Com o ano de 2019 acabadinho de chegar, é tempo de relembrar o que de melhor aconteceu em termos vínicos em 2018. Tarefa dificil, pois foi um ano riquíssimo em provas e eventos, com grandes vinhos e sobretudo muitas descobertas:
"Brancófilo" assumido, eu sou
Foi um ano em que massifiquei o consumo de vinho branco. Foi sem sombra de dúvida a minha bebida de eleição, com particular destaque para o Alvarinho. Nunca bebi tanto e tão bom Alvarinho como em 2018: Desde o Tempo de Anselmo Mendes, um Curtimenta de sonho, ao Contacto 2017, do mesmo produtor e num perfil de Alvarinho totalmente oposto, consensual, que bebi às caixas, de tão bom que está; às novas edições de Vale dos Ares, com particular destaque para o Limited Edition, que está delicioso, o Terrunho de José Domingues, ou o Reserva da Quinta de Santiago, os Soalheiro - principalmente o Granit, o Regueiro Barricas e finalmente o meu porto seguro ao longo do ano, Casa do capitão Mor Reserva 2015, que me deu tanto prazer. Mas nem só de Alvarinho vive o Homem (eu). Da beira Interior, o Quinta do Cardo Siria foi companhia constante cá em casa - O Luís Leocádio é um enólogo do "caraças"; os vinhos do Márcio Lopes (Permitido, Pequenos Rebentos), cujo 2018 se tornou o ano da sua consagração. Do Douro, o Secretum, em nova edição deste grande Arinto, ou o Kaputt de Álvaro Van Zeller um branco de 2008, blend de várias colhetas e ainda um Maritávora colheita 08 estrondoso!; da Bairrada andei pelos Luis Pato VV 11 e Vinha Formal 09, do Dão, o Álvaro de Castro Encruzado 2012 deliciou-me, ou o Fugitivo da Casa da Passarella e finalmente, de volta "aos verdes", outro dos meus portos seguros, o Sem Igual, de João Camizão - imperdivel.
Mas o branco que mais me impressionou sem sombra de dúvida no ano que findou foi o Quinta do Valdoeiro 1995, comprado e provado na visita à Messias e que foi o branco "velho" mais deslumbrante que bebi em 2018. Uma raridade que me deu um enorme prazer.
Com tanto branco, quando queria beber tinto, tinha de ser bom e sobretudo pouco extraído e que não fosse "pesadão". Procurei a elegância e a frescura e nesse sentido destaco Giz Vinha das Cavaleiras, um Bairrada moderno e num registo clássico, ou o Sidónio de Sousa Edição de Autor 2005. Dois vinhos que me deram muito gozo a beber. O garrafeira do Mário Sérgio, Bageiras, também está espetacular. Portanto Bairrada. Do Dão, Quinta do Carvalhão Torto, por exemplo, ou Fata. Do Alentejo, um extraordinário Mouchão Tonel 3-4 de 2011 que é de nivel mundial.
Quanto a "bolhinhas", para além da Murganheira (todos e qualquer um), destaco o Hehn Velha Reserva 2006, uma (re)descoberta; ou o Messias Blanc des Blanc Grand Cuvée, ou ainda continuando na Bairrada, o Marquês de Marialva Grande Cuvée - sempre otimo.
Quanto aos fortificados, o meu consumo foi residual, mas não posso de deixar de destacar o Alambre 20 anos, moscatel de Setúbal, na sua melhor edição de sempre e os Portos Vintage de 2016, super elegantes e com uma facilidade de prova impressionante. Mas o que mais me impressionou foi sem dúvida o Real Companhia Velha Colheita 1927, um vinho brilhante em todos os sentidos. De enorme dimensão, extremamente
elegante, super complexo, arrebatador. É denso, estruturado, quase que
mastigável, com final longuíssimo. Como é possível um vinho tão equilibrado e tão
longo com 91 anos! Engarrafado 3 dias antes para uma inacreditável masterclass de Portos que ocorreu no espaço 17•56 Museu & Enoteca da Real Companhia Velha.
