sexta-feira, 27 de abril de 2018

Radar do Vinho: Casa de Paços

Foi no passado dia 25 de Abril que juntei um grupo restrito de entusiastas pelo vinho e fomos até Barcelos conhecer melhor o projecto Quinta de Paços. Respondendo afirmativamente ao repto lançado pelo produtor Paulo Ramos, rumamos então à Casa Senhorial para a visita e uma prova vertical dos vinhos produzidos quer em Barcelos, quer em Monção (Casa do Capitão Mor). E que prova (s)...! Logo que a data foi encontrada, sabíamos com a certeza absoluta que iria ser um grande dia. Só não tinhamis noção é que o Paulo tinha preparado uma verdadeira orgia vínica, com mais de 30 vinhos à prova, alguns deles de grande raridade. Simplesmente excepcional. Foi um fartote de vinho verde, de castas diferentes, de origens diferentes, mas todos vinhos brancos com grande qualidade e longevidade, expressando o terroir e o ano de colheita, como ficou demonstrado. Mas antes de relatar as várias provas do dia, cumpre-me destacar igualmente a casa senhorial, muito bonita, cheia de luz e repleta de história. Chegados às 11h começamos por dar um passeio pela vinha circundante à casa, assente num solo onde predominam o quartzo e o granito, enquanto Paulo nos explicava a  aposta em monocastas, algumas por vezes nao tão usuais na região, como são os casos da Fernão Pires "a casta transsexual conhecida também como Maria Gomes", remata Paulo, ou o Moscatel Galego, para além de Sauvignon Blanc, e claro, Loureiro e Arinto. E também o Alvarinho, este proveniente de Monção. 

       
Rumo à sala GRANDE de provas, o primeiro vinho servido foi o Cotovia, novidade absoluta, um 100% Moscatel Galego 2017, um vinho muito equilibrado e de final médio. Uma casta que por vezes pode originar vinhos um pouco estremados, mas que aqui não é definitivamente o caso. De seguida, O Casa de Paços Fernão Pires, também um vinho aromático, mas menos expressivo que o Moscatel Galego. De novo, equilibrio, num estilo mais fácil, para ambos os vinhos. Para além do Fernão Pires 2017, provamos os anos 2012 e 2009, iniciando a primeira mini-vertical. Os 3 vinhos apresentaram uma boa evolução, na senda da fruta madura, mas sem excessos. Um vinho que não foi pensado para evoluir, mas que poderia ser um agradável vinho de sobremesa, com o tempo em garrafa, sobretudo o 2009.

  
  

A próxima vertical foi a de Casa de Paços Loureiro-Arinto, o blend que é o vinho de "entrada" do produtor. Entre aspas, pois o vinho posiciona-se nos 4,5€ e é tudo menos "entrada". À prova estiveram os anos 2017, 2016. 2010, 2007 e 2005. Um vinho muito equilibrado que com o passar dos anos em garrafa vai adquirindo aromas terciários, com o arinto provavelmente a ter o papel mais importante na sua evolução. Destaco claramente os anos 2005 e 2006, com uma acidez penetrante e uma boca vibrante. Parecia que o tempo não tinha passado por estas duas garrafas. 2016 também muito bom, a mostrar que um ano de garrafa faz muito bem a estes vinhos.

  

Seguiu-se a prova dos Casa de Paços Superior, blend da família, começado a produzir apenas no ano de 2010 e do qual provamos 2017, 2016, 2013 e 2010. Feito de Alvarinho, Fernão Pires, Arinto e Loureiro. Todos os vinhos estiveram muito bem, mas foi uma prova menos impressionante overall, em comparação com os Loureiro- Arinto. 

  

Antes das rondas finais, foi a vez de provarmos o Morgado do Perdigão 2017, blend de Alvarinho (de Monção) e de Loureiro (de Barcelos). Um vinho muito bem conseguido, cheio de personalidade, com as duas castas em disputa neste momento, mas que se bebe mesmo muito bem. Dá prazer. Provavelemente o mais pronto a beber dos vinhos provados do ano 2017. Para acompanhar a sua evolução.

