Foi no passado dia 25 de Abril que juntei um grupo restrito de entusiastas pelo vinho e fomos até Barcelos conhecer melhor o projecto Quinta de Paços. Respondendo afirmativamente ao repto lançado pelo produtor Paulo Ramos, rumamos então à Casa Senhorial para a visita e uma prova vertical dos vinhos produzidos quer em Barcelos, quer em Monção (Casa do Capitão Mor). E que prova (s)...! Logo que a data foi encontrada, sabíamos com a certeza absoluta que iria ser um grande dia. Só não tinhamis noção é que o Paulo tinha preparado uma verdadeira orgia vínica, com mais de 30 vinhos à prova, alguns deles de grande raridade. Simplesmente excepcional. Foi um fartote de vinho verde, de castas diferentes, de origens diferentes, mas todos vinhos brancos com grande qualidade e longevidade, expressando o terroir e o ano de colheita, como ficou demonstrado. Mas antes de relatar as várias provas do dia, cumpre-me destacar igualmente a casa senhorial, muito bonita, cheia de luz e repleta de história. Chegados às 11h começamos por dar um passeio pela vinha circundante à casa, assente num solo onde predominam o quartzo e o granito, enquanto Paulo nos explicava a aposta em monocastas, algumas por vezes nao tão usuais na região, como são os casos da Fernão Pires "a casta transsexual conhecida também como Maria Gomes", remata Paulo, ou o Moscatel Galego, para além de Sauvignon Blanc, e claro, Loureiro e Arinto. E também o Alvarinho, este proveniente de Monção.
Rumo à sala GRANDE de provas, o primeiro vinho servido foi o Cotovia, novidade absoluta, um 100% Moscatel Galego 2017, um vinho muito equilibrado e de final médio. Uma casta que por vezes pode originar vinhos um pouco estremados, mas que aqui não é definitivamente o caso. De seguida, O Casa de Paços Fernão Pires, também um vinho aromático, mas menos expressivo que o Moscatel Galego. De novo, equilibrio, num estilo mais fácil, para ambos os vinhos. Para além do Fernão Pires 2017, provamos os anos 2012 e 2009, iniciando a primeira mini-vertical. Os 3 vinhos apresentaram uma boa evolução, na senda da fruta madura, mas sem excessos. Um vinho que não foi pensado para evoluir, mas que poderia ser um agradável vinho de sobremesa, com o tempo em garrafa, sobretudo o 2009.
A próxima vertical foi a de Casa de Paços Loureiro-Arinto, o blend que é o vinho de "entrada" do produtor. Entre aspas, pois o vinho posiciona-se nos 4,5€ e é tudo menos "entrada". À prova estiveram os anos 2017, 2016. 2010, 2007 e 2005. Um vinho muito equilibrado que com o passar dos anos em garrafa vai adquirindo aromas terciários, com o arinto provavelmente a ter o papel mais importante na sua evolução. Destaco claramente os anos 2005 e 2006, com uma acidez penetrante e uma boca vibrante. Parecia que o tempo não tinha passado por estas duas garrafas. 2016 também muito bom, a mostrar que um ano de garrafa faz muito bem a estes vinhos.
Seguiu-se a prova dos Casa de Paços Superior, blend da família, começado a produzir apenas no ano de 2010 e do qual provamos 2017, 2016, 2013 e 2010. Feito de Alvarinho, Fernão Pires, Arinto e Loureiro. Todos os vinhos estiveram muito bem, mas foi uma prova menos impressionante overall, em comparação com os Loureiro- Arinto.
Antes das rondas finais, foi a vez de provarmos o Morgado do Perdigão 2017, blend de Alvarinho (de Monção) e de Loureiro (de Barcelos). Um vinho muito bem conseguido, cheio de personalidade, com as duas castas em disputa neste momento, mas que se bebe mesmo muito bem. Dá prazer. Provavelemente o mais pronto a beber dos vinhos provados do ano 2017. Para acompanhar a sua evolução.
Chegada a prova dos Alvarinho Casa do Capitão Mor, 2017, 2016, 2015, 2012, 2011, 2010, 2009, 2007, 2006, 2005 e 2004. 11 anos em prova! Consistência incrivel. Todos muito bem, com destaque para o promissor 2017, os 2010 e 2011, ambos num momento de evolução delicioso e finalmente o 2004 e 2005, já com aqueles aromas mais petrolados bem vincados, tão tipicos de um alvarinho com idade, mas sem perder frescura. Incrivel.
Pois é... a manhã já tinha ido e a hora do almoço também já ia tardia. E ainda faltavam os Reserva de Alvarinho e os Arinto que Paulo decidiu servir juntamente com a refeição, muito bem confeccionada e a ligar perfeitamente com os vinhos. Fomos provando (bebendo) para além dos "restos" de luxo da prova matinal os Casa do Capitão Mor Alvarinho Maceração Pelicular Reserva 2015, 2011, 2013 e 2010 (em magnum), dos quais destaco a magnum 2010 e definitivamente o 2015 que está incrivel, num balanço perfeito entre fruta, mineralidade, estrutura e frescura.
Finalmente os Casa de Paços Arinto, 3 anos provados, 2017, 2011 e 2004. É o único vinho que vai à madeira, pois Paulo não gosta de castas terpénicas em contacto com a madeira e o Arinto é portanto a excepção. Se no 2017 se sente um pouco a madeira, sem ser em demasia, percebe-se com o 2011 e o 2004 onde pode chegar este vinho, coim o passar do tempo, adquirindo uma untuosidade incrivel. O 2004 estava surpreendentemente novo. Um vinho que apenas é produzido em anos especiais e que é também (naturalmente) de guarda.
Terminamos a refeição e o dia com uma geropiga caseira, com mais de 50 anos, que estava sublime e fechou a visita com chave de ouro!
Não temos palavras para agradecer ao Paulo tamanha generosidade. Um dia inesquecivel. Com provas muito raras e dignas de um qualquer evento vínico, com caracter reservado e super premium. Um projecto com uma identidade muito própria e que confirma a vivacidade da região dos vinhos verdes capaz de produzir dos melhores brancos do país.
Um 25 de Abril para recordar!
Sérgio Lopes