quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Em Prova: O Negra Mole de João Clara

João Maria Alves, conhecido por todos como João Clara era produtor de uvas desde os anos 70, as quais entregava à Adega Cooperativa de Lagoa. Mais tarde, passa o testemunho ao seu filho que em 2006 lança o primeiro vinho desta quinta, um tinto João Clara em homenagem justamente ao seu pai. Hoje em dia, com enologia de Joana Maçanita o projeto conta com uma gama alargada de vinhos -  "às claras" (entrada de gama -  branco, tinto e rosé) e João Clara, branco, rosé, tinto, reserva tinto e os monocasta Alvarinho, Syrah e Negra Mole. 

E é neste último vinho, que pegando numa uva autóctone da região, que apresenta cachos com uvas de tonalidades mais e menos intensas, que realmente se diferencia. O João Clara Negra Mole 2015 resulta num vinho de cor aberta, com fruta vermelha entre o fresco e alguma passa (o que é curioso), num aroma muito bonito e fresco. A boca é de taninos elegantes, com boa acidez e pouco corpo, num registo leve, apetecivel e que se torna muito fácil de beber. Um tinto fresco e com pouca extracção, mas com complexidade. Pena apenas o preço um pouco inflacionado à semelhança do que se pratica na generalidade dos vinhos da região Algarvia. PVP: 20€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Arena de Baco: QM, QM Nature e QM Vinhas Velhas

A Quintas de Melgaço nasce em 1990, personificada por um melgacense emigrado no Brasil, Amadeu Abílio Lopes, cuja capacidade financeira foi suficientemente forte para congregar à volta deste projecto o interesse de algumas centenas de produtores do concelho de Melgaço, que haviam de se tornar accionistas. Actualmente são mais de 400 os accionistas. 

O Alvarinho é naturalmente o centro da empresa e a grande dsitribuição sempre foi uma aposta. Quem não conhece o entrada de gama Torre de Menagem, onde o Alvarinho combina com a Trajadura, disponível em qualquer superfície comercial, a um preço de arromba? 

No entanto, a diversificação foi um caminho seguido nos últimos anos, produzindo também espumantes e até um colheita tardia, todos de alvarinho e diferentes referências de vinho Alvarinho que com a chegada do enólogo Jorge Sousa Pinto (Regueiro, Sem Igual) elevou a qualidade geral de uma forma evidente. 

Provamos a gama de vinhos brancos QM, à excepção do topo de gama Homenagem, que brinda os 20 anos de existência da Quintas de Melgaço: 

QM Alvarinho, clássico vinho branco com as notas tropicais misturadas com alguns citrinos, mostrando-se fresco e muito equilibrado, sem excessos de doçura. Um excelente exemplar de um branco da região, agora ainda mais afinado sob a batuta de Jorge Sousa Pinto. Um valor seguro que pode ser encontrado facilmente nos hipermercados Continente a rondar os 8,50€.


QM Nature, a pretender mostrar uma vertente mais pura e natural da casta, como o proprio nome o indicia. Um vinho com nariz muito complexo com as notas minerais em primeiro plano, a conferir-lhe uma certa austeridade, fugindo dos aromas exuberantes primários, sem deixar de apresentar fruta citrica e de caroço, mas num registo mais contido. Boca tensa, seca e muito fresca, com final longo e prazenteiro. Confesso que gostei bastante.Muito nervo e acidez, mesmo a meu gosto. . 17,50€. Garrafeiras.


QM Vinhas Velhas, Oriundo de vinhas de encosta, em solos graníticos, das vinhas mais antigas, com mais de 20 anos. É um vinho muito complexo e fino, com fruta citrina muito precisa e definida. Boca com muita elegância, toque mineral, de novo fruta muito apetecivel, leve floral, denso e muito longo. Uma delicia. E com enorme potencial de envelhecimento. Um belíssimo alvarinho. 15,95€. Garrafeiras.

Em suma, um projeto consolidado e que com a adição dos QM Nature e Vinhas Velhas ganhou uma outra notoriedade e deu um salto qualitativo. Por um lado, Jorge Sousa Pinto tornou o Torre de Mengem ainda bem mais abrangente e comercial (volume), enquanto que por outro lado, elevou em muito a qualidade da gama QM - gama mais alta, o que naturalmente se saúda.

