segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Radar do Vinho: 2 dias em Cape Town, Admirável Novo Mundo dos Vinhos

Por motivos profissionais, tive a rara oportunidade de aterrar na África do Sul, país onde Nelson Mandela é o "Deus" mas onde os fantasmas do Apartheid estão ainda bem patentes. Trata-se de um local onde as influências europeias e as multi-culturas fazem parte do dia-a-dia, de um país ainda à procura do seu destino e onde a pobreza e a violência são casos sérios. Joanesburgo é a capital, enquanto que Cape Town (Cidade do cabo) é a cidade turística por excelência, com uma beleza ímpar, rodeada de montanhas (a mais famosa a "Table Mountain"), com praias paradisíacas e onde a indústria do vinho é extremamente poderosa. Com uma história que remonta a mais de 300 anos atrás, os vinhos sul africanos refletem as tradições do Mundo Antigo, mas são também influenciados pelos estilos contemporâneos do Mundo Novo. 
Cape Town

Esta rara combinação ajuda a explicar a crescente popularidade internacional de vinhos sul africanos nos últimos anos. Cape Town é a porta de entrada para a região das vinícolas Sul Africanas. O clima mediterrâneo, com verões mornos e chuva de inverno, combinado com um solo rico, assegura o crescimento de videiras fortes e saudáveis. São cultivados mais de 100 000 hectares de vinhedos e vinhos em mais de 340 adegas de vinho e propriedades. Existem por isso diversas rotas, que os turistas e locais podem percorrer a partir de Cape Town, preparados para receber os visitantes e com todas as condições para uma tarde ou dia em família, com restaurantes, diversões e enormes espaços verdes, muito agradáveis.
Como referi anteriormente, estive em trabalho pelo que apenas consegui reservar dois dias para visitar algumas das propriedades onde a prova de vinhos é tratada turisticamente. Muito pouco, mas o suficiente para ter uma ideia de como funciona e ficar com vontade de regressar...
Dia 1:
Cape Town orgulha-se de cinco regiões de vitivinicultura, a Coast, a Olifants River, Boberg, Breede River Valley, e Klein Karoo. Todas têm suas próprias rotas de vinho onde visitantes são sempre bem-vindos. A Região Litoral (Coast) é talvez a mais importante e consiste nos distritos de Paarl, Stellenbosch, Swartland, Tulbagh, Tygerberg e Cape Point. Muitos locais importantes, tais como Constantia, Durbanville, Franschoek e Simonsberg, ficam dentro desta área. 
Fiquei hospedado no Protea Hotel, exactamente em Durbanville, um hotel localizado no meio dos vinhedos e que por esse motivo estava decorado com motivos alusivos ao vinho por todo o lado, sendo inclusive possível provar uma série de vinhos da região, a preços convidativos.
Sendo impossível de visitar todos os produtores e não tendo efectuado um real trabalho de casa, confiei no meu colega local Ryno que nos levou ao distrito de Paarl, perto de Durbanville e a 50km de Cape Town. Visitamos 3 produtores nesse dia: Simonsvlei, Fairview e Spice Route. Todos eles, produtores "mainstream" isto é, com todos os apetrechos preparados para receber turistas e locais, apresentando uma enorme variedade de vinhos, de perfil internacional, de novo mundo, com castas francesas e algumas autóctones. Tudo muito bem conseguido para proporcionar um belo tempo de relax à volta do vinho. Destaque para o produtor Spice Route onde para além da prova de vinhos, fizemos uma prova de chocolate negro artesanal e uma prova de cerveja artesanal...Brutal. Todos os espaços tinham pessoas que sabiam falar sobre o vinho e estavam com muita gente local e turista que aproveita a oferta para passar uma bela tarde de convívio e em família à volta do vinho. Mais tarde falarei mais em pormenor dos vinhos provados e dos produtores em questão.


Dia 2:
Visita a Cape Town. Aí pedi ao Ryno para visitarmos um produtor "boutique" e a escolha recaíu no produtor "Constantia Glen", na vila de Constantia, famosa pelos seus produtores de boutique, ou seja mais pequenos e tradicionais. Aqui os produtores produzem os seus vinhos das suas próprias uvas e vinhas dentro da propriedade, enquanto que em Paarl, as vinhas estão noutras regiões e por isso é mais uma produção em massa. A diferença foi enorme. Pela primeira vez fiquei positivamente surpreendido com os vinhos provados: Um Sauvignon Blanc delicioso um tinto com 3 castas franncesas e outro com um blend de 5 castas francesas, respectivamente Constantia Glen Three e Cosntantia Glen Five, de grande qualidade, apetecíveis, complexos e saborosos. Muito diferente e quiçá mais próximo da tal identidade que tanto aprecio na maior parte dos vinhos de Portugal, sobretudo do Dão e Bairrada. Fiquei fã!

Alguns factos curiosos:
- Vasco da Gama e Bartolomeu Dias foram os primeiros a chegar à África do Sul e a Cape  Town, na rota a caminho da Índia.
- Mais de 70% da produção de vinho da África do Sul é destinada à exportação.
- A partir das 17h locais não se pode adquirir mais vinho, a não ser em estabelecimentos comerciais e para consumo nesses espaços. O mesmo aos Domingos e feriados - No Álcool! A excepção é uma garrafeira em Waterfront Park, em Cape Town que pode vender as garrafas de vinho aos Domingos, pois o local é eminentemente turístico...

Voltei a Cape Town por mais duas vezes, onde visitei Stellenbosch e outras regiões e produtores que merecem a pena mencionar. Mas ficará para breve o retrato dessas experiências.
Sérgio Lopes 

             

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