quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Radar do Vinho: Vindimas 2016 na região da Bairrada

Agosto e Setembro trazem consigo a azáfama das vindimas na Bairrada, uma época onde os produtores jogam todas as fichas dum ano de laborioso trabalho e procuram na colheita obter a boa fortuna da qualidades dos seus vinhos. Das vindimas de 2016, acompanhámos algumas colheitas realizados pela Estação Vitivinícola da Bairrada, Caves dos Solar de São Domingos e Adega Campolargo.


ESTAÇÃO VITIVINÍCOLA DA BAIRRADA


Na primeira vindima que acompanhámos vindimava-se MARIA GOMES na Estação Vitivinícola da Bairrada, berço dos vinhos espumantes que há 125 anos começaram a ser produzidos na região. A acompanhar a reportagem esteve José Carvalheira, reputado técnico e enólogo da Bairrada. Muito há a dizer desta casta branca que veste grandes áreas da Bairrada e, neste final de Agosto, encontrava-se num estado interessantíssimo de maturação e equilíbrio entre açúcar e acidez. Sendo uma casta muito pobre em ácidos, torna-se necessário contornar esse défice através duma vindima muito precoce, num ano especial em que a maturação se encontra muito atrasada. A casta é muito aromática e não aconselha vindimas muito tardias, porque perdendo-se toda a acidez, vai criar vinhos muito pesados e enjoativos. É por isso crucial que o controlo de maturação, através de análises bissemanais, seja feito ao detalhe para que a colheita seja feita sem que a uva apresente um sabor herbáceo, revelando já a sua característica aromática (trepénica) e preservando ainda a sua acidez, que se perderá com maiores maturações. Neste dia de vindima, a uva apresentava um teor alcóolico de 12,0% e de 6% de acidez.
Se as temperaturas se mantiverem não excessivamente altas e sem chuvas, prevê José Carvalheira que este seja um bom ano para os brancos, ainda que com uma produção inferior à de anos anteriores.


CAVES DO SOLAR DE SÃO DOMINGOS


Na segunda vindima fomos visitar a Quinta de São Lourenço, vinha que tem plantadas Baga, Touriga Nacional, Arinto, Bical e Viognier, e que cria afamados espumantes e vinhos tranquilos das Caves do Solar de São Domingos. Numa vindima mais tardia que em anos anteriores, colhiam-se as uvas da casta BICAL, existente apenas na Bairrada e no Dão, assumindo na zona serrana o nome de “borrado das moscas”. Não é uma casta muito fácil, porque dificilmente atinge todos os anos as quantidades desejadas. É, por isso, chamada de casta “aneira”, sendo boa nuns anos e noutros não. O controlo de maturação foi feito com muito trabalho no terreno pelos técnicos que acompanharam A LEI DO VINHO numa quente manhã: César Almeida e a enóloga da São Domingos, Susana Pinho. Recolhidas e provadas as uvas, atingiu-se o controlo de maturação ideal para a vindima para espumante, que, naquele dia, atingiam um teor alcóolico de 10,5% e acidez de 7,5%, belíssimos indicadores para o produto final. E se é certo que a vindima de 2016 não é em grande quantidade – uma quebra na ordem dos 20 a 30%, por força dos ataques do míldio - tal não se mostra preocupante porque a qualidade sanitária e química da uva faz sorrir os artífices que com ela irão criar belíssimos espumantes.



ADEGA CAMPOLARGO


Por fim, visitámos a Adega Campolargo, onde além duma grande lição de história sobre a Bairrada e sobre o mundo dos vinhos leccionada por Carlos Campolargo, acompanhámos a vindima do PINOT NOIR para os grandes espumantes desta casa que possui uma das maiores áreas de vinha plantada da região – cerca de 100 hectares. Esta casta tinta, que chega à Bairrada com os técnicos e tecnologia trazidos de França há mais de 125 anos, enraizou-se na região - ainda que durante muitos anos se tenha perdido ou abastardado – e, hoje, a par da Baga, será a mais importante fonte de inspiração dos criadores dos grandes espumantes. Na Bairrada encontra-se certificado desde 2003. Num clima razoavelmente temperado, influenciado pela brisa marítima, o PINOT NOIR, “atleta de cintura fina”, colhido em condições de equilíbrio e num estado de maturação ainda precoce, conhece condições privilegiadas para a criação de grandes espumantes.Em vinhas plantadas há cerca 30 a 35 anos, a Adega Campolargo produz tintos e rosés tranquilos e espumantes com Pinot Noir. Num ano de produção baixíssima de Pinot Noir, com uma perda acelerada de acidez, a Adega Campolargo vindimou o PINOT NOIR para espumante branco com um teor alcóolico de 9% e 11% de acidez total.

https://www.facebook.com/aleidovinho2015/


Miguel Ferreira (A Lei do Vinho)

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