quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Em prova: Sem Igual 2017


Chegada ao mercado da novíssima colheita do vinho Sem Igual a de 2017, do meu amigo João Camizão. Numa altura em que as principais casas da região dos vinhos verdes estão a comercializar a colheita de 2018, João lançou o 2017 há poucos meses. É natural, pois normalmente os seus vinhos são totalmente diferenciadores, feitos para guarda e crescerem em garrafa, precisando de 3 a 4 anos para se mostrarem na sua plenitude. 

O "mix" de Arinto a contribuir com o corpo e estrutura, e o Azal com a elegância são a base deste vinho. Por agora, como habitual o vinho está a precisar de assentar, mostra-se um pouco fechado, muito mineral, com apontamentos citrinos e alguma fruta branca, mas muito tenso e cheio de poder contido. A boca é até um pouco austera, super fresca e com uma belíssima acidez refrescante. Dá já uma boa prova, mas precisa de tempo. Eu gosto por vezes de vinhos nesta fase, cheios do tal poder contido, mas esperando o tempo que é necessário, como por exemplo a colheita de 2016 que João ainda comercializa e está espetacular nesta fase, vale bem a pena! Prevê-se uma colheita de 2017, de novo sem igual! PVP: 13€. Disponibilidade: Garrafeiras

Sérgio Lopes

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Em Prova: Deslumbre 2017


O projeto do vinho "DESLUMBRE" nasceu à 7 anos numa "brincadeira" no sentido da criação de um vinho para consumo próprio, mas cedo Jorge Pinto se apaixonou pelo mesmo e decidiu criar e lançar o vinho Deslumbre, apenas 2 anos depois,  em 2014, com o objetivo de o comecializar. 

Proveniente da freguesia de Figueiras, concelho de Lousada, o Deslumbre 2017 é composto por: 40% Alvarinho, 40% Loureiro, 10% de Arinto e 10% Trajadura. Vinho com enologia António Sousa apresenta-se com um aroma com apontamentos citrinos e florais, muito fresco e apetecivel. Na boca apresenta um pouquinho de gás, típico do perfil de muitos vinhos da região e um ligeiro açúcar residual que não se sente em demasia, fruto talvez das castas Alvarinho e Arinto que tornam o vinho muito equilibrado e refrescante. Confesso que gostei do vinho e que dada a sua leveza, é vinho para desaparecer copo a copo, sobretudo quando o calor aperta. Um perfil típico da região, como a conhecemos. Sem exageros de doçura, no entanto, o que se aplaude.  PVP:4,5€. Disponibilidade: FB.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Em Prova: Quinta de Sanjoanne Terroir Mineral 2016

Só faltava este vinho (quer dizer ainda há o belíssimo Sanjoanne Superior), mas das minhas compras recentes, faltava falar do Terroir Mineral 2016, um dos vinhos do João Pedro Araújo que consumo com regularidade. 

Produzido das castas Avesso e Loureiro, em Amarante, trata-se de um vinho que faz jus à designação de "mineral" - com alguma austeridade e um traço acentuado a "pedra molhada" (bem sei que o descritivo "mineral" não é consensual - mas é mesmo o que parece!). 

Sente-se também alguma fruta branca e um travo limonado com alguma intensidade que lhe confere uma grande frescura. 

O conjunto é bem afinado e até com alguma delicadeza, com apenas 12,5º de alccol e que dá muito prazer a beber já. 

Mas esperemos mais um par de anos e então, esta referência ganha outra dimensão.  
Uma boa porta de entrada para os restantes vinhos que João Pedro Araújo produz na sua Quinta de SanJoanne. 

Um vinho que está sempre na porta do meu frigorífico. 

PVP: 7€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

sábado, 26 de janeiro de 2019

Em prova: Quinta de Sanjoanne Alvarinho 2016


A Quinta de Sanjoanne de João Pedro Araújo desde cedo apostou na produção de vinhos diferenciadors na região dos "verdes". Até pela escolha das castas, onde por exemplo, Alvarinho (o berço de origem é Monção e Melgaço como sabemos) ou Malvasia Fina, por exemplo. São vinhos que aguentam a passagem do tempo como poucos na região, não me canso de repetir.

