Durante muitos anos, Portugal foi um país de vinhos tintos, com pouca preocupação pelos métodos de vinificação, cuidado com as vinhas, etc., logo, resultando em vinhos de qualidade muito duvidosa.
A partir dos anos 90, assistimos a uma verdadeira revolução em Portugal na forma cuidada, moderna e profissional de fazer vinho, transportando Portugal para um patamar de vinhos de qualidade inegável, sobretudo produzindo, tintos. Felizmente, nas duas últimas décadas e, sobretudo, nos últimos anos, temos assistido a um crescimento elevado de qualidade também nos vinhos brancos em Portugal, o que é excelente. Isto deve-se não só à aposta dos produtores nos tais métodos mais controlados de produção, mas sobretudo às castas que dispomos em Portugal, capazes de produzir brancos de enorme qualidade! França tem o Chardonnay ou o Sauvignon Blanc; Alemanha o Riesling, mas nós temos uvas como o Rabigato, Maria Gomes, Alvarinho, Encruzado ou Arinto, entre outras, que conferem uma identidade ao vinho de acordo com o local onde são plantadas.
A Maria Gomes (ou Fernão Pires), é uma dessas castas que resulta em vinhos de características muito variadas, que espelham as condições locais chegando a parecer de castas diferentes. Mas é na Bairrada que atinge o seu esplendor sendo parte integrante dos grandes brancos de casas como Quinta das Bágeiras, ou Luís Pato, entre outras, brancos que aguentam o passar dos tempos de forma exemplar. O Rabigato, no Douro Superior, origina brancos minerais e muito crocantes em vinhos como D. Graça, Dona Berta ou Permitido, espelhando esse poder contido da casta. O Alvarinho, cuja região de origem, Monção e Melgaço, produz vinhos de aromas citrinos e tropicais, onde referências como Soalheiro, Regueiro ou os vinhos de Anselmo Mendes - Curtimenta, Expressões ou Muros de Melgaço, elevam a região dos vinhos verdes para uma dimensão mundial. E esta casta, o Alvarinho, começa a dar-se bem um pouco por todo o país, originando brancos soberbos, como o Poeira de Jorge Moreira, um branco duriense aclamado internacionalmente feito 100% de uvas Alvarinho! Ainda nos verdes, o pendor floral do Loureiro (Quinta do Ameal, Pequenos Rebentos VV) e o lado mais sério das castas Avesso ou Azal (Covela, Sem Igual), originam grandes vinhos brancos.
No Dão, o encruzado, origina brancos de classe, com notas florais e muita finesse, capazes de melhorar com os anos, quer passem por madeira ou não. São vinhos gastronómicos e de enorme prazer. Quinta dos Maias, Quinta das Marias, ou Fata, entre tantos outros, são obrigatórios à mesa e na nossa garrafeira. O Arinto, plantado um pouco por todo Portugal mas cujo expoente máximo ocorre em Bucelas, às portas de Lisboa. Confesso que esta casta me tem surpreendido em vinhos como Quinta da Murta ou Morgado Sta Catherina, pois quer com estágio em madeira ou não origina brancos com muita acidez e vertente citrina, que com o tempo desenvolve aromas terciários simplesmente deliciosos. E a Siria na Beira Interior que começa a entra na primeira liga do que melhor se faz em brancos...!
Definitivamente, Portugal é (também) um país de vinhos brancos, que devemos apreciar durante todo o ano!
Sérgio Lopes
In Revista Paixão pelo Vinho