sexta-feira, 7 de julho de 2017

A abertura do garrafão de Colares "Genuíno" (Epílogo)

A abertura do garrafão de branco de Colares "genuíno" provocou grandes emoções em todos os presentes, que ao fim de quase uma hora já mereciam apreciar o repasto que lhes estava reservado pela D. Zezinha. As "entradinhas" constavam de petinga frita (pescada no dia) com uma salada de tomate à marroquina, bolachinhas de queijo parmesão, pataniscas de bacalhau, azeitonas e o inevitável pão de Mafra. A acompanhá-las havia um branco Patrão Diogo 2015, de Chão-rijo, do José Baeta , que pedia meças aos brancos de chão-de-areia e não se intimidava com as deliciosas entradas. Depois, para acompanhar ao melhor nível o Bacalhau à Gomes de Sá, foi tempo de apreciar um Arinto e um Vital, estremes, do Nuno Ramilo, também de chão-rijo (Alqueidão), que não deixaram os créditos por mãos alheias e mostraram a raça de duas grandes castas portuguesas. O entrecosto com batatinhas assadas e legumes salteados estava reservado para o Ramisco adolescente, de 2008 e, para quem quisesse, para o branco de Colares na idade adulta, do garrafão. As fortes emoções do dia convidavam aos prazeres da mesa e às mais variadas conversas, cujo tema principal era, como é óbvio, o branco do garrafão. E foram tão acaloradas que muitos dos presentes até se esqueceram que havia outro garrafão para abrir! Antes das queijadas da Sapa e de umas óptimas cerejas do Fundão lá fomos todos outra vez abrir novo garrafão, agora ao som dos acordes de viola do Carlos Alberto Moniz e da alegria de todos os convivas.

O treino do primeiro garrafão abreviou a operação de extracção da rolha, que pela facilidade com que cedeu aos esforços do José Baeta causou muita apreensão. Estaria o vinho estragado? VL cheirou a rolha e franziu o sobrolho com o forte odor a vinagre que dela emanava. Se mais dúvidas houvesse, foram tiradas com a prova de nariz do vinho no copo. O Ramisco não tinha resistido a uma rolha de má qualidade e tinha-se transformado num vinagre fortíssimo...com cerca de oitenta anos! Se estivéssemos na época romana ou na Idade Média, provavelmente iríamos bebê-lo com toda a veneração e respeito, depois de o diluir na proporção apropriada com água. Afinal, nessas épocas, era impensável rejeitar a bebida dos deuses ou o "sangue de Cristo", qualquer que fosse o defeito que tivesse. E o remédio era diluir o vinho com tanta mais água quanto maior o defeito! No século XXI, muito mais habituados aos prazeres da carne do que do espírito, não seria prudente propor que se bebesse o vinho à moda dos romanos. Mas seria uma heresia deitar fora um vinagre de oitenta anos, que me fez lembrar o fantástico vinagre do amigo Mário Sérgio, da Quinta das Bageiras. Foi, portanto, sugerido que o José Baeta tratasse do dito o melhor possível e se aprazasse nova sessão, para apreciá-lo em consonância com o seu estatuto: Ramisco com oitenta anos! Carapaus, mexilhões, perdizes e, talvez, lampreia, são bons motivos para retornar a Almoçageme.

Finalizar um dia de emoções fortes com o travo do vinagre não estava nos planos de ninguém e o José Baeta cumpriu a promessa feita, ao abrir três garrafas do mítico Ramisco de 1934, cujo stock ficou reduzido a apenas 780 garrafas.

Foi a apoteose!

Fotos cortesia de Rui Viegas

Professor Virgilio Loureiro

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