Por motivos profissionais, tive a rara oportunidade de aterrar na África do Sul, país onde Nelson Mandela é o "Deus" mas onde os fantasmas do Apartheid estão ainda bem patentes. Trata-se de um local onde as influências europeias e as multi-culturas fazem parte do dia-a-dia, de um país ainda à procura do seu destino e onde a pobreza e a violência são casos sérios. Joanesburgo é a capital, enquanto que Cape Town (Cidade do cabo) é a cidade turística por excelência, com uma beleza ímpar, rodeada de montanhas (a mais famosa a "Table Mountain"), com praias paradisíacas e onde a indústria do vinho é extremamente poderosa. Com uma história que remonta a mais de 300 anos atrás, os vinhos sul africanos refletem as tradições do Mundo Antigo, mas são também influenciados pelos estilos contemporâneos do Mundo Novo.
Cape Town |
Esta rara combinação ajuda a explicar a crescente popularidade internacional de vinhos sul africanos nos últimos anos. Cape Town é a porta de entrada para a região das vinícolas Sul Africanas. O clima mediterrâneo, com verões mornos e chuva de inverno, combinado com um solo rico, assegura o crescimento de videiras fortes e saudáveis. São cultivados mais de 100 000 hectares de vinhedos e vinhos em mais de 340 adegas de vinho e propriedades. Existem por isso diversas rotas, que os turistas e locais podem percorrer a partir de Cape Town, preparados para receber os visitantes e com todas as condições para uma tarde ou dia em família, com restaurantes, diversões e enormes espaços verdes, muito agradáveis.
Como referi anteriormente, estive em trabalho pelo que apenas consegui reservar dois dias para visitar algumas das propriedades onde a prova de vinhos é tratada turisticamente. Muito pouco, mas o suficiente para ter uma ideia de como funciona e ficar com vontade de regressar...
Dia 1:
Cape Town orgulha-se de cinco regiões de vitivinicultura, a Coast, a Olifants River, Boberg, Breede River Valley, e Klein Karoo. Todas têm suas próprias rotas de vinho onde visitantes são sempre bem-vindos. A Região Litoral (Coast) é talvez a mais importante e consiste nos distritos de Paarl, Stellenbosch, Swartland, Tulbagh, Tygerberg e Cape Point. Muitos locais importantes, tais como Constantia, Durbanville, Franschoek e Simonsberg, ficam dentro desta área.
Fiquei hospedado no Protea Hotel, exactamente em Durbanville, um hotel localizado no meio dos vinhedos e que por esse motivo estava decorado com motivos alusivos ao vinho por todo o lado, sendo inclusive possível provar uma série de vinhos da região, a preços convidativos.
Sendo impossível de visitar todos os produtores e não tendo efectuado um real trabalho de casa, confiei no meu colega local Ryno que nos levou ao distrito de Paarl, perto de Durbanville e a 50km de Cape Town. Visitamos 3 produtores nesse dia: Simonsvlei, Fairview e Spice Route. Todos eles, produtores "mainstream" isto é, com todos os apetrechos preparados para receber turistas e locais, apresentando uma enorme variedade de vinhos, de perfil internacional, de novo mundo, com castas francesas e algumas autóctones. Tudo muito bem conseguido para proporcionar um belo tempo de relax à volta do vinho. Destaque para o produtor Spice Route onde para além da prova de vinhos, fizemos uma prova de chocolate negro artesanal e uma prova de cerveja artesanal...Brutal. Todos os espaços tinham pessoas que sabiam falar sobre o vinho e estavam com muita gente local e turista que aproveita a oferta para passar uma bela tarde de convívio e em família à volta do vinho. Mais tarde falarei mais em pormenor dos vinhos provados e dos produtores em questão.
Dia 2:
Visita a Cape Town. Aí pedi ao Ryno para visitarmos um produtor "boutique" e a escolha recaíu no produtor "Constantia Glen", na vila de Constantia, famosa pelos seus produtores de boutique, ou seja mais pequenos e tradicionais. Aqui os produtores produzem os seus vinhos das suas próprias uvas e vinhas dentro da propriedade, enquanto que em Paarl, as vinhas estão noutras regiões e por isso é mais uma produção em massa. A diferença foi enorme. Pela primeira vez fiquei positivamente surpreendido com os vinhos provados: Um Sauvignon Blanc delicioso um tinto com 3 castas franncesas e outro com um blend de 5 castas francesas, respectivamente Constantia Glen Three e Cosntantia Glen Five, de grande qualidade, apetecíveis, complexos e saborosos. Muito diferente e quiçá mais próximo da tal identidade que tanto aprecio na maior parte dos vinhos de Portugal, sobretudo do Dão e Bairrada. Fiquei fã!
Alguns factos curiosos:
- Vasco da Gama e Bartolomeu Dias foram os primeiros a chegar à África do Sul e a Cape Town, na rota a caminho da Índia.
- Mais de 70% da produção de vinho da África do Sul é destinada à exportação.
- A partir das 17h locais não se pode adquirir mais vinho, a não ser em estabelecimentos comerciais e para consumo nesses espaços. O mesmo aos Domingos e feriados - No Álcool! A excepção é uma garrafeira em Waterfront Park, em Cape Town que pode vender as garrafas de vinho aos Domingos, pois o local é eminentemente turístico...
Voltei a Cape Town por mais duas vezes, onde visitei Stellenbosch e outras regiões e produtores que merecem a pena mencionar. Mas ficará para breve o retrato dessas experiências.
Voltei a Cape Town por mais duas vezes, onde visitei Stellenbosch e outras regiões e produtores que merecem a pena mencionar. Mas ficará para breve o retrato dessas experiências.
Sérgio Lopes
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