  

Chegada a prova dos Alvarinho Casa do Capitão Mor, 2017, 2016, 2015, 2012, 2011, 2010, 2009, 2007, 2006, 2005 e 2004. 11 anos em prova! Consistência incrivel. Todos muito bem, com destaque para o promissor 2017, os 2010 e 2011, ambos num momento de evolução delicioso e finalmente o 2004 e 2005, já com aqueles aromas mais petrolados bem vincados, tão tipicos de um alvarinho com idade, mas sem perder frescura. Incrivel.


Pois é... a manhã já tinha ido e a hora do almoço também já ia tardia. E ainda faltavam os Reserva de Alvarinho e os Arinto que Paulo decidiu servir juntamente com a refeição, muito bem confeccionada e a ligar perfeitamente com os vinhos. Fomos provando (bebendo) para além dos "restos" de luxo da prova matinal os Casa do Capitão Mor Alvarinho Maceração Pelicular Reserva 2015, 2011, 2013 e 2010 (em magnum), dos quais destaco a magnum 2010 e definitivamente o 2015 que está incrivel, num balanço perfeito entre fruta, mineralidade, estrutura e frescura. 

  

Finalmente os Casa de Paços Arinto,  3 anos provados, 2017, 2011 e 2004. É o único vinho que vai à madeira, pois Paulo não gosta de castas terpénicas em contacto com a madeira e o Arinto é portanto a excepção. Se no 2017 se sente um pouco a madeira, sem ser em demasia, percebe-se com o 2011 e o 2004 onde pode chegar este vinho,  coim o passar do tempo, adquirindo uma untuosidade incrivel. O 2004 estava surpreendentemente novo. Um vinho que apenas é produzido em anos especiais e que é também (naturalmente) de guarda. 

  

Terminamos a refeição e o dia com uma geropiga caseira, com mais de 50 anos, que estava sublime e fechou a visita com chave de ouro! 



Não temos palavras para agradecer ao Paulo tamanha generosidade. Um dia inesquecivel. Com provas muito raras e dignas de um qualquer evento vínico, com caracter reservado e super premium. Um projecto com uma identidade muito própria e que confirma a vivacidade da região dos vinhos verdes capaz de produzir dos melhores brancos do país. 

Um 25 de Abril para recordar!

Sérgio Lopes


quinta-feira, 26 de abril de 2018

Em Prova: Campolargo Cerceal 2015

Carlos Campolargo é um produtor Bairradino que cedo apostou em castas estrangeiras para os seus vinhos. É uma opção, que terá os seus adeptos, mas que nem é o caso deste branco provado muito recentemente e às "cegas. Trata-se do Campolargo Cerceal 2015, um branco que fermenta em barricas usadas, sem controlo de temperatura e estagia, com battonage, durante alguns meses. É um branco muito muito interessante, cheio de profundidade aromática, num registo pouco falador, com a fruta branca a mostrar-se entre a barrica muito discreta e uma certa austeridade. Boca longa e muito fresca, vibrante, com final crocante e longo. Um grande branco, com pouca intervenção e que mostra o que a uva Cerceal pode produzir. PVP: 25€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Em Prova: Prunus Branco 2015


Sei muito pouco deste vinho que me foi apresentado, pelo Sérgio Ivan Santos, que o distribui pela empresa Portus Wine. O Prunus Branco 2015 é proveniente do Dão, composto de Encruzado, Cerceal Branco, Malvasia Fina, Bical e não vai à madeira. É focado na mineralidade e num lado vegetal, que lhe confere uma certa asuteridade. Isto é, nada de frutinha. :-) Para quem gostar deste estilo, é de comprar às caixas, pois é muito versátil. Não sendo muito longo, dá prazer e vai bem com tudo. Até sozinho, de forma descontraída e despreocupada. Para quem procura caracter e o lado mineral de um vinho, repito. PVP: 6€. Disponibilidade: Portus Wine

