sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Arena de Baco: Os Tintos da Talha, de Roquevale


A rubrica Arena de Baco pretende colocar frente a frente vários vinhos e só um sairá vencedor... embora isso pouco interesse tenha. O importante é falarmos mesmo de todos os vinhos, à sua maneira, pois no confronto,  com maior ou menor Knock Out, estiveram todos MUITO bem. 

O jantar foi promovido e organizado pelo blogger Amândio Cupido (garficopo), um dos bloggers da região Norte que melhor prova e mais contribui para a divulgação dos vinhos portugueses. O mote foi uma prova vertical dos vinhos Tinto da Talha Escolha, dos anos 2003 a 2010

BATALHA
  • 2010 (Aragonez, Touriga Nacional)  - Este vinho sofreu um pouco de uma possível não tão boa análise, devido à temperatura elevada a que foi servido. Com a temperatura certa mostrou-se perfumado, especiado, com notas de cacau / baunilha. Carácter quente na boca, mas com uma frescura que revela boa acidez. Termina de comprimento médio e com pendor gastronómico. 16/20
  • 2008 (Aragonez, Alicante Bouschet) -  Provavelmente o vinho mais fresco da prova. Notas fumadas, algo licoroso, com fruta a dizer presente. De novo a baunilha, mas um conjunto bastante harmonioso e guloso, pronto a beber. . 16,5/20
  • 2007 (Syrah, Alicante Bouschet) - Mais complexo que o 2008. Com mais camadas para descobrir. Carácter fumado mais uma vez, aroma intenso e profundo, mas a carecer ainda de ligação o que demonstra a vivacidade do vinho. O final mais longo que o 2008. Muito bom. 16,5/20
  • 2006 (Syrah, Touriga Nacional). O vinho mostra o calor do ano e a qualidade inferior do mesmo. Apresenta menos volume do que os anteriores, sente-se muito mais o calor e até se torna um pouco "chato" ao segundo copo. Claramente o irmão mais pobre em prova. 15/20
  • 2005 (Touriga Nacional, Aragonez).- Achei-o na linha do 2010, com a especiaria em evidência e o carácter fumado. Impressiona no entanto, a boa forma para um vinho do Alentejo com 11 anos. Peca apenas e só por algum excesso de calor. Mas muito bem16/20
  • 2004 (Syrah, Touriga Nacional)- Muito na linha do 2007. Complexo e elegante, com fruta presente, algumas nota químicas, mas tudo a dar uma prova muito equilibrada e saborosa. O final é bem longo e apetecível.. 17/20
  • 2003 (Touriga Nacional, Aragonez) - O melhor vinho em prova, que também foi a primeira edição desta referência. Fresco, perfumado, intenso, elegante, com fruta de muito boa qualidade. Final muito longo. Muito, muito bom..13 anos...! 17,5/20
Resumindo, foi uma prova que demonstra bem a qualidade e longevidade desta referência. A linha condutora foi sem dúvida a rusticidade (alentejana), o toque comum abaunilhado e especiado e o carácter gastronómico. Impressionantes os vinhos dos anos de 2003 e 2004 pela vivacidade e elegância. Destaque também para o 2008 pela harmonia e o 2007 pela profundidade. PVP 7,49€

May the Wine be with you...!

Sérgio Lopes

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Radar do Vinho: Vindimas 2016 na região da Bairrada

Agosto e Setembro trazem consigo a azáfama das vindimas na Bairrada, uma época onde os produtores jogam todas as fichas dum ano de laborioso trabalho e procuram na colheita obter a boa fortuna da qualidades dos seus vinhos. Das vindimas de 2016, acompanhámos algumas colheitas realizados pela Estação Vitivinícola da Bairrada, Caves dos Solar de São Domingos e Adega Campolargo.


