era, como é óbvio, o branco do garrafão. E foram tão acaloradas que muitos dos presentes até se esqueceram que havia outro garrafão para abrir! Antes das queijadas da Sapa e de umas óptimas cerejas do Fundão lá fomos todos outra vez abrir novo garrafão, agora ao som dos acordes de viola do Carlos Alberto Moniz e da alegria de todos os convivas.

O treino do primeiro garrafão abreviou a operação de extracção da rolha, que pela facilidade com que cedeu aos esforços do José Baeta causou muita apreensão. Estaria o vinho estragado? VL cheirou a rolha e franziu o sobrolho com o forte odor a vinagre que dela emanava. Se mais dúvidas houvesse, foram tiradas com a prova de nariz do vinho no copo. O Ramisco não tinha resistido a uma rolha de má qualidade e tinha-se transformado num vinagre fortíssimo...com cerca de oitenta anos! Se estivéssemos na época romana ou na Idade Média, provavelmente iríamos bebê-lo com toda a veneração e respeito, depois de o diluir na proporção apropriada com água. Afinal, nessas épocas, era impensável rejeitar a bebida dos deuses ou o "sangue de Cristo", qualquer que fosse o defeito que tivesse. E o remédio era diluir o vinho com tanta mais água quanto maior o defeito! No século XXI, muito mais habituados aos prazeres da carne do que do espírito, não seria prudente propor que se bebesse o vinho à moda dos romanos. Mas seria uma heresia deitar fora um vinagre de oitenta anos, que me fez lembrar o fantástico vinagre do amigo Mário Sérgio, da Quinta das Bageiras. Foi, portanto, sugerido que o José Baeta tratasse do dito o melhor possível e se aprazasse nova sessão, para apreciá-lo em consonância com o seu estatuto: Ramisco com oitenta anos! Carapaus, mexilhões, perdizes e, talvez, lampreia, são bons motivos para retornar a Almoçageme.

Finalizar um dia de emoções fortes com o travo do vinagre não estava nos planos de ninguém e o José Baeta cumpriu a promessa feita, ao abrir três garrafas do mítico Ramisco de 1934, cujo stock ficou reduzido a apenas 780 garrafas.

Foi a apoteose!

Fotos cortesia de Rui Viegas

Professor Virgilio Loureiro

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Tondela Brancos Dão


Pelo segundo ano consecutivo o Município de Tondela em parceria com a Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVR Dão) organiza o “Tondela Brancos Dão”. Se no ano transacto, a primeira edição se pautou por apenas vinhos brancos de Todela, nesta segunda edição o leque é alargado à promoção e divulgação dos vinhos brancos da região do Dão.

O evento realiza-se no próximo sábado, dia 8 de Julho, das 14h00 às 23h00, no Mercado Velho de Tondela e área envolvente. Do programa constam diversas acções, nomeadamente palestras, exposições, provas de vinho, gastronomia, showcookings e animação musical.


quarta-feira, 5 de julho de 2017

Em Prova: Adega Mãe Cabernet Sauvignon 2013


16/20. Abri este vinho no passado domingo, um dia de calor abrasador. Mas apetecia-me um tinto e apetecia-me provar este vinho que não conhecia. Cabernet Sauvignon é uma das castas mais respeitadas mundialmente, importadas de França e que dão origem a grandes vinhos. Eu não sou particular fã da casta, sobretudo por vezes marcar em demasia o vinho com notas de "pimento verde", o que me desagrada. Pois este vinho tem um pouco disso, mas diria que "mutado", ou seja o que senti foram notas apimentadas e "verdes" mas que lhe aportam frescura e vivacidade. Que não aborrecem. A boca acompanha, com elegância e alguma garra, em equilíbrio, apresentando frescura qb apesar dos seus 14,5º. Experimentem com comida. Eu acompanhei com um arrozinho de pato e gostei! PVP: 9€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

terça-feira, 4 de julho de 2017

Em Prova: Dona Fátima Jampal Branco 2014

15,5/20. Este vinho é proveniente de Lisboa, produzido pela Manz Wines. Penso que a descrição retirada do site explica muito bem o projecto e em particular este branco da uva quase extinta Jampal: "O projeto da Manzwine promete transportá-lo para uma época em que esta vila era célebre pela qualidade das suas vinhas e pomares, fruto de boa terra, plantação em encostas e socalcos e de um micro clima singular, demarcando a fronteira entre a influência marítima e a proteção amena da ribeira de Cheleiros. Apresentamos o lote do primeiro vinho feito exclusivamente com a quase extinta Uva Jampal." 