Sérgio Lopes

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Em Prova: Soalheiro Mineral Rosé 2017


Depois do Espumante Rosé, eis que surge no mercado a mais recente novidade da Quinta do Soalheiro, o Soalheiro Mineral Rosé - o seu primeiro, de um produtor cujo nome quase se confunde com (belíssimo) alvarinho. A primeira edição do Soalheiro Mineral Rosé tem uma produção de apenas 5000 garrafas e foi lançada este fim de semana no Palácio do Freixo, num evento da distribuidora Decante Vinhos e que tive a oportunidade de provar. O vinho é feito da junção de Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço, e de Pinot Noir da zona atlântica da região dos vinhos verdes. Este último sofre fermentação malolática, o que torna o vinho suave e 5. Assim, a persistência do Pinot Noir aliada à elegância e aroma expressivo do Alvarinho, tornam este vinho muito agradável e "fácil de beber". Juntando os seus apenas 12º de alcool , ao perfeito equilibrio entre acidez e doçura, será seguramente um best seller no Verão que se avizinha. Seria curioso guardar algumas garrafas e verificar como evoluirá, dado a sua composição com duas castas de enorme personalidade. Grande estreia. PVP: 12,90€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

terça-feira, 17 de abril de 2018

Em Prova: António Madeira Colheita 2015

António Madeira é um jovem francês de ascendência portuguesa, com as suas raízes junto à Serra da Estrela. Desde 2010, que tem explorado as vinhas velhas desta sub-região, tentando aplicar o modelo de Borgonha, produzindo vinhos extremamente elegantes e com o minimo de intervenção.

O António Madeira Colheita Tinto 2015 é um vinho produzido a partir de várias vinhas, onde existem muitas castas autóctones, em particular as castas Alfrocheiro e Touriga Nacional. 

Procurando expressar o terroir da Serra da Estrela, a intervenção foi minimalista (apenas utilizado enxofre). A fermentação alcoólica ocorreu em cubas abertas com pisa tradicional, utilizando o fermento da própria videira. Estagiou 18 meses em barricas usadas de carvalho francês.

O resultado é um vinho com muito pouca extracção, com um aroma delicioso, com fruta bonita, mas também um lado vinoso, que lhe confere muita graça. Cheira a vinho! Na boca é fresco, elegante, muito equilibrado, com a madeira totalmente integrada e com boa acidez, sendo um perfeito companheiro à mesa. Um vinho que apetece beber, nunca cansa e que a garrafa acaba rápido! PVP: 14€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

sábado, 14 de abril de 2018

Arena de Baco: Prova Vertical Quinta da Gaivosa

Tradicional vertical: já não é a primeira vez que me dá esta sensação de andar para trás no tempo e ir absorvendo algo de futuro. Foi assim hoje também, na Quinta da Gaivosa, numa vertical do vinho com o nome da casa, aquele que eu conheço desde sempre (a saber: desde 1992, um ano depois da Gaivosa ter lançado o seu primeiro vinho, curiosamente branco; esse primeiro tinto de 92 não esteve presente nesta prova). Os vinhos vieram depois de uma atenta visita à exemplar adega imaginada pelos Alves de Sousa e traçada por Belém Lima; o novo e o antigo não se confundem, mas entrelaçam-se, numa confluência de gerações e memórias. Da vertical: o 2005 foi (con) sensual e tido como o melhor, isso se falarmos no melhor momento para um Gaivosa ser provado; para mim o 2011 estará igualmente perfeito, como que reunindo num só ano tudo aquilo que oferece este terroir do Baixo Corgo, o que é imenso, e daí o equilíbrio ser tão fundamental. A seguir o 2013, o 99 e o 95 - incrível como persiste um modelo desde o início, estando estes mais antigos vivíssimos, com taninos e elegância à superfície e mergulhando mais no seu interior a fruta que sai dos bons douros. Menos bem o 2003 e o 2009, onde a sobrematuração tomou conta deste perfil, vestindo o aroma e a boca de roupagem mais quente e indefinida. para finalizar houve ainda o Vintage 2015 da Quinta da Gaivosa no esplendoroso terraço da adega, logo depois do Eng. Domingos Alves de Sousa dizer algo como “isto está tudo muito bom, mas temos de almoçar...”. com toda a razão do mundo, assim foi, no Chaxoila, até porque os vinhos não acabavam por ali. para que viva na memória!