ESTAÇÃO VITIVINÍCOLA DA BAIRRADA


Na primeira vindima que acompanhámos vindimava-se MARIA GOMES na Estação Vitivinícola da Bairrada, berço dos vinhos espumantes que há 125 anos começaram a ser produzidos na região. A acompanhar a reportagem esteve José Carvalheira, reputado técnico e enólogo da Bairrada. Muito há a dizer desta casta branca que veste grandes áreas da Bairrada e, neste final de Agosto, encontrava-se num estado interessantíssimo de maturação e equilíbrio entre açúcar e acidez. Sendo uma casta muito pobre em ácidos, torna-se necessário contornar esse défice através duma vindima muito precoce, num ano especial em que a maturação se encontra muito atrasada. A casta é muito aromática e não aconselha vindimas muito tardias, porque perdendo-se toda a acidez, vai criar vinhos muito pesados e enjoativos. É por isso crucial que o controlo de maturação, através de análises bissemanais, seja feito ao detalhe para que a colheita seja feita sem que a uva apresente um sabor herbáceo, revelando já a sua característica aromática (trepénica) e preservando ainda a sua acidez, que se perderá com maiores maturações. Neste dia de vindima, a uva apresentava um teor alcóolico de 12,0% e de 6% de acidez.
Se as temperaturas se mantiverem não excessivamente altas e sem chuvas, prevê José Carvalheira que este seja um bom ano para os brancos, ainda que com uma produção inferior à de anos anteriores.


CAVES DO SOLAR DE SÃO DOMINGOS


Na segunda vindima fomos visitar a Quinta de São Lourenço, vinha que tem plantadas Baga, Touriga Nacional, Arinto, Bical e Viognier, e que cria afamados espumantes e vinhos tranquilos das Caves do Solar de São Domingos. Numa vindima mais tardia que em anos anteriores, colhiam-se as uvas da casta BICAL, existente apenas na Bairrada e no Dão, assumindo na zona serrana o nome de “borrado das moscas”. Não é uma casta muito fácil, porque dificilmente atinge todos os anos as quantidades desejadas. É, por isso, chamada de casta “aneira”, sendo boa nuns anos e noutros não. O controlo de maturação foi feito com muito trabalho no terreno pelos técnicos que acompanharam A LEI DO VINHO numa quente manhã: César Almeida e a enóloga da São Domingos, Susana Pinho. Recolhidas e provadas as uvas, atingiu-se o controlo de maturação ideal para a vindima para espumante, que, naquele dia, atingiam um teor alcóolico de 10,5% e acidez de 7,5%, belíssimos indicadores para o produto final. E se é certo que a vindima de 2016 não é em grande quantidade – uma quebra na ordem dos 20 a 30%, por força dos ataques do míldio - tal não se mostra preocupante porque a qualidade sanitária e química da uva faz sorrir os artífices que com ela irão criar belíssimos espumantes.



ADEGA CAMPOLARGO


Por fim, visitámos a Adega Campolargo, onde além duma grande lição de história sobre a Bairrada e sobre o mundo dos vinhos leccionada por Carlos Campolargo, acompanhámos a vindima do PINOT NOIR para os grandes espumantes desta casa que possui uma das maiores áreas de vinha plantada da região – cerca de 100 hectares. Esta casta tinta, que chega à Bairrada com os técnicos e tecnologia trazidos de França há mais de 125 anos, enraizou-se na região - ainda que durante muitos anos se tenha perdido ou abastardado – e, hoje, a par da Baga, será a mais importante fonte de inspiração dos criadores dos grandes espumantes. Na Bairrada encontra-se certificado desde 2003. Num clima razoavelmente temperado, influenciado pela brisa marítima, o PINOT NOIR, “atleta de cintura fina”, colhido em condições de equilíbrio e num estado de maturação ainda precoce, conhece condições privilegiadas para a criação de grandes espumantes.Em vinhas plantadas há cerca 30 a 35 anos, a Adega Campolargo produz tintos e rosés tranquilos e espumantes com Pinot Noir. Num ano de produção baixíssima de Pinot Noir, com uma perda acelerada de acidez, a Adega Campolargo vindimou o PINOT NOIR para espumante branco com um teor alcóolico de 9% e 11% de acidez total.

https://www.facebook.com/aleidovinho2015/


Miguel Ferreira (A Lei do Vinho)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Em Prova: Soalheiro Espumante Bruto Rosé 2014