Este Quinta de Sanjoanne Alvarinho de 2016 está, como habitual, super novo, mas já a dar grande prazer. A componente citrina da casta está bem evidente, num conjunto cremoso, delicado, sedoso e cheio de frescura com um toque de mineralidade. A plasticidade da casta Alvarinho a mostrar-se no terroir particular de Amarante de uma forma original e muito prazerosa. PVP:10,90€ . Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Da Minha Cave: Deu-la-Deu Colheita 2015


A Adega de Monção é uma produtora de vinhos de referência na região dos vinhos verdes, em particular da sub-região de Monção e Melgaço, quer pela relação preço/qualidade, quer pela quantidade que consegue atingir anualmente. Marcas como Muralhas de Monção ou Deu-la-Deu são já "clássicos" em qualquer grande superfície e escolhas seguras para o dia-a-dia. E as colheitas do ano "desaparecem" rápido (deve estar a sair a 2018), pois são vinhos de alta rotação nas grandes superficies.

Por sorte "esqueci-me" de uma Deu-la-Deu do ano de 2015 na minha garrafeira e pude apreciá-la agora. Ainda extremamente jovem, surpreendeu pela sua pureza de citrino (um dos marcadores da casta), a sua frescura e acidez crocante, para além de corpo médio e um final bem refrescante. Um digno exemplar de Alvarinho. Vindo de uma Adega Cooperativa, cada vez mais com o selo de qualidade. Muito bem.

Sérgio Lopes

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Da Minha Cave: Aneto Grande Reserva Tinto 2007


Este vinho é o topo de gama do produtor / enólogo Francisco Montenegro, que para além de diversos trabalhos como consultor (Quinta do Pôpa, Quinta do Arcossó, entre vários outros) tem o seu próprio projeto com a marca Aneto, e que já é uma referência no que de melhor se faz no Douro. Creio que as principais características de todos os seus vinhos são a harmonia e a finesse. A paixão que emprega na feitura dos seus vinhos, está completamente espelhada nos mesmos. O Aneto Grande Reserva Tinto 2007 é um vinho composto pelas castas Touriga Nacional e Tinta Roriz, em iguais partes, que estagia em barricas novas de carvalho cerca de 18 meses em 6 meses em garrafa. 

Foi seguramente dos primeiros projetos que me fez transportar para o univeros dos vinhos, corria o ano de 2011. E foi por isso com muitissimo agrado que bebei esta garrafa no passado sábado no restaurante Vilamar. Que belo regresso! Está um vinho na idade adulta, cheio de taninos amaciados pelo tempo, ainda com fruta, mas também com aromas terciários, que em nada aborrecem, antes enaltecem o vinho. A boca é envolvente, cheia de finura e seda. Termina longo e deliciosso. Acompanhou 3 harmonizações muitíssimo bem: Bacalhau com puré de grão, uma carne maturada e ainda uma coxa de pato assada. Elevando cada um dos pratos. Foi até à última gota. Bravo Francisco Montenegro. 

Sérgio Lopes

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Em Prova: Quinta de Sanjoanne Escolha 2014


Os vinhos Quinta de San Joanne são provenientes de Amarante. João Pedro Araújo é o produtor que também produz no Dão, sob a chancela Quinta da Vegia. João é um dos incorfomados da região dos vinhos verdes e daqueles que desde o inicio defendeu (e provou) que a região dos vinhos verdes é capaz de produzir grandes vinhos brancos, que desafiam a passagem dos tempos. A referência Escolha é como o próprio nome indica a selecção das castas que melhor se expressaram naquele ano. 

O Escolha 2014 é feito de Alvarinho e Avesso. Com apenas 11,5º de alcóol é um vinho que neste momento está incrivelmente jovem, apesar dos seus quase 5 anos. A nota dominante é uma fruta citrina (lima, limão, toranja), quase que parecem aquelas frutas que ao "trincar" fazemos "cara feia" tal a acidez que manifestam. O que neste caso é espetacular! 