Sérgio Lopes

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Radar do Vinho: Bota Velha

O projeto Bota Velha marca o lançamento dos primeiros vinhos a solo do enólogo João Silva e Sousa. Com quase 30 anos de carreira, João Silva e Sousa foi antigo produtor do vinho do Porto Offley, Director Técnico de todas as Vinhas da Sogrape em Portugal e criou a empresa de vinhos, a VDS, que vendeu em 2005, para além de sempre ter dado apoio e consultoria a várias empresas do setor. Em 2017, decide montar a sua própria adega na Penajoia e contactou produtores de uvas no Douro Superior e Cima-Corgo, seus conhecidos de sempre, que o apoiaram neste seu novo projecto. 

A imagem dos vinhos é muito apelativa e o nome tem tudo a ver com o Douro, ou seja, o mote de gastar as botas “à procura das vinhas antigas do Douro”. Botas, deliberadamente velhas, porque João sabia da rudeza do terreno – à procura de vinhas antigas, repletas de castas de outrora e dos donos, seus conhecidos. O ContraRotulo provou os vinhos:


Bota Velha Colheita Branco 2017, Malvasia Fina, Viosinho, Gouveio, Rabigato, Códega do Larinho, Arinto. Nariz mineral, fruta de caroço tipo maçã verde, algum herbáceo e floral. Fresco. A Boca confirma o nariz. Corpo médio. Final correto. Muito equilibrado. €6,90

Bota Velha Colheita Tinto 2017, Touriga Franca, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Tinta Amarela e Tinto Cão. Fruta vermelha e preta. Especiado. Balsãmico. Cheira a Douro! Na boca apresenta alguma rusticidade, boa definição de fruta fresca, corpo e final médio. Equilibrado, fresco e leve. 6,90€


Vinhas Antigas Branco 2017, Maior intensidade e complexidade aromatica que o colheita, com notas frutadas e florais. Nariz muito mineral. Bom volume de boca, de corpo médio e com muita frescura. Acidez crocante. Final longo. Um vinho que apetece beber. Muito bem. 13,90€.

Vinhas Antigas Tinto 2017, fresco com notas lácteas e muita fruta preta de bosque. Boa estrutura, com densidade, mas sempre com pouca extração e taninos firmes, mas finos o que o torna fácil de beber com prazer. Intenso, apesar de lhe faltar aquela maior estrutura que muitas vezes associamos a vinhas velhas duriense. Excelente companheiro à mesa. 13,90€.

Em suma, um belo projeto a solo de João Silva e Sousa, onde os Bota Velha colheita se mostram vinhos muito corretos, enquanto os Vinhas Antigas são as verdadeiras "estrelas da companhia" e creio que crescerão em garrafa.

Sérgio Lopes

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Novidade: Terrunho Alvarinho 2017


José Domingues é um enólogo da região de Monção e Melgaço, que há vários anos tem créditos firmados na região, trabalhando com mestria a casta Alvarinho. Projetos como a Provam (Portal do Fidalgo; Vinha Antiga), a Quinta de Santiago, onde esteve na génese do projeto, ou mais recentemente o Solar de Serrade, onde aceitou o desafio de potenciar esta marca tradicional da região, dando ainda apoio a pequenos produtores, aqui ou ali. É um homem generoso, humilde e que sempre teve o sonho de lançar o seu vinho  em nome próprio.

Ora, ele aqui está - o Terrunho "land & soul" 2017, feito exclusivamente de alvarinho e que pretende ser a visão do enólogo sobre o terroir (Terrunho) da sub-região de Melgaço e Monção. As uvas provêm de parcelas plantadas em encosta a 225 metros de altitude, com influência marítima, exposição protegida entre dois vales e o terroir singular de Monção. Apenas 10% do vinho passa por madeira, com 7 meses de estágio sobre as borras totais e 5 meses de battonage.