16/20. Espumante Bruto Rosé maioritariamente feito de Alvarelhão, casta tinta da região dos vinhos verdes, completado com um pouco de vinhão e touriga nacional. Este vinho apresentou uma cor rosa salmão, mas mais intensa do que o normal. No entanto, mostrou-se com a tipicidade característica de um rosé, com fruta fresca vermelha, leve, alguma mineralidade e um conjunto harmonioso e equibrado, com a bolha fina, boa mousse e complexidade qb, com a marca de qualidade habitual "Soalheiro". Gostei. PVP: 12,99€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

‘Encontro com o Vinho e Sabores’ de 30 de Setembro a 02 de Outubro

Está de volta o  Encontro com o Vinho e Sabores 2016’ (EVSB) que se realiza de 30 de Setembro a 02 de Outubro. O palco volta a ser o Velódromo Nacional - Centro de Alto Rendimento de Sangalhos, no concelho de Anadia, numa organização conjunta da Comissão Vitivinícola da Bairrada, do Município de Anadia e do Turismo do Centro de Portugal, com produção da Revista de Vinhos e apoio da Rota da Bairrada, Instituto da Vinha e do Vinho, ViniPortugal, entre outras entidades.

O sucesso das edições anteriores dita que o formato se mantenha: feira de vinhos e sabores ao longo dos três dias do evento, três provas de vinhos comentadas por críticos da Revista de Vinhos (uma por dia), dois jantares temáticos e a edição de 2016 do ‘Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada’.

Um evento imperdível!

INFORMAÇÕES ÚTEIS
Evento: Encontro com o Vinho e Sabores Bairrada 2016
Data: 30 de Setembro a 02 de Outubro
Local: Velódromo Nacional . Centro de Alto Rendimento de Sangalhos
Morada: Rua Ivo Neves, 405 . Sangalhos . Anadia
Horários: 17h00 às 22h00 (sexta-feira); 15h00 às 22h00 (Sábado); 15h00 às 20h00 (Domingo)
Entrada: Livre
Preço Copo e Bolsa: €3,00 ou €2,00 (desconto de €1,00 a quem apresente convite devidamente preenchido)
Preço Provas Comentadas: €10,00 (Sexta-feira e Domingo); €20,00 (Sábado)
Preço Jantares Temáticos: €35,00, com vinhos incluídos

PROGRAMA
Sexta-feira . 30 Setembro
17h00 - Inauguração do EVSB
18h00 - Prova “Bairrada Blend”, por crítico de vinhos da Revista de Vinhos
19h30 - Entrega de Prémios do ‘Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada 2016’
20h00 - Jantar Temático “Sabores da Terra”, por Nova Casa dos Leitões (no restaurante do EVSB)
22h00 - Encerramento
Sábado . 01 Outubro
15h00 - Abertura
18h00 - Prova “Bairrada - Três Vindimas de Excelência: 1991, 2001 e 2011, por Luís Lopes (no Museu do Vinho Bairrada)
20h00 - Jantar Temático “Sabores do Mar”, por Salpoente (no restaurante do EVSB)
22h00 - Encerramento
Domingo . 02 Outubro
15h00 - Abertura da Feira
15h30 - Prova “Espumantes de Baga”, por crítico de vinhos da Revista de Vinhos
20h00 - Encerramento do EVSB


Sérgio Lopes (in Press Release)







domingo, 25 de setembro de 2016

Em Prova: Covela Edição Nacional Avesso 2015

16/20. Localizada em Baião, coladinha ao Douro, mas na região dos vinhos verdes, a Quinta da Covela consegue reunir o melhor das duas regiões, produzindo vinhos moldados pelo xisto duriense e pelo granito minhoto. Este já clássico Avesso da casa continua com o patamar de qualidade a que nis habituou: cor amarela pálida. Aroma deliciosamente fino e fresco, com fruta amarela e leve tom floral. Muita mineralidade que depois se prolonga na boca, acentuada por uma acidez crocante, num conjunto muito elegante e viciante. Um avesso domado, aqui um pouco mais "ácido" que noutros anos, mas sempre com grande harmonia de conjunto. Vai crescer em garrafa. PVP: 7,5€. Disponibilidade: Garrafeiras e Grandes Superfícies.