Extremente seco, austero, com uma boca imensamente fresca, crocante, de final longo que só apetece beber. E já disse que apenas tem 11,5º de alccol? WOW. Ah e sem adição de gás carbónico... naturalmente 

PVP: 10,90€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Radar do Vinho: Quinta de S. Sebastião

Arruda dos Vinhos, como o próprio nome indica, é região de tradição vinícola,  e a Quinta de S. Sebastião é provavelmente o projecto mais identificativo desta sub-região de Lisboa. Propriedade de António Parente que se enamorou pelo local e decidiu "colocar no mapa a região de Arruda dos Vinhos". Para além do vinho, António tem uma outra paixão, os cavalos, que também podem ser vistos serenamente na Quinta. Trata-se de um projecto recente (as vinhas foram plantadas no inicio do século), sendo que o primeiro vinho nasce em 2007. A partir de 2012, o projecto entra em velocidade de cruzeiro, chegando este ano a ultrapassar o milhão de garrafas. São 80 hectares de vinha exterior à Quinta de S. Sebastião com diferentes solos e exposições, que permitem ter perfis de vinhos distintos. Que somam aos 10 hectares de vinha plantada na Quinta.

O projecto comporta as marcas Mina Velha (entrada), S. Sebastião (normalmente um lote contendo uma casta nacional e uma internacional) e Quinta de S. Sebastião, esta última com vinhos feitos exclusivamente com as uvas da quinta. O clima temperado e a proximidade com o mar conferem aos vinhos uma frescura e pendor gastronómico evidentes. 

A primeira vez que provei os vinhos da Quinta de S. Sebastião foi no Restaurante "O Fuso" precisamente na Arruda dos Vinhos, um restaurante onde se come uma bela (e gigante) posta de Bacalhau na Brasa... Recomendo! Os copos nem foram os melhores, onde foi servido o vinho, penso que branco, mas comportou-se muito bem. Isto no (já) longinquo ano de 2011...


Foi por isso com agrado que tive oportunidade de provar algumas das novas colheitas em comercialização. Da gama Quinta de S. Sebastião, o colheita branco 2017 (arinto, cerceal e sauvignon blanc) é um vinho focado nos citrinos, muito fresco, equilibrado, refrescante e que vai bem à mesa. O Rosé também de 2017 acompanhou bem uma pizza, mostrando-se um vinho com alguma fruta exótica e notas florais, corpo médio e de perfil comercial. Atenção apenas à temperatuta de serviço, para não induzir alguma sensação de doçura. O Quinta de S. Sebastião colheita tinto (Touriga Nacional e Roriz) é um vinho super equlibrado, daqueles vinhos da região de Lisboa, que são consensuais, numa conjugação perfeita entre fruta, algumas notas balsãmicas que lhe conferem complexidade acrescida e uma elegância de conjunto. Os 3 vinhos com PVP a rondar os 8€. Finalmente provamos os Quinta S. Sebastião Reserva Tinto 2016 e 2015 (PVP 12€ - Merlot, Syrah e Touriga; Syrah e Touriga, respetivamente), ambos provados em momentos e com pessoas diferentes. Foram ambos um sucesso - vinhos afinados, equilibrados, polidos e que agradam de uma forma geral. Um verdadeiro upgrade em relação aos colheita e daqueles vinhos que devemos ter por casa dada a sua versatilidade gastronómica.

Ficamos com vontade de provar os restantes vinhos, sobretudos os diversos monocastas, mas isso ficará para uma outra oportunidade.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Em Prova: Beyra Reserva Tinto 2016

Rui Roboredo Madeira é o nome por trás dos projectos Castello D´Alba - no Douro, marca sobejamente conhecida e disponivel nas grandes superficies, com inegável qualidade a um belo preço - e Beyra - na Beira Interior, também de fácil acesso nos hipermercados, mas talvez não tão difundido, embora igualmente de grande mérito. 

Assim trouxe, de novo, de uma grande superfície o vinho Beyra Reserva Tinto 2016 para acompanhar um cozido à portuguesa. Feito de Tinta Roriz (80%) e Jaen (20%) estagia 8 meses em barricas de carvalho francês (1/3) e americano (2/3). 

Trata-se de um vinho fresco e elegante, resultado dos solos xistosos de altitude, com uma cor intensa e focado na fruta silvestre, coadjudavo com alguma especiaria. 

Na boca apresenta taninos macios, presentes, mas redondos, em perfeito equilibrio de acidez. Termina de final médio, gastronómico e sempre com elegância. 13º de alcool.