O resultado é um vinho branco, alvarinho, que entra diretamente para o grupo do que de melhor se faz na região. Nariz muito mineral, puro e afinado, complexo, com notas frutadas citrinas, algum vegetal, salinidade e muita frescura. Boca séria, com precisao, madeira superiormente integrada que eleva a casta Alvarinho e lhe confere um optimo volume de boca, apesar de elegante. Acidez crocante e untuosidade, num final seco e longo. Grande estreia! Apenas 3000 garrafas e 50 magnums produzidas. PVP: 22€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Em Prova: Vale dos Ares Alvarinho 2017

Integrado no grupo Vinho Verde Young Projects, juntamente com os vinhos Quinta de Santiago, Sem Igual e Cazas Novas, o projeto Vale dos Ares encabeçado por Miguel Queimado é proveniente da região de Monção, sendo que naturalmente aposta na casta Alvarinho, casta de excelência da sub-região de Monçao e Melgaço. 

Lançado o primeiro vinho apenas em 2012 e depois de alguma afinação e consolidação do projeto, Miguel Queimado lança o que é, na minha opinião, o seu mais bem conseguido Vale dos Ares, o de 2017.

Nariz predominantemente mineral e focado no lado citrino da casta Alvarinho, com notas de casca de laranja e toranja, muito frescas. A boca tem uma acidez crocante, mesmo ao meu gosto, com cremosidade e o tal lado citrino em evidência. Com bom volume de boca, é seco, de final longo, intenso e sério, sem deixar de ser deliciosamente apelativo e equilibrado. Muito bem. PVP: 9,90€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Arena de Baco: Almoço #Murgafriends

O mote era provar um espumante muitissimo especial, criado pela Murganheira, uma produção limitada a apenas 500 garrafas, que sairá mais próximo do Natal e será um produto Super Premium. Para já, não podemos divulgar muito sobre o mesmo, pois encontra-se no "segredo dos deuses". Mas tivemos o privilégio de o provar "en primeur" este passado sábado e está tão fino, guloso e cheio de classe, que efetivamente promete! Mas antes de falarmos do almoço do passado sábado, contextualizemos os #Murgafriends - um grupo de enófilos esclarecidos que visitou as Caves Murganheira, tendo em comum a enorme admiração pelo projeto e os seus fabulosos  e consistentes espumantes,  e desde então tem-se juntado para diversos eventos e visitas. Assim, com o privilégio de degustar o espumante Super Premium da Murganheira, decidimos marcar um almoço onde se também se provaram outros espumantes, de grande nível. Às cegas, pois claro.


O almoço decorreu no restaurante Dona Júlia, em Braga, onde o serviço foi exemplar. É um restaurante com nível, intimista, family friendly e onde os produtos são bem tratados, bem como o vinho, o espumante e muito champanhe, que se pode ver exposto um pouco pelas paredes. A vista também é lindíssima, para além de possuir 3 salas distintas, a sala principal - airosa, outra no primeiro andar, com foco no Sushi e uma última mais recatada e intimista, talvez mais propicia para um jantar ou evento privado. O menu que foi seleccionado para acompanhar os espumantes continha uma série de entradas tradicionais, em modo petisco, tais como favas com grão, pataniscas de bacalhau, tripas à moda do porto ou folhado de queijo de cabra com doce. Para pratos principais, um bem conseguido Bacalhau à Braga e um Naco de carne grelhadinho na perfeição. Para a sobremesa, naturalmente... Pudim Abade de Priscos, que estava delicioso.


Para além do Murganheira Super Premium (não posso revelar a designação oficial), houve 7 espumantes às cegas e 3 vinhos brancos no inicio , o Sem Mal 2017 de João Camizão, de que gosto muito e 2 vinhos da Herdade Papa Leite, do Alentejo, totalmente novidade para mim. Neste fartote de espumantes de qualidade que se seguiu, reinou a qualidade: Para começar, um Afros Loureiro 2009, um espumante dos vinhos verdes que foi uma surpresa, apresentando notas meladas de evolução, mas com muita frescura ainda, Ninguém estava à espera, às cegas que fosse este espumante. Os Kompassus Rosé 2011 e 2012, um pouco abaixo do que haviamos provado recentemente, mas a mostrarem ser espumantes rosés bem feitos e amigos da mesa; O São Domingos Velha Reserva Vintage 2004, impressionou pela sua juventude, apesar de alguma rusticidade típica desta referência, bem conhecida e que consumimos com regularidade cá em casa. Com 14 anos e ainda cheio de vida pela frente. Sem Igual 2015, ainda não saíu para o mercado mas apresenta a acidez, frescura e lado seco que João Camizão tanto gosta nos seus vinhos. Um espumante diferenciador da região dos vinhos verdes. Vértice Milésime 2009, com 4 anos de estágio antes de degorgement, mais 4 anos de estágio em garrafa, fizeram deste espumante distinto um dos preferidos em prova; Finalmente, o meu espumante preferido e que me encheu totalmente as medidas, o Familia Hehn Velha Reserva 2006, tem tudo aquilo que aprecio num grande espumante, com alguma evolução, cheio de fruto seco, notas de panificação, mousse cheia de classe, muita frescura . Uma delicia. Está num momento de prova extraordinário. Um produtor que tal como a Murganheira pertence à sub-região da Távora Varosa. 