Sérgio Lopes

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Premium Wine Party, Porto, by Paixão pelo Vinho

No próximo domingo, dia 25 de Setembro, das 15:00 às 21:00 horas, realiza-se a Porto Premium Wine Party, no Porto, mais precisamente no Hotel Premium Downtown, na sala panorâmica do Portobello Rooftop Restaurante & Bar e no terraço respetivo. A festa é organizada pela revista Paixão pelo Vinho, com o apoio do Hotel Premium Downtown. 
 
Serão mais de 100 as referências vínicas portuguesas disponíveis para prova, entre brancos, rosados, tintos, generosos e espumantes e 3 provas temáticas: Ás 16:00h realiza-se a prova “Quinta da Barca: Os vinhos portugueses mais premiados no Concurso CERVIM Viticoltura Eroica(Douro); às 17:30h será a vez da masterclass  “Vinhos do Porto Quinta da Devesa”; finalmente, às 19:00h é a vez de provar “Alvarinhos Valados de Melgaço”. Os lugares para estas ‘Provas Especiais’ estão limitados a 18 pessoas, sendo recomendado o pedido antecipado de reserva de lugar para o telefone 969 105 600 / 211 352 336 ou para o e-mail: purplesummer.media@gmail.com.

O acesso à festa realiza-se no ckeck-in instalado no 9º andar do Hotel Premium Downtown. A pulseira ‘Party’ custa 5€ e contempla a oferta do copo de prova. A pulseira ‘Premium’ custa 10€ e contempla um copo de prova, um crachá Paixão (à escolha entre as várias opções da coleção) e a inscrição numa ‘Prova Especial’ (é recomendada a reserva antecipada), cada ‘Prova Especial’ extra terá um custo adicional de 5€.

Sérgio Lopes (in Press Release)

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Da minha cave: Frei João Reserva Tinto 1963

Olhando para a foto à direita, aposto que quase não dá para acreditar que um vinho com mais de 50 anos apresente esta cor tão viva e jovial. Impressionante. Verdadeiramente impressionante. Quem o provou, apontaria para um vinho com evolução, entre os 10 a 20 anos de idade, nunca 53 anos...!

Mas trata-se da Bairrada em todo o seu esplendor e também de um dos produtores, Caves São João,  onde se pode à data de hoje passear pelas suas "catacumbas" (caves escurinhas), composta por autênticos túneis à moda de Indiana Jones e o templo perdido e deparar-se com inúmeras referências, entre tintos e brancos, que contam a história da região.

Este Frei João Reserva Tinto é do mítico ano de 1963 e curiosamente não foi adquirido no produtor, o que daria garantias óptimas de guarda. Não foi o caso. Comprado antes numa garrafeira que até nem trata muito bem os vinhos antigos, apesar de possuir muitos, claro está em mau estado, fruto de uma guarda, no mínimo, descuidada.

É pois ainda mais impressionante que este vinho tenha sobrevivido ao passar do tempo em tão boa forma e que naturalmente dá enorme prazer a beber.

Um testemunho de longevidade ímpar de uma região e uma referência incortonável e completamente "fora do baralho".

Sérgio Lopes

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Fora do Baralho: Os "Rufias" do Dão

O título deste texto, com a menção a "Rufias" é mesmo propositado. Trata-se do nome dos vinhos de "entrada" do vigneron do Dão, João Tavares de Pina,  também ele um pouco "um rufia" à sua maneira, no mundo dos vinhos, tal é a forma tão particular de fazer e comunicar os seus vinhos. São vinhos que  evocam o passado, vinhos de que João gosta e que fogem claramente a modas e modernices fáceis. É para quem gosta de vinho a sério. Para quem aprecia. Estes "Rufia" são os mais novos, o branco de 2015 e o tinto de 2014. Não é comum, pois as suas referências Terra de Tavares e Torres de Tavares estão anos e anos em garrafa, antes de saírem para o mercado. Anda-se a beber ainda o 2002...!