Marco Lourenço (Cegos Por Provas)

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Em Prova: Muros Vadios Branco 2015


Projeto recente da região do Dão - Quinta Vale do Cesto, em Oliveira do Hospital, cujo Muros Vadios na versão branco, provei há uns dias (foi lançado também um tinto e um rosé, nesta gama). O branco é composto por Encruzado, Malvasia Fina, Bical e Fernão Pires. Não tem passsagem por madeira. Trata-se de um branco crocante, onde a presença do granito se faz notar, mostrando-se mineral, também levemente citrino e floral. Seco, com boca cremosa e fresca, e um bom final. Bom companheiro à mesa. Diferente. Gostei. PVP: 7,5€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes 

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Em Prova: Quinta da Murta Clássico 2013


O Arinto é uma casta cuja expressão máxima ocorre em Bucelas (Lisboa), embora se porte igualmente muitíssimo bem em quase todo o país, originando vinhos com elevada acidez, e longevidade, seja com ou sem passagem por madeira. O Quinta da Murta Clássico é um dos belos exemplos disso mesmo.  100% feito de Arinto, é lançado apenas nos anos em que a qualidade é inegável, sendo a colheita mais recente no mercado a de 2013. A enologia está a cargo de Hugo Mendes e como é habitual o vinho reflecte o seu cunho pessoal, isto é madeira bem integrada (praticamente imperceptivel), elegância, perfil seco, com alguma austeridade e pendor gastronómico. Neste momento, com 5 anos - sim, 5 anos, começa a "abrir" e a mostrar todas as suas características, aparecendo deliciosas notas citrinas , mais maduras, um corpo mais composto, muita frescura, untuosidade e um final crocante e que dá muito prazer. Um vinho para esperar por ele e depois de lhe tirar a rolha, apreciar a sua evolução de copo para copo. PVP: 12€. Disponibilidade: Garrafeiras.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Em Prova: Apaixonado Reserva Tinto 2015

Proveniente do Douro Superior, mais propriamente de Torre de Moncorvo, chega este vinho com um nome impactante - Apaixonado reserva tinto 2015. Feito de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela e Tinta Roriz e com estágio de 16 meses em barricas de carvalho francês de segundo ano.

O nome do projeto é Àvidos e resulta da paixão de dois brasileiros pelo Douro Superior, e que aí encontraram o local de eleição para a produção de grandes vinhos, capazes de despertar prazeres e emoções especiais em todos que os experimentam. Mas do projeto, falaremos em detalhe noutra oportunidade.

Quanto ao Apaixonado é um vinho sedutor, bastante perfumado e complexo no nariz. com a Touriga Nacional a dominar, nesta fase e com notas de especiarias, do contacto com a madeira. O estágio em madeira usada amaciou o vinho, pelo que na boca os taninos são aveludados, macios, sem deixar de mostrar a garra do Douro Superior. Termina bem longo, potente e com a fruta em evidência. No dia seguinte estava muito mais ligado, pelo que necessita de tempo de garrafa, na minha opinião. 

A enologia está a cargo de Diogo Frey Ramos, tendo como enologo assistente, Afonso Magalhães, que também se encarrega da distribuição, extremamente selectiva. Deste vinho foram produzidas menos de 10.000 garrafas. PVP: 18,80€. Disponibilidade: Garrafeiras Selecionadas.

Sérgio Lopes

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Radar do Vinho: Quinta do Carvalhão Torto

Bem à entrada de Nelas, na estrada que liga a Canas de Senhorim, está localizada a Quinta do Carvalhão Torto, esta quinta de pequena dimensão (7 hectares) que se espalha dos dois lados da mesma, visitada na semana da Páscoa. A receção foi feita pelo Luís Oliveira, atual mentor do projeto e pela sua irmã Maria João. Esta quinta chegou às suas mãos através de herança, a qual a família tende em conservar e dinamizar, sendo disso exemplo a vinha de Encruzado que no ano de 2018 completou apenas a sua quarta colheita.