Ligou muito bem com o cozido à portuguesa.

Por cerca de 8€, estamos na presença de um belo exemplar da região da Beira Interior.

Sérgio Lopes

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Em Prova: Marquês de Marialva Reserva Branco 2016

Idealizado por Osvaldo Amado, na Adega de Cantanhede, voltei a este Marquês de Marialva Arinto Reserva 2016 que tinha provado a meio do ano de 2018. 

Fácil de encontrar, por exemplo no hipermercado Jumbo, trata-se de um vinho branco da Bairrada, que mantém a chancela de qualidade ano após ano. Feito 100% de arinto, passa por madeira (25% do lote), que se sente, mas não aborrece. Ele está lá mas arredonda o vinho, combinando o lado citrino da casta com uma untuosidade muito interessante em boca. 

Mostra-se portanto um conjunto fresco, com toques minerais, os citrinos do Arinto e alguma fruta exótica. É fresco, com volume e final prazeroso - equilibrado. 

Um vinho muito bem conseguido, perfeito para a mesa, a um preço interessante. Muito versátil, acompanhou uma massa com carne.

É um vinho que normalmente precisa de algum tempo para se mostrar e só vai melhorando com a passagem do mesmo. Com 4 a 5 anos de garrafa estará provavelmente no melhor momento de consumo, mas já está muito equilibrado. Para se ir consumindo, portanto, com prazer.

PVP: 6,90€. Garrafeiras / Jumbo.

Sérgio Lopes

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Em Prova: Quinta do Cardo Tinto 2016

O Quinta do Cardo Branco foi companhia frequente ao longo do ano de 2018. Um branco untuoso, fresco e muito equilibrado, a um preço de arromba, que temos bebido às caixas. 

Esta semana passei no Jumbo e para além de comprar água, trouxe uma garrafa do Quinta do Cardo Tinto 2016 :-). Já o conhecia, mas queria prová- lo em casa, à mesa. E foi uma decisão acertada. Mostrou-se, como seria de esperar, pelas mãos do jovem e talentoso enólogo Luís Leocádio, um vinho com "tudo no sitio".

Feito de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, passa por madeira usada. É um vinho carregado de fruta preta madura, mas não sobrematurada. Parece que estamos a morder aquelas ameixas e cerejas pretas maduras. Depois apresenta também um lado especiado e notas de folha de tabaco que o tornam ainda mais fresco, aliados a um lado balsãmico que potencia tudo isso. Com taninos macios, é aveludado, equilibrado, de corpo médio e muito redondinho. 

Tivesse um final mais longo e naturalmente estaria noutro campeonato. Mas a rondar os 5€, temos aqui um belo vinho para o dia-a-dia e que se levarem para um jantrar de amigos vai surpreender e agradar de uma forma geral. Nice. PVP: 5,80€. Disponibilidade: Jumbo.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Prova inacreditável de Vinhos do Dão entre os anos 50 e 90, na CEV Dão

Inicio o ano de 2019 com o relato de uma prova memorável (talvez a mais esmagadora de 2018), que ocorreu no último dia do mês de Agosto, em Nelas. A prova decorreu no âmbito da Feira do Vinho de Nelas, no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, que promoveu uma prova dos seus vinhos mais raros e antigos. 


O Centro de Estudos do Dão é uma instituição que tem apoiado a região do Dão, quer na viticultura, quer no estudo e identificação das diferentes castas autóctones e que tanto diferenciam a região, contributo esse desde os anos 50 do século passsado até aos dias de hoje. O CEVDão possui ainda e fruto desse trabalho de investigação permanente, uma garrafeira recheada de pequenos (GRANDES) tesouros, brancos e tintos, que um grupo muito restrito de participantes teve o raro privilégio de provar.


A prova, foi conduzida pelos enólogos Paulo Nunes (Casa da Passarella) e José Carvalheira (Caves São João). Denominada "Vinhos produzidos no CEV Dão - Colheitas dos anos 50 a 90" abarcou alguns dos mais icónicos brancos e tintos, produzidos no centro, dos anos 50 a 90 do século XX – uma colheita por década. Algo muitíssimo raro, até porque alguns dos vinhos em prova, foram apresentados provavelmente mesmo uma última vez, pois existem muito poucas garrafas disponiveis.  