Mas voltemos aos Rufia, pois a sua aparente juventude, não retira em nada a sua qualidade e singularidade.. O branco de 2015, aqui exemplificado na imagem ao lado, sem frutas tropicais ou doçuras banais. A cor parece de um vinho evoluído... mas nada disso. Tem sim uma enorme frescura, mineralidade e grande pendor gastronómico. Viciante! 

O tinto de 2014, cheio de aromas a bosque e adega, mas tudo num registo de frescura e vivacidade. Gastronómico, sem máscaras e com apenas 11,5º de álcool. Como é que Tavares de Pina consegue fazer estes vinhos? 

PVP: 7,5€

Sérgio Lopes

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Conceito considerado dos melhores brancos de 2015 para Mark Squires

Depois da revista norte-americana Wine Spectator, chegou a vez do portal eRobert Parker/Wine Advocate destacar os vinhos brancos do Douro. No topo da tabela está o Conceito Branco 2015, ao qual foi atribuída a expressiva nota de 95+ pontos. Nesta classificação, o símbolo “+” indica que o vinho ainda pode subir a pontuação no futuro, com a sua evolução em garrafa.

Sobre o Conceito Branco 2015, o crítico não esconde o seu entusiasmo, afirmando que este é “provavelmente o melhor branco feito até ao momento [no Douro] e um bom testemunho da qualidade da colheita de 2015.” Na nota de prova oficial, Mark Squires afirma que este é um vinho “com acidez harmoniosamente equilibrada e uma frescura de cortar a respiração”. Quanto à evolução no futuro, é com expectativa que prevê que o vinho venha a ganhar, e muito, com o tempo em garrafa.

Este é, sem dúvida, um motivo de orgulho para Rita Marques, responsável pelos Vinhos Conceito. Segundo a enóloga, “2015 é, para nós, o melhor ano de sempre, e isso é já notório nos vinhos brancos que já estão engarrafados.” Uma opinião partilhada por Mark Squires, que garante que “vale a pena ficar entusiasmado com os brancos portugueses. A qualidade global aumentou consistentemente nos 10 anos em que tenho acompanhado de perto.”

Na mesma publicação, o provador destaca outro vinho de Rita Marques. O contraste Branco 2015 recebeu 91 pontos e é descrito como, provavelmente, o melhor da sua linhagem até ao momento.

Mark Squires, um dos mais prestigiados e influentes críticos de vinho, mostrou-se rendido aos vinhos brancos nacionais, em geral, e deixa uma recomendação: “para brancos de 2015, é muito simples: compre, compre e compre ainda mais”.

In Press Release

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Um copo com... Hugo Mendes

Hugo Mendes é o enólogo da Quinta da Murta, na região de Bucelas (Lisboa), onde desde 2005 mostra o que melhor a casta Arinto pode proporcionar na sua região de origem. Carismático, colabora nos projetos (Quinta das Carrafouchas e Vale das Areias) para além de ser o criador do blogue The Wizard Apprentice, onde assume a vocação para “winemaking evangelist” Natural e residente na cidade de Santarém, fugiu à investigação cientifica que a sua formação em Engenharia Biotecnologia faria antever, para se refugiar na pacatez das adegas e no mundo mágico da enologia.


1. Olá Hugo, conta-nos por favor o teu percurso no mundo dos vinhos. Como tudo nasceu e quais os planos para o futuro.Resumidamente. Sempre fui um entusiasta da ciência, sempre quis ser cientista. Talvez por isso sempre me tenha sentido mais atraído para perceber a forma como as coisas funcionam do que pelo apreço das coisas em si. No vinho foi diferente, atraem-me as duas partes. Gosto das coisas do vinho desde a adolescência, mas tratava disso como um hobby, nunca tive pretensões a trabalhar na área. O meu objectivo era ganhar um prémio nobel pela descoberta da cura para o cancro.