Foi de facto um grande almoço que se prolongou pela tarde fora e culminou com uma visita à nova loja de Agostinho Peixoto, a Espumanteria Portuguesa onde se podem comprar mais de 100 referências de espumantes. Bravo!

Sérgio Lopes

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Em Prova: Kompassus Branco 2017

Há felizes coincidências... Na segunda-feira passada assisti à apresentação dos novos vinhos Kompassus, com o mote do lançamento do super topo tinto Kompassus Gene. Foi uma grande apresentação, confirmando a qualidade dos vinhos de João Póvoa, sob a chancela do enólogo Anselmo Mendes

Pois, hoje, em trabalho em Lisboa, acabei por jantar num restaurante chamado Masstige, que combina tapas com pratos de autor, num conceito um pouco estranho (pelo menos no resultado. De entre as 2 ou 3 opções a copo, tinha este Kompassus branco 2017 (anteriormente chamava-se eskuadro kompassu), o "entrada" de gama da casa e que ligou brilhantemente com as tapas que escolhi - Ovos rotos e uns mirabolantes e estranhos croquetes de risoto de bacalhau (!). 

Este vinho (que não esteve em prova na paasada 2ª feira), feito de Maria Gomes, Bical, Arinto e Cerceal, fermenta com leveduras indigenas e tem apenas 12º de alcool. É um vinho muito mineral, citrico e vibrante, com alguma salinidade, bastante fresco, seco, com acidez crocante, volume e finais médios e que dá prazer a beber. Vai seguramente crescer em garrafa. Uma extraordinária relação qualidade-preço, para um vinho a ter em casa. PVP: 5€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Em Prova: Quinta do Cardo Caladoc Rosé Reserva 2015

Na "ressaca" da festa do quinto aniversário da garrafeira Garage Wines, trouxe este rosé, que gosto particularmente, para acompanhar uma noite de sushi. O sushi era competente. O vinho, superior. 

Caladoc é uma uva tinta resultante da mistura entre a Grenache e a Malbec, produzida em pequena quantidade, especialmente na região francesa da Provence, região de excelência na produção de Rosés. 

E esta casta na Beira Interior, cultivada em dois hectares experimentais na vinha da Encosta, na Quinta do Cardo, a 770 metros de altitude, deu origem a um rosé desconcertante, nas sábias mãos do jovem e promissor enólogo Luis Leocádio.

De cor salmão, é um vinho muito fino aromaticamente, com fruta vermelha e rosas, mas tudo num registo muito suave. Tão leve e mineral que até poderia passar por um branco. A boca então pode nos levar a isso mesmo, pois o estágio de dez meses em carvalho deu-lhe, estrutura, untuosidade e muita profundidade. Aliado a uma cor  bonita e pouco marcada. Poderia ser um branco às cegas! È rosé distinto, gastronómico, fresco e muito seco, cheio de classe. Delicioso. E acredito que possa ser de guarda...  PVP: 15€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Da Minha Cave: Quinta das Bageiras Reserva Tinto 2011

Este vinho veio literalmente da minha cave em Foz Coa, onde o descobri este fim-de-semana e decidi trazer. Era garrafa única, guardada antes de o Diogo nascer. É verdade que compro muito mais a referência Garrafeira das Bageiras, (branco e tinto), e menos o Reserva Tinto, mas comprovei que mesmo sendo produzido para um consumo mais imediato, o vinho evolui de forma agradável. 

O Quinta das Bageiras Reserva 2011 é feito de Baga 60% e Touriga Nacional 40%, fermentado em pequenos lagares, sem desengace e com posterior estágio em tonel de madeira avinhada. 