Os Brancos

Foram provados 4 vinhos brancos, dos anos 1958, 1963, 1974 e 1995. Apenas a década de 80 ficou de fora.


Iniciamos com um branco do ano de... 1958! Este vinho tem mais de 6 séculos de história. Bem, tem a idade do meu pai, vejam só! Olhando para o copo impressiona logo pela cor, nada carregada para um branco com 60 anos de idade. O nariz é extremamente complexo com alguma fruta ainda...! Mas é na boca que esmaga completamente, apresentando volume e uma acidez crocante que nos faz salivar, seca a boca, terminando muito longo e impositivo. Inacreditável juventude. Seguiu-se a prova do branco de 1963, outro vinho incrivelmente jovem, muito complexo de nariz, mais contido que o 58 e com algumas nuances de frutos secos. A boca é enorme, muito fresca, elegante e mineral. De novo a fazer-nos salivar dada a enorme acidez. Parecia que estavamos na presença de um vinho com 15 a 20 anos. Inacrivel.


O vinho seguinte datava de 1974. Estamos de novo na presença de um vinho impressionante, mas que depois dos dois anteriores sofre em comparação, pois eram ambos ENORMES. Ainda assim apresentou-se numa forma incrivel e não lhe daria mais do que 20 anos, provado as cegas. Seguramente. Finalmente, provado o branco de 1995. Aqui, abro um parentesis para informar que os 3 vinhos anteriores eram vinifcados através do processo tradicional de "bica aberta", com engaço, em lagares de granito, seguido de estágio prolongado, muitas vezes em Tonel de Carvalho, o que lhes conferia uma certa austeridade em novos, mas que por ventura explica a forma singular como chegam aos dias de hoje, cheios de vivacidade. Este vinho de 95 marca por assim dizer nesta prova a viragem para enologia moderna, com fermentações com temperatura controlada, desengace e o uso de Inox. Assim temos um vinho no copo com mais de 20 anos, mais próximo daquilo que é o nosso standard de  prova de um "vinho branco antigo", com notas mais familiares, como os "apetrolados", com menos camadas, por assim dizer, um pouco mais direto que os anteriores. Até na cor se aproxima dos mais antigos, provavelmente pelo processo de vinificação utilizado.


Os Tintos

Seguiu-se a prova de 5 vinhos tintos dos anos 1958, 1963, 1974, 1983 e 1996.


Começamos novamente em grande com o tinto de 1958, feito de um blend de várias castas, entre elas Touriga Nacional, Alfrocheiro, Bastardo, Tinto Cão, Jaen e Rufete. Um vinho enorme, com 60 anos, mas cheio de frescura, com muita elegância e uma boca enorme. Com alguma fruta ainda, vejam só. E a cor? Inacreditavelmente viva. Wow! Dificil de descrever de tão esmagador.


Seguiu-se o 1963, um tinto com a particularidade de ter sido feito 100% de Touriga Nacional, a casta rainha da Região. Embora não tenha sido consensual entre os provadores presentes, gostei muito deste vinho. Poder provar um TN do Dão de 63, chegar a 2018 com volume, boca sedosa, alguma fruta ainda presente e claro alguns aromas terciários, mas muita frescura e mais corpo que o 1958, é  a prova de que um monocasta pode também chegar muito longe. O 1974 volta a ser um blend de castas autoctones da região e estamos na presença de um vinho fresco, ácido ainda com taninos, mais vegetal que os anteriores - 1 bom exemplar de um bom vinho velho, daqueles que estamos habituados a provar, muito bem conseguido e que dá muito gozo a beber.


O colheita 1983 surpreendeu pela cor bonita e viva, pela forte presença de fruta no nariz e pelos taninos sedosos. Um vinho seco, macio e longo, de grande prazer. Ainda jovem. Finalmente o tinto de 1996, este então super jovem, parecendo ter acabado de sair para o mercado, por assim dizer. Cheio de fruta, com taninos por limar e muita acidez. Realmente singular, a pedir algo para comer! Aliás, praticamente todos se mostraram com alto pendor gastronómico.


Foi uma prova memorável a todos os niveis, repleta de vinhos icónicos que desafiam o próprio tempo e a forma como a região pode pensar o futuro, com base nestas experiências de sucesso.