O vinho vale sobretudo por isso, pela raridade da casta utilizada. Trata-se de um vinho correcto,  com complexidade qb, apresentando fruto de caroço no nariz, média complexidade de boca, amparada por barrica bem integrada a amaciar o conjunto e com algum corpo, terminando com agradável persistência. Compreende-se o preço pela utilização da exclusiva uva Jampal, mas neste campeonato dos vinhos brancos a rondar os 15€ , talvez não se destaque. Mas de novo, trata-se de uma produção muito pequena. Provem, pela curiosidade! PVP: 16,5€. Disponibilidade: Garrafeira Nacional.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A abertura do garrafão de Colares "Genuíno" (parte 4)

O momento da verdade chegara e o silêncio na adega tornou-se sepulcral. VL ia levar o vinho à boca com mais de cinquenta pares de olhos fixos no copo e toda a gente aguardando o momento da verdade. Será que o "sortudo" ia fazer uma careta? Seria uma decepção? Estaria imbebível? Ou, pelo contrário, seria um momento triunfal? Realisticamente a expectativa não deveria ser muito elevada, pois tratava-se de um vinho com mais de oitenta anos, era branco e estava num garrafão!

Ao primeiro gole VL não conseguiu conter a emoção, fazendo um ligeiro esgar que não passou despercebido a ninguém. A acidez do Colares era contundente, quase equiparável a um soco no céu da boca. É certo que o vinho estava à temperatura ambiente, que enaltece a causticidade da acidez (por isso os brancos jovens devem ser servidos frios), mas não era previsível que impressionasse tanto o palato e transmitisse uma sensação tão grande de frescura e jovialidade. Logo de seguida, ainda com o vinho na boca, começaram a surgir os aromas complexos de tantos anos de estágio e envelhecimento no garrafão. 

O vinho estava vivo e bem vivo, com uma complexidade voluptuosa, que desafiava o "sortudo" a exprimir por metáforas as emoções que ia sentindo. Certamente que as temperaturas amenas e sem grandes amplitudes térmicas de Almoçageme teriam sido decisivas para o envelhecimento nobre que o vinho sofrera. Depois, quando houve serenidade para apreciar o corpo do vinho, é que VL reconheceu que já não tinha a fogosidade da juventude, não era musculado, não era encorpado. Para quem gosta de emoções fortes e efémeras, não seria, por certo, o vinho ideal. Porém, para quem gosta de sensações delicadas, enigmáticas e muito prolongadas dificilmente haveria vinho mais desafiante. Após engolir o vinho VL continuava com a boca cheia, uma intensidade aromática arrenbatadora, uma cremosidade admirável e um final de boca verdadeiramente olímpico. Era hora de todos os felizardos partilharem as mesmas emoções e fazerem do momento um hino à magia desta bebida dos deuses.

Do silêncio sepulcral passou-se para o entusiasmo incontido e ruidoso, com toda a gente a querer provar o vinho que tinha passado a prova do tempo com distinção e louvor. Os mais experimentados emocionavam-se e discutiam animadamente entre si. Os outros, em minoria, interrogavam-se, tinham dificuldade em entender tanto entusiasmo, surpreendiam-se com os comentários. Alguns, mais afoitos, até me confessavam que não estavam preparados para apreciar o vinho. Eu surpreender-me-ia se não fosse assim e, por isso, tive o cuidado de seleccionar vários vinhos do ano para o repasto que se seguiria.

A festa estava ao rubro, mas ainda havia outro garrafão - de tinto - para abrir...

Fotos cortesia de Rui Viegas

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Professor Virgilio Loureiro

sábado, 1 de julho de 2017

Wine 2O, Juntos Por Pedrógão

Se havia alguma réstia de dúvida de que "somos um povo do caralho", citando o grande Chef Ljubomir Stanisic, o concerto solidário da passada semana confirmou isso mesmo, traduzindo-se numa onda de solidariedade gigante, que conseguiu gerar mais de 1M€ para as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande. Bravo!

Ora, o Pedro Lima decidiu dar continuidade à onda solidária junto da comunidade vinica, organizando através da Wine2O, 2 jantares e um almoço vínico solidário, envolvendo inúmeros produtores de vinho que rapidamente se associaram à causa,  e cujas receitas revertem totalmente para as vitimas de Pedrógão Grande. O dinheiro angariado será depositado directamente numa conta solidária criada pela Caixa de Crédito Agrícola .
O primeiro evento será um almoço no dia 4 de Julho em Vilamoura, no Restaurante EMO do Hotel Anantara Vilamoura, o segundo será um jantar no dia 5 de Julho no Porto, na Brasão Cervejaria Coliseu e o terceiro será um jantar no dia 6 de Julho em Lisboa, no Restaurante Horizonte do Hotel Tryp da Costa da Caparica. 

Os bilhetes de participação no jantar vão ter o preço fixo de 35€(em Lisboa e no Porto) e 50€(em Vilamoura), e estarão à venda através da plataforma Last2Ticket pelo link: https://www2.last2ticket.com/pt/events/398/sessions/7129/juntos-por-pedrógão-jantar-vínico-caparica 

Todas as informações na página oficial do facebook da WINE2O.

Sérgio Lopes