Apanhei-o numa fase determinante da sua evolução, onde a fruta primária começa a dar lugar a aromas terciários. Continua com uma boca com óptimo volume, bastante frescura e aquele lado calcário tão giro que os solos aportam aos vinhos bairradinos. Parece-me que entre a Baga e a Touriga anda aqui uma luta, nesta fase, na garrafa, o que deu um gozo enorme a beber. Penso ter sido consumido no momento certo, quiçá, até um ou 2 anos mais cedo fosse melhor. 

De qualquer das formas, acompanhou muito bem a feijoada de casulas e deu muito gozo a beber. PVP: 8,50€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Em Prova: Tazem Encruzado 2016

As Adegas Cooperativas estão cada vez mais apostadas em aumentar o nivel qualitativo dos seus vinhos. Isso tem-se visto com maior relevo em casas como a Adega de Cantanhede na Bairrada ou a Adega de Monção na região dos vinhos verdes, através da criação de novas referências, uma nova imagem e muita qualidade nos seus vinhos, sobretudo nos topos de gama. 

A Adega Cooperativa de Vila Nova de Tazem, da região do Dão é lendária sobretudo em tintos antigos, como por exemplo os garrafeira Jaen do principio dos anos 2000, entre outros e agora também procura se modernizar e criar uma imagem mais apelativa e atual. 

Provei recentemente não um topo de gama da casa (nem sei se existem), mas sim o Tazem Encruzado 2016, um vinho feito 100% da casta branca rainha da região, sem passagem por madeira, e que prouxe para casa abaixo dos 5€. 

Por esse valor, é um vinho muito correto, seco, boa acidez, com volume de boca médio, gastronómico qb e que dá gozo beber. Vale a pena. PVP: 4,5€. Garrafeira Vinigandra.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Em Prova: Murganheira Espumante Vintage 2007

Por qualquer razão, nunca tinha escrito umas palavras sobre este espumante; talvez por ter tanta classe que é dificil de descrever, assemelhando-se claramente a um (bom) champagne. Melhor do que muitos!

É feito 100% de Pinot Noir, na Távora Varosa, região onde se localizam as Caves Murganheira. O método de vinificação champanhês recolhe da casta Pinot Noir o "le coueur de cuvée", ou seja literalmente, o coração da primeira prensagem, a porção de maior qualidade do meio da prensagem, excluindo a primeira e última prensagem. Depois repousa em cave por cerca de 10 anos, antes de degorgment.

O resultado é um espumante cheio de classe, muito complexo e fino, com mousse perfeita e as notas de panificação e frutos secos tão apelativas de um bom champanhe - perdão grande espumante. Tudo num equilibrio e com um finesse, impressionantes. Nas garrafeiras encontra-se disponivel entre os 25€ a 30€. Apenas 15.000 garrafas produzidas. Imperativo ter em casa para, no minimo, brindar a uma celebração especial. Destaquei o Murganheira Vintage 2007 apenas porque é o que tenho em casa, mas bebi às cegas recentemente o 2006 e estava igualmente fabuloso, pois estes espumantes aguentam largos anos em garrafa.


Fabulosa e inacreditável foi a prova que a foto acima documenta - uma prova vertical desta referência, dos anos 2000 a 2012 e com uma qualidade monumental, impossivel de descrever por palavras. A prova foi proporcionada por Marta Lourenço, enóloga da Murganheira, e que desde que se encontra à frente dos destinos enológicos da companhia, revolucionou a Murganheira, garantindo a entrada de novas referências e um elevado standard de qualidade e consistência, ano após ano. 

A mais recente colheita no mercado do Murganheira Vintage é o 2009 (2008 esgotou no produtor), mas ainda se encontram os anos 2008 e 2007 em algumas garrafeiras. Eu sugiro, começem por comprar (e beber) o 2007 e depois seguindo para os outros, pois só ganhamc om o tempod e garrafa!

Sérgio Lopes

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Este país é (também e cada vez mais) de vinhos brancos

Durante muitos anos, Portugal foi um país de vinhos tintos, com pouca preocupação pelos métodos de vinificação, cuidado com as vinhas, etc., logo, resultando em vinhos de qualidade muito duvidosa. 

