A
Quinta do Silval organizou no passado
sábado, dia 4, uma
prova cega de
vinhos 100% Touriga Franca, organizada por Miguel Abreu. Mais de uma vintena de provadores amantes do vinho deram notas de zero a vinte valores, a 18 vinhos de variadas regiões.
A Touriga Franca é possivelmente a casta portuguesa – é verdade, apesar do que o nome sugere – mais preponderante e desvalorizada do nosso território: bastaria dizer que é a casta com maior área plantada no Douro (cerca de 25% do encepamento total), ou que é fundamental nos lotes típicos desta região, tanto para os vinhos de mesa como nos Porto, e no entanto raramente é referida quando toca a mencionar “à primeira” as nossas castas autóctones por excelência. Ao que se sabe é referida pela primeira vez em meados dos anos 40, talvez do cruzamento entre as castas Touriga Nacional e o Mourisco (ou Marufo), perdendo para a primeira em exuberância mas ganhando em equilíbrio e robustez. Embora sem o poder de “contaminação” inquestionável da Nacional, a Franca “invadiu” também algumas outras regiões do nosso território, embora sem nunca conseguir a afirmação que detém no Douro – e ainda hoje é recorrente o abandono desta casta nos lotes de vinhos mais a sul do país.
A prova cega organizada pelo
Miguel Abreu partiu exactamente daqui: recolher em primeiro lugar alguns exemplares que desenhassem uma geografia da implantação da casta no nosso território – partindo do Douro e passando por Setúbal, Alentejo, Lisboa e Beira Interior – e colocá-las em confronto, com vários anos de colheitas a certificar a sua boa capacidade de envelhecimento. Curioso também é perceber como alguns destes vinhos só saem em anos excepcionais ou em pequenas produções, transformando-os em raridades difíceis de encontrar, a preços geralmente elevados. Da lista que se segue há que destacar as boas prestações de vinhos algo desconhecidos entre nós
(Encostas de Estremoz que venceu e Holminhos, do Douro Superior), a prova em amostra de barrica daquele que será um dos próximos
Scala Coeli da Adega da Cartuxa (depois de edição similar em 2009), e os aromas mais clássicos retirados do
Dorna Velha e do
Calços do Tanha; ou a boa classificação do vinho mais velho em prova, o
Quinta do Cardo 1998 de Figueira de Castelo Rodrigo.
Assim de repente só terá faltado talvez o Charme da Niepoort (base de Touriga Franca com vinha velha) e um ou outro de Távora-Varosa (Terras do Demo) e de Lisboa (Vale das Areias)... Sem modas ou desprezo infundado por outras castas, esta é para seguir com toda a atenção! Resultados da prova cega:
1º Encostas de Estremoz TF 2009 17,3
2º Holminhos Reserva TF 2007 17,1
3º Cartuxa (amostra de barrica) TF 2015 16,9
4º Dorna Velha TF Grande Reserva 2007 16,7
5º Calços do Tanha TF 2007 16,6
6º Herdade de S.Miguel TF 2010 16,4
7º Qta Ventozelo TF 2014 16,3
8º Qta do Portal TF 2009 16,2
8º Qta do Cardo 1998 16,2
9º Qta Aciprestes Colheita Seleccionada TF 2004 16,1
9º Herdade do Portocarro TF 2008 16,1
9º Plansel selecta TF 2014 16,1
10º Porca Murça TF 1999 16
10º Ermelinda Freitas TF 2013 16
11º Passadouro TF 2013 15,9
12º M Ravasqueira 2012 TF 15,7
13º Quinta da Romaneira TF 2014 15,6
14º Santos Lima 1999 15,5
De salientar que o Monte da Ravasqueira teve apenas metade dos participantes a classificar, uma vez que uma das garrafas tinha rolha.
Marco Lourenço (Cegos Por Provas)