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(Algumas) Vinhas da Quinta |
Inauguramos, hoje, uma nova rubrica, no blogue, intitulada de ENO-VISITAS, que pretende descrever sobretudo as experiências vividas, nas visitas a quintas e produtores vinícolas. E começaremos pela Quinta do Crasto, que tivemos a oportunidade de visitar na passada 6ª feira, após uma semana de visitas enófilas pela Bairrada e pelo Douro. Porquê começar pela última visita? Não sei explicar. Talvez pela forma completa como fomos recebidos, pela paisagem deslumbrante, pelos excelentes vinhos, pela viagem atribulada... Talvez por tudo. Foi um dia em cheio!
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Vista deslumbrante sobre o Douro |
Partimos no final da manhã do Pinhão em direcção à Quinta do Crasto. É de facto o trajecto mais curto, mas meus amigos, a estrada mete mesmo medo, com diversos prepicípios, largura reduzida e vestígios de deslizamento de terras. Lá do alto, a paisagem é deslumbrante, mas ainda bem que nos cruzamos com poucas viaturas e que não estava a chover... Um trajecto belo, mas difícil. Chegado à Quinta do Crasto fomos recebidos pelo Engº Manuel Lobo, que nos fez uma visita guiada pela quinta, sem esquecer a história que a Quinta do Crasto possui. Situada na margem direita do Rio Douro, entre a Régua e o Pinhão (em Gouvinhas - Sabrosa), a Quinta do Crasto, é uma propriedade com cerca de 130 hectares, dos quais, 70 são ocupados por vinhas. Acrescem ainda cerca de 120 hectares da Quinta da Cabreira, no Douro Superior, de onde provém o vinho Crasto Superior, fazendo jus ao nome. O total é de cerca de 250 hectares (!). Com localização privilegiada na Região Demarcada do Douro, é propriedade da família de Leonor e Jorge Roquette há mais de um século. Tal como as grandes Quintas do Douro, a sua origem remonta a tempos longínquos (o nome CRASTO, deriva do latim castrum, que significa Forte Romano) inclusivé um Marco Pombalino datado de 1758 pode ser visto na Quinta.
De facto, nas palavras de Manuel Lobo, a localização priveligiada das vinhas, bem como a sua qualidade e idade (algumas são centenárias, como por exemplo a Vinha Maria Teresa e Vinha da Ponte) é que fazem toda a diferença. Se a matéria prima é de excelente qualidade, "apenas" é preciso trabalhá-la bem. E nesse aspeto, a Quinta do Crasto possui modernas instalações que permitem ao simpático e apaixonado enólogo efectuar o seu trabalho de laboratório: Ano após ano, durante as vindimas, as uvas, provenientes de talhões previamente seleccionados, são transportadas em caixas de plástico alimentar, e sujeitas a uma rigorosa triagem à entrada da adega. Uma parte é enviada para os antigos lagares de pedra onde são pisadas por homens, seguindo o método tradicional. Outra parte é enviada para as novas adegas, com diferentes tipos de cubas Inox onde fermentam com temperatura controlada.
Após a vindima os diferentes tipos de vinho produzido são encaminhados para os respectivos armazéns:
- Armazém de Vinho do Porto onde estagiam em carvalho português
- Armazém de Vinhos Tintos onde estagiam em cubas Inox
- Cave de Vinhos Tintos onde estagiam em barricas de carvalho francês e americano
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Adega com Lagares Tradicionais de pisa a pe |
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Adegas modernas com cubas em INOX |
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Cave de estágio em barricas de carvalho |
Após a visita pela quinta e respectivas instalações, fomos almoçar. Sim, como eu disse, foi um dia completo. Tiveram a amabilidade de nos oferecer o almoço, preparado com todo o primor pela Dª Flora que criou uns bolinhos de bacalhau magníficos, com um arrozinho de tomate de comer e chorar por mais. Pena que eu não tenha estado nos meus melhores dias para usufruir na plenitude do almoço e degustação de vinhos, talvez devido ao acumular de provas durante a semana, ou talvez pela viagem "atribulada" a fazer lembrar as estradas retratadas em alguns filmes de David Lynch...