A partir dos anos 90, assistimos a uma verdadeira revolução em Portugal na forma cuidada, moderna e profissional de fazer vinho, transportando Portugal para um patamar de vinhos de qualidade inegável, sobretudo produzindo, tintos. Felizmente, nas duas últimas décadas e, sobretudo, nos últimos anos, temos assistido a um crescimento elevado de qualidade também nos vinhos brancos em Portugal, o que é excelente. Isto deve-se não só à aposta dos produtores nos tais métodos mais controlados de produção, mas sobretudo às castas que dispomos em Portugal, capazes de produzir brancos de enorme qualidade! França tem o Chardonnay ou o Sauvignon Blanc; Alemanha o Riesling, mas nós temos uvas como o Rabigato, Maria Gomes, Alvarinho, Encruzado ou Arinto, entre outras, que conferem uma identidade ao vinho de acordo com o local onde são plantadas. 
A Maria Gomes (ou Fernão Pires), é uma dessas castas que resulta em vinhos de características muito variadas, que espelham as condições locais chegando a parecer de castas diferentes. Mas é na Bairrada que atinge o seu esplendor sendo parte integrante dos grandes brancos de casas como Quinta das Bágeiras, ou Luís Pato, entre outras, brancos que aguentam o passar dos tempos de forma exemplar. O Rabigato, no Douro Superior, origina brancos minerais e muito crocantes em vinhos como D. Graça, Dona Berta ou Permitido, espelhando esse poder contido da casta. O Alvarinho, cuja região de origem, Monção e Melgaço, produz vinhos de aromas citrinos e tropicais, onde referências como Soalheiro, Regueiro ou os vinhos de Anselmo Mendes - Curtimenta, Expressões ou Muros de Melgaço, elevam a região dos vinhos verdes para uma dimensão mundial. E esta casta, o Alvarinho, começa a dar-se bem um pouco por todo o país, originando brancos soberbos, como o Poeira de Jorge Moreira, um branco duriense aclamado internacionalmente feito 100% de uvas Alvarinho! Ainda nos verdes, o pendor floral do Loureiro (Quinta do Ameal, Pequenos Rebentos VV) e o lado mais sério das castas Avesso ou Azal (Covela, Sem Igual), originam grandes vinhos brancos.
No Dão, o encruzado, origina brancos de classe, com notas florais e muita finesse, capazes de melhorar com os anos, quer passem por madeira ou não. São vinhos gastronómicos e de enorme prazer. Quinta dos Maias, Quinta das Marias, ou Fata, entre tantos outros, são obrigatórios à mesa e na nossa garrafeira. O Arinto, plantado um pouco por todo Portugal mas cujo expoente máximo ocorre em Bucelas, às portas de Lisboa. Confesso que esta casta me tem surpreendido em vinhos como Quinta da Murta ou Morgado Sta Catherina, pois quer com estágio em madeira ou não origina brancos com muita acidez e vertente citrina, que com o tempo desenvolve aromas terciários simplesmente deliciosos. E a Siria na Beira Interior que começa a entra na primeira liga do que melhor se faz em brancos...!

Definitivamente, Portugal é (também) um país de vinhos brancos, que devemos apreciar durante todo o ano! 

Sérgio Lopes
In Revista Paixão pelo Vinho

sábado, 6 de outubro de 2018

Fora do baralho: Alberto Nanclares Albariño 2015

Mais um Albariño que conheci, graças ao meu amigo André Antunes. Mas não é um Albariño qualquer... Impressionou-me pela elevada acidez, estrema salinidade e muita complexidade e frescura. 

Trata-se de um vinho, das Rias Baixas, proveniente de vinhedos de Val de Salnes, de vinhas com idades entre os 30 a 40 anos. A proximidade com o mar e a intervenção minimalista tornam este vinho realmente sui-generis. Confesso, que às cegas não o identificaria como Albariño sobretudo, por se tratar de um vinho tão vivo e com tanta frescura e salinidade (elevada mesmo) que não é propriamente para todos os gostos. 

A passagem de 9 meses em barrica usada, com battonage constante ainda contribui mais para lhe dar complexidade e muito gozo, a beber copo após copo. 