Contudo, já entrei para a faculdade com 23 anos e quando estava a terminar comecei a pensar que talvez fosse velho para iniciar uma carreira científica séria. Também não estava com muita vontade de trabalhar fora de Portugal, por isso olhei em volta e a hipótese óbvia foi o vinho. Um facto curioso desse tempo, todos os livros da minha eno biblioteca (nesses dias ainda muito parca em títulos) eram técnicos, não tinha nenhum sobre prova ou apreciação de vinho. Todos eram sobre os segredos da arte.

Decidi fazer uma vindima para ver se realmente gostava daquilo. Fui para a Quinta da Alorna. O primeiro ano da Martta Simões lá (2004) que, juntamente com o Nuno Cancela de Abreu me fizeram perceber que era nisto que queria trabalhar. Além disso, tinha a real sensação de que há muito ainda por fazer neste meio. Sou um tipo de desafios. Adoro pegar em coisas difíceis e leva-las a bom porto. Sou viciado nas fazes de desenvolvimento e crescimento de uma empresa. 

Depois foi rápido. Vim para a Murta como adegueiro/analista e fui aprendendo o que podia, ensaiando e testando muito e naturalmente fui ganhando o meu espaço. Com o tempo e os vinhos (julgo) foram aparecendo as oportunidades de me juntar a outros projecto enquanto consultor de enologia. 

Estou numa fase de mudança. A Quinta da Murta atingiu a fase de cruzeiro no que às questões de enologia diz respeito. È hoje um produtor maduro com conhecimentos muito sólidos do seu terroir, da sua uva e da sua filosofia de produção. Desta forma, no futuro próximo vejo-me a dar uma ajuda mais efectiva na consolidação dos outros produtores onde estou envolvido. Estou também a preparar vinhos para dois projectos, um em nome individual e outro em parceria com o meu bom amigo Ricardo Ramos. Possivelmente aceitarei mais um ou dois projectos que sejam igualmente desafiantes. Há ainda o Inspira Portugal que se prepara para arrancar com um fôlego novo e uma cadência certa.

Para já é isso. Logo que tudo esteja a andar, há muita ideia ainda para sair da gaveta!

2. Tenho bebido ultimamente vinhos produzidos de Arinto, com alguns anos e com uma notável boa evolução e complexidade. Não apenas em Bucelas, mas por exemplo na região dos vinhos verdes ou na Bairrada, entre outros. Achas que é a melhor e mais versátil uva branca do país?Não gosto desses títulos. São muito perigosos. È uma casta muito versátil e fiável sem dúvida. É muito amiga do viticólogo e do enólogo e pode originar vinhos maravilhosos ou ser uma peça chave na sua composição. Merece ser tratada com respeito e tem a sua máxima expressão quando não se força a ter aromas inexistentes ou a fazer vinhos prontos a beber de imediato. 

3. O que gostas de fazer nos tempos livres?
Lêr é a minha paixão. Se alguém me pagasse só para ler… Gosto de fazer desporto (ténis e corrida). À parte da companhia da família, desfruto cada vez mais do prazer de estar à mesa com os amigos. Não tenho tempo ou disponibilidade financeira para muito mais. Adoro viajar, escrever e fotografar.

4. Descreve as férias dos teus sonhos, onde vais, por quanto tempo e porquê?
Não tenho algo que se possa apelidar de férias de sonho, mas tenho algumas ideias que passam por ai e que gostaria de as ver cumpridas um dia. Gostaria de percorrer o pais todo a pé. Gostaria de fazer visitas de estudo a todos os produtores mencionados no livro “In Search of Bacchus” do George Taber. Gostava de conhecer o Nepal e escalar a montanha. Gostaria de visitar os locais mais isolados e ermos da Terra.

… por ai!

5. Qual tem sido na tua opinião o papel dos bloggers e enófilos apaixonados nos últimos anos para o sector? Presumo que chamas enófilo apaixonado à malta que vai para as redes sociais mostrar o que está a beber (enófilo já pressupõe paixão). Choco-te se te disser que não têm papel nenhum? Ou melhor, têm! Têm tido o papel de tranquilizantes a custo zero para produtores que não entenderam ainda o que é esta coisa da comunicação.