Citando Paulo Nunes, «estes vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão são um verdadeiro tratado de enologia!»

Ora, nem mais!

Sérgio Lopes

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Os Meus Vinhos Provados em 2018

Com o ano de 2019 acabadinho de chegar, é tempo de relembrar o que de melhor aconteceu em termos vínicos em 2018. Tarefa dificil, pois foi um ano riquíssimo em provas e eventos, com grandes vinhos e sobretudo  muitas descobertas:

"Brancófilo" assumido, eu sou


Foi um ano em que massifiquei o consumo de vinho branco. Foi sem sombra de dúvida a minha bebida de eleição, com particular destaque para o Alvarinho. Nunca bebi tanto e tão bom Alvarinho como em 2018: Desde o Tempo de Anselmo Mendes, um Curtimenta de sonho, ao Contacto 2017, do mesmo produtor e num perfil de Alvarinho totalmente oposto, consensual, que bebi às caixas, de tão bom que está; às novas edições de Vale dos Ares, com particular destaque para o Limited Edition, que está delicioso, o Terrunho de José Domingues, ou o Reserva da Quinta de Santiago, os Soalheiro - principalmente o Granit, o Regueiro Barricas e finalmente o meu porto seguro ao longo do ano, Casa do capitão Mor Reserva 2015, que me deu tanto prazer. Mas nem só de Alvarinho vive o Homem (eu). Da beira Interior, o Quinta do Cardo Siria foi companhia constante cá em casa - O Luís Leocádio é um enólogo do "caraças"; os vinhos do Márcio Lopes (Permitido, Pequenos Rebentos), cujo 2018 se tornou o ano da sua consagração. Do Douro, o Secretum, em nova edição deste grande Arinto, ou o Kaputt de Álvaro Van Zeller um branco de 2008, blend de várias colhetas e ainda um Maritávora colheita 08 estrondoso!; da  Bairrada andei pelos Luis Pato VV 11 e Vinha Formal 09, do Dão, o Álvaro de Castro Encruzado 2012 deliciou-me, ou o Fugitivo da Casa da Passarella e finalmente, de volta "aos verdes", outro dos meus portos seguros, o Sem Igual, de João Camizão - imperdivel.

Mas o branco que mais me impressionou sem sombra de dúvida no ano que findou foi o Quinta do Valdoeiro 1995, comprado e provado na visita à Messias e que foi o branco "velho" mais deslumbrante que bebi em 2018. Uma raridade que me deu um enorme prazer.


Com tanto branco, quando queria beber tinto, tinha de ser bom e sobretudo pouco extraído e que não fosse "pesadão". Procurei a elegância e a frescura e nesse sentido destaco Giz Vinha das Cavaleiras, um Bairrada moderno e num registo clássico, ou o Sidónio de Sousa Edição de Autor 2005. Dois vinhos que me deram muito gozo a beber. O garrafeira do Mário Sérgio, Bageiras, também está espetacular. Portanto Bairrada. Do Dão, Quinta do Carvalhão Torto, por exemplo, ou Fata. Do Alentejo, um extraordinário Mouchão Tonel 3-4 de 2011 que é de nivel mundial. 



Quanto a "bolhinhas", para além da Murganheira (todos e qualquer um), destaco o Hehn Velha Reserva 2006, uma (re)descoberta; ou o Messias Blanc des Blanc Grand Cuvée, ou ainda continuando na Bairrada, o Marquês de Marialva Grande Cuvée - sempre otimo. 

Quanto aos fortificados, o meu consumo foi residual, mas não posso de deixar de destacar o Alambre 20 anos, moscatel de Setúbal, na sua melhor edição de sempre e os Portos Vintage de 2016, super elegantes e com uma facilidade de prova impressionante. Mas o que mais me impressionou foi sem dúvida o Real Companhia Velha Colheita 1927, um vinho brilhante em todos os sentidos. De enorme dimensão, extremamente elegante, super complexo, arrebatador. É denso, estruturado, quase que mastigável, com final longuíssimo. Como é possível um vinho tão equilibrado e tão longo com 91 anos! Engarrafado 3 dias antes para uma inacreditável masterclass de Portos que ocorreu no espaço 17•56 Museu & Enoteca da Real Companhia Velha.