Fiquei mesmo fã. Muito mineral e salgado! Totalmente fora do baralho! PVP: 15€. Disponibilidade: Online.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Harmonizações: Quinta da Pedra Escrita 2016 e Pizza @VilaMar Restaurante e Pizzaria

Vinho provado às cegas, no restaurante Vila Mar, do meu amigo George Carvalho. É um restaurante que, para além da vista priveligiada sobre a praia de Salgueiros, em Vila Nova de Gaia, é um local onde se come muito bem e  no qual George trata (muito) bem o vinho. E George gosta de nos surpreender, muitas vezes às cegas, com as suas harmonizações...

Para além da Pizza que comemos nesse dia, há inúmeros pratos que vale a pena experimentar. Nesse dia, provamos alguns, com outros tantos vinhos a acompanhar. 

Destaco, no entanto, o Quinta da Pedra Escrita, branco de 2016, produzido por Rui Roboredo Madeira, com uvas provenientes da quinta com o mesmo nome, localizada em Freixo de Numão, no Douro Superior, a uma altitude média de 575 metros. Os solos graníticos fazem-se sentir de imediato, conferindo ao vinho grande mineralidade. Nariz com algum citrino, notas de pedra e mineralidade a predominar. A boca é muito fresca, crocante, com bom volume e final longo e refrescante. Seco.
              

Um belíssimo branco, cheio de garra e que brilha à mesa. Foi uma surpresa muito agradável nesse dia e passará a fazer parte das minhas escolhas, seguramente. PVP: 11€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Arena de Baco: 3 claretes, 3 regiões

Clarete é um tipo de vinho que costuma ser considerado um vinho ligeiro. Tradicionalmente era um produto da fermentação de uvas tintas de pele mais escura com uvas tintas de pele mais clara (blend de Bordéus), mas hoje em dia há quem adicione uma percentagem de uvas brancas para aligeirar a cor e tornar o vinho mais macio, criando na verdade um palhete, mas designando-o na mesma como Clarete. É tudo uma questão de marketing. De qualquer forma, os claretes são vinhos que se enquadram na categoria dos tintos, apresentando geralmente pouca extração, ou seja, corpo ligeiro, frescos, leves, com pouco alcool (entre os 11º - 12,5º) e de fácil consumo, sobretudo no Verão onde o clima grita por vinhos para consumir de forma mais despreocupada. Não quero com isso dizer que não são vinhos interessantes. Pelo contrário! E na minha busca por tintos menos pesados e mais fáceis de beber (vários copos), sugiro três claretes portugueses que devemos conhecer. E provenientes de 3 regiões diferentes:
O Morgado do Quintão é proveniente do Algarve e inspirado nas tradições ancestrais de fazer vinho na região. É produzido 100% da uva Negra Mole, autóctone da região e que por si só já apresenta cachos com uvas mais e menos carregadas de cor. A vinha é nativa e com mais de 70 anos, produzindo um vinho com cor aberta, combinando fruta e um lado vegetal. É Macio, com taninos finos e volume médio. Muito prazenteiro e bem conseguido. Naturalmente um sucesso de vendas na região Este ano aparece com um pouco mais de corpo que no ano pasado. 13,95€. O Respiro é proveniente  de Portalegre de vinhas velhas também com mais de 70 anos (provavelmente com alguma uva branca misturada nessa vinha velha). È um vinho também de cor aberta, bastante complexo até, muito fresco, com alguns apontamentos herbáceos e final muito saboroso. Gosto muito deste vinho de João Afonso. Misterioso e muito gastronómico. 12€. Por fim, o Uivo Renegado, de Tiago Sampaio (Olho no Pé). A cor é de vermelho pálido, quase rosado, podendo ser facilmente confundido por um rosé, em prova cega. Cheio de fruta vermelha muito fresca e bonita (morango, framboesa, romã), confirmada na boca. Só lhe falta um pouco mais de corpo na minha opinião para vencer o confronto com os 2 anteriores, mas brilha no prazer que dá, copo após copo, pelo equilibrio, frescura e leveza de conjunto. Quase que não apetece parar de beber. Um vinho onde o lote é constituído por 50% de uvas brancas e 50% uvas tintas, provenientes de uma vinha velha em Sabrosa - Douro. 7€ A descobrir. Os 3 vinhos, prazenteiros e com pouco alcool, num estilo em crescimento e afinação. 

Sérgio Lopes