Continuo a ver muito barulho (e cada um está no direito de fazer aquele que quiser, não critico, apenas menciono o facto) mas nada de concreto. Tirando aqueles que apostaram para acções mais concretas e quiseram adicionar algum valor à sua actuação, com a criação de pequenos eventos (para dar um exemplo mais palpável), continuamos com o formato do início. Críticos de vinho “por conta própria” que massajam o ego do enólogo ou do produtor (e eu agradeço todas as massagens que me fazem), mas que não adicionam real valor ao sector. Que se entenda, não estou aqui a defender ou a atacar ninguém. Respeito tudo e quase todos, mas acho que anda tudo “fora de jogo”. No limite concorrem com os críticos profissionais pela atenção dos produtores e não dos consumidores que é quem interessa à produção.

Malta porreira na sua maioria. Fazem com gosto. Mas honestamente… trabalho inócuo. Espero que tenham muito prazer no que fazem, assim não se perde tudo.

6. Conta-nos uma peripécia que tenhas vivido no mundo dos vinhos. Há muitas, talvez as “melhores” ainda não as possa contar. Sou um tipo de humor mordaz e com tendência a estar no local errado à hora certa. Meto-me em sarilhos com facilidade. J

Que tal esta?: http://www.twawine.com/search/label/Est%C3%B3rias


7. Como vês o panorama vínico em Portugal, quais os desafios e oportunidades?
È indiscutível que temos hoje um conhecimento técnico que não tínhamos no passado. Enólogos e Viticólogos estão ao nível do que de melhor se faz no mundo.

Contudo, continua por definir uma estratégia e caminho comum para a identidade de Portugal enquanto produtor de vinho. Precisamos de ser associados a uma ideia.

Nem todos os vinhos que França produz são de grande qualidade (apenas 5% o são), no entanto são o porta estandarte da elevada qualidade e do estilo velho mundo.
No passado achei que não definíamos isso por ignorância. Hoje percebo que é por conivência com a incompetência. Uma estratégia e um caminho iriam exigir responsabilização, tomadas de decisões e criaria bases para uma coisa que os portugueses não gostam. Avaliação. Esta questão varre todos desde a produção à crítica. Para mim, ultrapassar esta pedra no caminho é o grande e primeiro desafio.

Quanto às oportunidades, obviamente saliento a nossa geografia, que nos permite vinhos completamente diferentes mas com muita identidade em locais muito próximos entre si. Há muito tempo que defendo que o turismo de qualidade e de luxo aliado ao enoturismo são o caminho natural para a economia do sector florescer e ajudar à exportação. Quantos mais embaixadores fizermos em nossa casa mais procura os vinhos terão nos mercados de destino. 

8. O que te faz realmente tirar do sério?
Incompetência militante, falta de rigor, molezas em tempos de stress, indecisões, mentira, acções desajustadas da missão e visão dos projectos, facilitismos, malta que acho que a borla é o preço justo para um vinho …

… gente a comer maçã ao pé de mim!

9. Momento: refere uma música preferida; local de eleição e companhia; e claro vinho a condizer. Lá está… Também aqui não posso afirmar que tenho uma música preferida, a música do momento requer sempre harmonização.

Fim de um dia de verão, aquela hora do sol laranja que pinta o céu. Quintal da minha casa na mesa grande de verão. Família e alguns amigos. Estivemos a cozinhar qualquer coisa (os meus amigos têm de ajudar na minha cozinha) e agora estamos sentados à mesa. Ouve-se Mark Knopler, Buika ou alguma outra coisa que tenha assim umas guitarras cruas, mas sem ruido e bebe-se Quinta da Murta colheita 2012 fresquinho.

Tiro muito prazer das combinações simples com carga emocional.

10. Qual o melhor vinho que alguma vez provaste?
Não sei. Sabes que não guardo referências de marcas. Guardo perfis e desconstruções de vinhos. Os vinhos mais icónicos (aqueles cromos de caderneta) provo-os na companhia de outros enófilos e sempre com a pressão de ter de achar qualquer coisa. Não é nesses que encontro aquele que mais prazer me dão. Lembro-me no entanto de uma garrafa de champagne Cristal que me deixou a pensar durante vários dias. Num sentido diferente, a primeira vez que provei um Fernão Pires do Tejo com 20 anos e gostei também me fez repensar muita coisa. Um Cos d'Estournel na sala de prova da adega. Estás a ver a ideia? Vinho ligados a momentos ou que me façam pensar em como são feitos.