A adega é um espaço funcional, adaptado à dimensão do projeto, sem grandes artifícios, e onde se estaca a total ausência de um elemento que para as adegas modernas é quase indispensável… madeira… barricas… Sim, os vinhos do Carvalhão Torto são produto de uma adega em que a madeira não tem lugar... As explicações que o Luís nos apresentou são simples, para além da tentativa de poupança pois estes depósitos como todos sabemos custam por vezes pequenas fortunas, é sua crença que a diferenciação do seu produto assenta na tentativa de se manter fiel aos grandes vinhos do Dão, vinhos esses que não sabiam o que era madeira… principalmente novinha a estrear…. No interior da adega ficamos também a saber que os vinhos do Carvalhão Torto são produto de quatro castas tintas (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Alfrocheiro) e uma branca (Encruzado), estando neste momento estabelecidos para os tintos dois blend’s que ao contrário da prática habitue na maioria das adegas são fermentados em conjunto e não em separado, originando assim um Touriga Nacional/Tinta Roriz e um Jaen/Alfrocheiro, sendo as percentagens normalmente muito próximas de 50/50.

Chegando à zona das barricas … perdão dos depósitos de inox fomos presenteados com seis vinhos, três de cada um dos blend’s anteriormente referidos. Começando pelos Touriga Nacional/Tinta Roriz, o 2016 apresentou uma fruta muito viva e com um comportamento de boca a demostrar que pouco tempo passou por este jovem e paciência ainda vai ser a palavra-chave. O 2012 e o 2010 achei-os bastante próximos, apesar da diferença e distância dos anos, no entanto já se começam a aproximar do patamar que conhecemos nos vinhos desta casa, com as diversas notas de floresta a começar a assentar e a tomar conta do vinho. Passando para os Jaen/Alfrocheiro, provamos as colheitas de 2016, 2010 e 2009, estando os dois últimos numa posição semelhante aos dois últimos Touriga Nacional/Tinta Roriz referidos, quase no ponto, já a dar uma boa prova. A grande surpresa foi mesmo o 2016, surpresa geral ao grupo diga-se de passagem, com uma prontidão impressionante em comparação com os restantes até aqui provados. Fresco, com uma fruta deliciosa e um comportamento bem soft na boca deixando-nos a pensar… Luís por favor engarrafa já isto…

Já com a noite bem adiantada e depois destas surpresas seguimos para o restaurante “Zé Pataco” em Canas de Senhorim, onde fomos presenteados com uma excelente refeição de cozinha tradicional portuguesa, onde para mim se destacaram as favas com entrecosto e um belo cabrito. Para acompanhar… a gama completa de vinhos do Carvalhão Torto. Começando pelo Encruzado 2015, um excelente exemplar de branco sem barrica, fresco, floral, com uma mineralidade que vai pela boca fora e deixa qualquer provador feliz por se “cruzar” com ele.