Seja como for, foi possível degustar a gama representativa dos vinhos da Quinta do Crasto. Começamos, como aperitivo, com um Crasto Branco 2010. Para além dos vinhos de mesa maioritariamente tintos (apenas um branco), também são produzidos Vinhos do Porto e azeite. Eis os vinhos (e o azeite) que degustamos ao almoço:
Como seria de esperar, TODOS os vinhos têm uma qualidade excelente e um traço comum de personalidade muito própria: Elegância, acidez e frescura, associadas a uma fruta vibrante.
Crasto Branco 2010
Produzido à base das castas brancas tradicionais do Douro, nomeadamente Gouveio, Roupeiro, Cercial e Rabigato. Um vinho leve, frutado e muito fresco. Pronto a beber. Muito agradável e de estilo moderno. PVP 10€
Crasto Tinto 2009
Produzido à base das castas tintas tradicionais do Douro, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Tinta Barroca e Touriga Franca. Um vinho sem madeira, logo muito frutado. Fácil de beber e muito agradável. PVP 10€.
Crasto Superior 2009
Feito com uvas provenientes da região do Douro Superior, da Quinta da Cabreira, e com 21% de vinhas velhas. Envelhece em barricas de carvalho francês por um período de 12 meses. Aqui já temos um vinho mais complexo, proveniente do estágio em madeira, mas mantendo a mesma bitola de elevada frescura, aliada a um final agradável e de excelente persistência. PVP 17€
Roquette & Cazes Tinto 2007
Tivemos o privilégio de provar este vinho, que nasce do encontro de dois amigos, Jorge Roquette da Quinta do Crasto e Jean-Michel Cazes do Château Lynch-Bages. Para este vinho, são usadas duas vinhas, com localizações diferentes no vale do Douro: Cima Corgo e Douro Superior. Com 60% Touriga Nacional - 15% Touriga Franca - 25% Tinta Roriz, e estágio em madeira de 18 meses. O resultado é: um grande vinho com as castas do Douro, um vinho que mostre estrutura e complexidade, que possua o poder e o sol de Portugal conjugados com a elegância de Bordeaux. Estou totalmente de acordo. PVP 18€
Crasto Reserva Vinhas Velhas 2008
Vinho proveniente de vinhas com mais de 70 anos de idade e com estágio em madeira de cerca de 15 meses. O que dizer do vinho? Fantástico. Estrutura, complexidade, frescura, persistência, elegância, tudo em harmonia e seguramente irá evoluir bem em garrafa. Não é a toa que recebu 94 pontos (!) na revista Wine E Enthusiast... PVP 24€
Provamos ainda um LBV de 1996, que o Manel teve a gentileza de servir e que estava no ponto!
Fica a promessa de em breve comentar os vinhos supracitados, de uma forma mais pormenorizada, assim que os voltar a beber, desta feita, no conforto do meu lar... onde poderei destrinçar mais pormenores sobre cada um destes magníficos vinhos.
Resta-me agradecer ao Manel e ao Pedro Guedes de Almeida, por terem tornado possível esta magnífica experiência. Fica a certeza de que o terroir de excepção aliado à paixão e tecnologia moderna com que são feitos os seus vinhos, sem descurar a tradição, perspectivam um futuro risonho, para a Quinta do Crasto. O presente já o manifesta. Os prémios e menções honrosas que têm vindo a granjear são o resultado de um trabalho sério e de qualidade em prole do melhor que o Douro apresenta. Parabéns e continuem o bom trabalho.
Sérgio Lopes
PS: No regresso para o Porto vim pela estrada que vai dar a Sabrosa. Recomendo. É bem menos sinuosa...!