Contudo, consigo apontar-te os piores. Numa feira em Londres provei vinhos da India e da Mongólia feitos com castas francesas. Ainda são o top das coisas que menos gostei. 

Sérgio Lopes

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Em Prova: Olho no Pé Moscatel Galego 2015

16/20. Novidade "fresquinha" acabadinha de sair da mente de Tiago Sampaio, a colheita 2015 do seu Moscatel Galego, a sua interpretação do que esta casta extremamente aromática pode aportar. E claro, nada de exageros aromáticos que podiam tornar perigosamente enjoativo este vinho. pelo contrário, temos essa complexidade aromática, com notas exuberantes florais e citrinas bem evidentes da casta, mas apoiadas em apontamentos vegetais e muita mineralidade. Na boca é fresco, com uma acidez no ponto, terminando de bela persistência. Um belo exemplar da casta. Ou melhor mais um grande branco deste produtor duriense! PVP: 6,50€. Disponibilidade: El Corte Ingles.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Fora do Baralho: Quinta dos Carvalhais Espumante Reserva Rosé 2002

Não vou dar nota de prova a este "bolhas", pois seria injusto, face à data em que este vinho foi provado. Foi provado, claro, nas condições de temperatura, copos e companhia corretos, mas o que ele passou, ninguém sabe. Estou a exagerar. 

Digo "Fora do Baralho" pois este vinho terá ficado anos esquecido, com a garrafa de pé, num café que vende "umas coisas antigas porreiras" e que ninguém ainda tinha reparado nesta pérola.

A cor alaranjada "brutal" assusta qualquer um. É um facto. Ficamos a olhar para o copo, sem saber o que iria resultar da prova. Um espumante Rosé, com quase 15 anos, quando na verdade todos os entendidos defendem que o espumante não é para guardar...

Surpresa, ainda tinha bolha e bem presente. Uma evolução muito boa e prazerosa, num aroma complexo e boca ainda muito fresca. Porreiro, pá! Acompanhou um queijinho de Nisa muito bom!

Terá sido  um "tiro de sorte" ou a prova de que se o vinho base for bom (neste caso maioritariamente Touriga Nacional e Encruzado), o futuro do "bolhas" está assegurado?

Sérgio Lopes

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Em Prova: A. Henriques Espumante Super Reserva Bruto


15,5/20. Continuando nos "bolhas" e nas Caves da Montanha, falo agora do A.Henriques Super Reserva Espumante Bruto, um "bolhas" trazido pelo Amândio Cupido e que se trata de uma extraordinária relação qualidade-preço. A bater nos 5€ temos um espumante que dá grande gozo a beber. Feito de Malvazia Fina, Baga, Chardonnay, Bical e Cercial, a "receita" está perfeita: Bolha fina, boa complexidade aromática com notas de fruta fresca e traços de brioche. Muito fresco e claro está de apetência gastronómica, embora se possa beber como um belo aperitivo. PVP: 4,99€. Disponibilidade: Garrafeira 5 Estrelas

Sérgio Lopes

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Em Prova: Castelo da Lapa Espumante Bruto

14/20. Das Caves da Montanha (A.Henriques), chega este espumante feito em exclusivo para a cadeia de supermercados Lidl. Aliás, é bastante comum, as empresas que produzem litros e litros de vinho (os grandes) produzirem em diversas regiões vinhos de mesas e espumantes para as grandes cadeias de supermercados, com uma marca exclusiva. Este Castelo da Lapa Espumante Bruto é produzido das castas Bical, Cercial, Arinto e Baga. Todo ele é simples, franco e direto. Sobretudo dá o minimo de prazer pela pornográfica quantia que se paga, abaixo dos 3€! Como aperitivo ou à refeição. É companhia assídua dos meus pais à mesa nos almoços de Domingo. E sabe muito bem. PVP: 3€.

Sérgio Lopes