As descobertas
Foi um ano em que procurei conhecer um pouco mais vinhos fora das regiões mais fortes de Portugal (Douro, Bairrada, Dão e Alentejo) e assim procurei no Tejo e Lisboa projetos emergentes e de qualidade, dos quais destaco a Quinta de São Sebastião (Arruda dos Vinhos), a Quinta do Arrobe (Santarém) ou Pinhal da Torre (Alpiarça) - todos projetos super interessantes, com vinhos muito equilibrados, frescos, de grande sentido comercial e que dão enorme prazer à mesa.
Mas a verdadeira descoberta e muito graças ao meu amigo André Antunes do restaurante Delicatum, foram os vinhos do Norte de Espanha, em particular da Galiza. É nas rias Baixas, ao redor do Vale de Salnes que ficamos impressionados com os vinhos produzidos – Albariños secos, com muita acidez e cheios de salinidade. A conhecer: Albamar, o nome provém da junção do sobrenome da família Alba com a proximidade das suas vinhas ao mar; Benito Santos, vinhas encostadas ao mar e finalmente Alberto Nanclares, um dos maiores magos a trabalhar a casta em Espanha. Todos estes produtores têm em comum a mínima intervenção possível na feitura dos vinhos, uvas de vinhas bastante antigas, algumas delas centenárias e a expressão salina e mineral do terroir. Que vinhos enormes. Também de Espanha veio um dos tintos que me deu mais gozo beber este ano, o Ultreia Saint Jacques de Raul Perez, um Mencia, cheio de equilibrio e frescura, a um preço de combate.
As Provas e as Visitas
Foi também um ano cheio de provas e visitas memoráveis. A destacar: Visita à
Murganheira com uma prova vertical inacreditável do espumante
Murganheira Vintage 2000 a 2012;
Visita à Casa de Paços, do amigo Paulo Ramos, com várias provas verticais, de raridades, num total de mais de 30 vinhos provados; Visita a
Sidónio de Sousa, na Bairrada, com a abertura de vários bagas antigos, com destaque para os Garrafeira 2005 e Vinho de Autor 2005, entre tantos outros, que
regararam um belíssimo Leitão, do Mugasa; As visitas e provas no evento
White Experience em Monção - Visita e prova
Vertical Deu-la-Deu na Adega de Monção, Visita e
Vertical Curtimenta e Parcela Única na Quinta da Torre de Anselmo Mendes, Visita e prova na
Quinta de Soalheiro, representativa de 5 vinhos da casa (Soalheiro clássico, Terramater, Granit, Primeiras Vinhas e Soalheiro 1989) e a Visita e vertical das referências Portal do Fidalgo e Vinha Antiga nas instalações da
Provam. Uau. Mas talvez a mais inacreditável tenha sido a prova que ocorreu na
CEV Dão com vinhos entre os anos 60 e 90 - irrepetivel e única e alvo de um post muito em breve. Foi um momento único.
Houve também espaço para jantaradas e almoçaradas onde se provou e bebeu muita coisa boa, desde as provas didáticas no Delicatum de André Antunes, passando por uma prova memorável organizada pelo Paulo Pimenta com Tintos de 2011 (inacreditável a qualidade dos vinhos em prova - Mouchão, Quinta do Mouro, Crasto Maria Teresa, etc ) até mais recentemente a prova organizada no ãmbito do aniversário do Grupo Cegos Por Provas de tintos de topo entre 40€ a 100€, de 2007 a 2001, com vinhos como Robustus 2008, Altas Quintas Crescendo 2007, Terroir 2221, Quinta da Pellada, Foz de Arouce, so para mencionar alguns. Ufa!
Os concursos
Foi também um ano em que tive o privilégio de ser convidado e fazer parte dos jurados de alguns concursos de vinhos nomeadamente, o Concurso de Vinhos do Festival do Douro Superior, o Concurso de Vinhos do Feira de Vinhos de Nelas (Dão) e o grande concurso, talvez o mais importante a nivel nacional, organizado pela revista Vinhos Grandes Escolhas - Escolha da Imprensa. Que honra. Muito obrigado.
Espero por isso um 2019 repleto de bons vinhos, mais surpresas e novas descobertas!
Sérgio Lopes