De seguida o Touriga Nacional/Tinta Roriz 2008, vinho que estou bastante familiarizado, mas que das provas que me foi dando mostra bem que quanto mais tempo ele tem em cima mais refinado vai ficar. Aroma bem soft e discreto mas com um conjunto herbáceo seco a dar um conforto que se estende para a prova de boca. Logo a seguir chegou à prova o Jaen/Alfrocheiro 2007, último vinho que esta casa lançou para o mercado. Apresenta-se diferente do 2005, bem mais contido e com uma evolução algo surpreendente se compararmos com o irmão mais velho.  Para fechar com chave de ouro ainda tivemos o prazer de provar, os já esgotados na adega, Jaen/Alfrocheiro 2005 e o Reserva Touriga Nacional/Tinta Roriz 2007. Sobre o 2005 pouco há a dizer que muitos de vós já não saibam, que grande vinho!! Que surpresa!! O nariz que ainda tem! Os mentolados que deixa na boca… fantástico!! O Reserva a primeira vez que o provei há uns bons três anos não me deixou de queixo caído… Mas bem, ele agora já deixa cair tudo ao chão, está fantástico, sem notas de evolução e com uma boca elegantíssima e sedosa… quase que parece que levou barrica…
Fica na memória uma refeição fantástica com vinhos fora do baralho do Dão habitual, que mostram exemplarmente o terroir de onde vem. Em suma o que retiro desta prova…? Bem… acho que o nome “Dão Clássico” assenta que nem uma luva a esta casa, a resistência destes vinhos é impressionante, são vinhos que requerem a paciência do enófilo (para esperar por eles e para os compreender no momento da prova) e por fim a conclusão que já há muito tinha chegado… foi esta casa que me fez compreender que o vinho tem de respeitar a sua história… se não… sujeita-se a não ser mais que uma bebida banal. 

Luís, bom amigo… em nome de todos os “Cegos por Provas” um muito obrigado!

Fernando Costa (Cegos por Provas)

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Em Prova: Tons de Duorum Tinto 2016


Acaba de chegar ao mercado a nova colheita do Tons de Duorum Tinto, da dupla João Portugal Ramos e José Maria Soares Franco, dois enólogos que marcam a história do vinho em Portugal nas últimas décadas. Produzido a partir de uvas de Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, de vinhas entre os 400m e os 600m de altitude no Douro Superior. Trata-se de um vinho que ano após ano tem mantido o seu perfil, um tinto bem arrumado, com nariz focado na fruta fresca, bem bonita. A boca é macia, jovem, leve e com taninos polidos, prontissimo a beber e a dar prazer no verão que se avizinha. Uma ótima opção para o dia-a-dia, com boa rqp e disponivel everywhere. PVP: 4,49€. Disponivel: Grandes Superficies.

Sérgio Lopes

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Arena de Baco: Prova Vertical Quinta dos Roques Malvasia Fina

Na Quinta dos Roques fomos recebidos para uma inédita prova: uma vertical de uma casta pouco ou nada trabalhada em estreme - Malvasia Fina, mas é de algumas invulgaridades de que é feita a história do Dão e também desta quinta, que já vem lançando este vinho (com uma única interrupção), pelas mãos de Luís Lourenço e agora também do seu filho José, desde 1996.

Esta é uma casta muito utilizada em lote, pois suaviza a acidez e o corpo que outras apresentam; dir-se-ia então delicada, com acidez moderada e aromas que vão desde o marmelo, o alperce seco, ou o pêssego, até aos florais mais intensos, e a especiarias como a pimenta branca ou a mostarda... pelo menos foi o que os anos mais marcantes nos transmitiram, contrariando mesmo essa ideia de que a casta seria pouco resistente ao passar do tempo. Por outro lado é a prova de como anos tão diferentes podem transportar o vinho até ao aqui e mais além...

Andando “da frente para trás”, aparece logo a acidez do 2017, com as colheitas de 15, 14 e 13 a revelarem o lado (bem) conhecido da Malvasia, vinhos sóbrios, com algum volume, acidez moderada mas presente. Conforme se ia descendo na linha temporal, as primeiras notas oxidativas e apetroladas, como no 2010, às vezes mais florais e a plástico como o 2008 - a mim parecia-me um Gewurztraminer - ou a chá como no admirável 2007 iam aparecendo, mas com o serviço do 2004 achámos todos que dali para a frente (andando para trás...) já nada haveria a assinalar. Puro engano: já o 2002 aparentou uma frescura e côr bem mais “saudável” que outros mais recentes; e depois vieram outros dois que para muitos foram os melhores vinhos em prova, o 1999 e o 2000, finos, secos, com notas de açúcar queimado e caramelo compensados por uma acidez e persistência notáveis.

Assim que se ainda os virem por aí... não esperem para abrir!

Marco Lourenço (Cegos Por Provas)