segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Opinião: Para onde vai a Baga?

O país vinícola tem vindo a apresentar muitas e grandes transformações. Uma região que, num passado recente, perdeu algum do seu brilhantismo mas atualmente está a recuperar, encontrando-se em franco desenvolvimento e transformação é, sem dúvida, a Bairrada. No fulcro desta recuperação podemos encontrar múltiplos fatores: novas formas de vinificação das diferentes castas, introdução de novos produtores que apostam na qualidade dos vinhos, conjugação de sinergias (“Baga Friends” e movimento espumante Baga Bairrada), etc. Nos últimos anos têm vindo a instituir-se na Bairrada novos produtores que, juntamente com os já estabelecidos, têm estimulado um novo fôlego a esta região. Alguns têm apostando em castas menos usadas, outros na já conhecida, e há muito usada, Baga. No entanto, a Bairrada está longe de se cingir apenas a uma casta ou a um “blend” particular de castas, mas não será menos verdade que a Baga é a casta rainha desta região.


As mudanças que se vão operando estão mais ligadas às técnicas usadas na adega do que na vinha. Em traços gerais, temos de um lado os produtores “clássicos” e os produtores “modernos” da Baga. No entanto, a distinção, na maioria das vezes, não é clara. Há alguns produtores que têm no seu portefólio referências que podem encaixar nas duas tendências. Os primeiros apostam na extração, no menor ou maior uso de engaço no mosto, originando um vinho mais rústico com taninos muito duros que necessitam de 15 ou 20 anos de estágio em garrafa para que sejam domados antes de se atingirem o apogeu. Os segundos arriscam em macerações mais curtas, temperaturas controladas e fermentações em cubas de aço inoxidável ou em madeira nova. Esta forma de trabalho ocasiona vinhos prontos ou quase prontos a beber no ano em que são lançados no mercado.

Com o passar dos anos têm aumentado as referências de grande qualidade provenientes da casta Baga que, surpreendentemente, estão prontas ou quase prontas a beber. Os exemplos mais expressivos dessa mudança são os vinhos Nossa e Poeirinho produzidos por Filipa PatoDirk Niepoort, respetivamente. Outros produtores há que, muito embora tenham vinhos com um perfil mais "tradicionalista", já lançaram no mercado referências de contorno mais “moderno”, são exemplos disso as últimas referências do Avô Fausto e Vinha Barrosa produzidos pela Quinta das Bágeiras e Luís Pato, respetivamente.

No último ano tenho provado algumas amostras de cuba e de barrica que apontam claramente nesta direção. Esperemos calmamente pelo desenrolar das tendências oriundas da Bairrada.

Paulo Pimenta (Wine & Stuff)

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