As descobertas

Foi um ano em que procurei conhecer um pouco mais vinhos fora das regiões mais fortes de Portugal (Douro, Bairrada, Dão e Alentejo) e assim procurei no Tejo e Lisboa projetos emergentes e de qualidade, dos quais destaco a Quinta de São Sebastião (Arruda dos Vinhos), a Quinta do Arrobe (Santarém) ou Pinhal da Torre (Alpiarça) - todos projetos super interessantes, com vinhos muito equilibrados, frescos, de grande sentido comercial e que dão enorme prazer à mesa. 


Mas a verdadeira descoberta e muito graças ao meu amigo André Antunes do restaurante Delicatum, foram os vinhos do Norte de Espanha, em particular da Galiza. É nas rias Baixas, ao redor do Vale de Salnes que ficamos impressionados com os vinhos produzidos – Albariños secos, com muita acidez e cheios de salinidade. A conhecer: Albamar, o nome provém da junção do sobrenome da família Alba com a proximidade das suas vinhas ao mar; Benito Santos, vinhas encostadas ao mar e finalmente Alberto Nanclares, um dos maiores magos a trabalhar a casta em Espanha. Todos estes produtores têm em comum a mínima intervenção possível na feitura dos vinhos, uvas de vinhas bastante antigas, algumas delas centenárias e a expressão salina e mineral do terroir. Que vinhos enormes. Também de Espanha veio um dos tintos que me deu mais gozo beber este ano, o Ultreia Saint Jacques de Raul Perez, um Mencia, cheio de equilibrio e frescura, a um preço de combate.

As Provas e as Visitas

Foi também um ano cheio de provas e visitas memoráveis. A destacar: Visita à Murganheira com uma prova vertical inacreditável do espumante Murganheira Vintage 2000 a 2012; Visita à Casa de Paços, do amigo Paulo Ramos, com várias provas verticais, de raridades, num total de mais de 30 vinhos provados; Visita a Sidónio de Sousa, na Bairrada, com a abertura de vários bagas antigos, com destaque para os Garrafeira 2005 e Vinho de Autor 2005, entre tantos outros, que regararam um belíssimo Leitão, do Mugasa; As visitas e provas no evento White Experience em Monção - Visita e prova Vertical Deu-la-Deu na Adega de Monção, Visita e Vertical Curtimenta e Parcela Única na Quinta da Torre de Anselmo Mendes, Visita e prova na Quinta de Soalheiro, representativa de 5 vinhos da casa (Soalheiro clássico, Terramater, Granit, Primeiras Vinhas e Soalheiro 1989) e a Visita e vertical das referências Portal do Fidalgo e Vinha Antiga nas instalações da Provam. Uau. Mas talvez a mais inacreditável tenha sido a prova que ocorreu na CEV Dão com vinhos entre os anos 60 e 90 - irrepetivel e única e alvo de um post muito em breve. Foi um momento único.






Houve também espaço para jantaradas e almoçaradas onde se provou e bebeu muita coisa boa, desde as provas didáticas no Delicatum de André Antunes, passando por uma prova memorável organizada pelo Paulo Pimenta com Tintos de 2011 (inacreditável a qualidade dos vinhos em prova - Mouchão, Quinta do Mouro, Crasto Maria Teresa, etc ) até mais recentemente a prova organizada no ãmbito do aniversário do Grupo Cegos Por Provas de tintos de topo entre 40€ a 100€, de 2007 a 2001, com vinhos como Robustus 2008, Altas Quintas Crescendo 2007, Terroir 2221, Quinta da Pellada, Foz de Arouce, so para mencionar alguns. Ufa!

Os concursos


Foi também um ano em que tive o privilégio de ser convidado e fazer parte dos jurados de alguns concursos de vinhos nomeadamente, o Concurso de Vinhos do Festival do Douro Superior, o Concurso de Vinhos do Feira de Vinhos de Nelas (Dão) e o grande concurso, talvez o mais importante a nivel nacional, organizado pela revista Vinhos Grandes Escolhas - Escolha da Imprensa. Que honra. Muito obrigado.

Espero por isso um 2019 repleto de bons vinhos, mais surpresas e novas descobertas!


Sérgio Lopes