terça-feira, 2 de maio de 2017

Opinião: Brancofobia?

Na semana passada fui ao Dão e fui confrontado com a necessidade de se retomarem garrafas de vinho branco de 2015, que alguns clientes de restaurantes de Viseu acham que está velho! Disseram-me que é uma reacção frequente, logo que sabem que a nova colheita está para sair. Claro está que os reclamantes imputam a situação aos seus clientes, que só gostam de brancos jovens, clarinhos e muito frutados! Quando provei o vinho em causa achei que estava excelente e a entrar na idade adulta, fruto da complexidade que começava a ganhar com o estágio de garrafa. Reconheci o inconfundível estilo dos brancos do Dão, cujo lema é: "Quanto mais velhos melhores!" Achei que não se justificava a retoma das garrafas, mas logo me disseram que "O cliente tem sempre razão", acresecentando que a solução mais pragmática seria colocar o vinho em saldo, para não se correr o risco de ficar com alguns "monos" por vender: Lembrei-me, então, que várias cartas de vinhos de restaurantes da Capital do Dão têm a originalidade de começar pelos tintos (com uma lista imensa de marcas e preços), remetendo os brancos para o fim da lista (meia-dúzia de referências) para os clientes "esquisitos"! 

Perante os factos interrogo-me de quem será a culpa de tal situação e tenho de reconhecer que é, em primeiro lugar, dos produtores, que não conseguem explicar convenientemente o estilo dos seus vinhos aos consumidores...e aos donos dos restaurantes. Haverá, por certo, mais responsáveis, mas quem tem de escoar o vinho são os produtores...

Para esquecer o desgosto do mau trato que alguns dos melhores brancos do País sofrem na sua terra natal fui buscar uma garrafa de um branco do Dão de 2011 (para alguns estará certamente "morto") para me deliciar. Não era nenhum "Encruzado" fermentado em barricas novas de carvalho francês ou um "Reserva" especial feito com todos os cuidados. E, mesmo assim, estava fantástico. A cor já caminha no sentido do amarelo palha, o aroma é intenso, impossível de descrever e enigmático, preparando as papilas para a festa que vão ter logo que se leva à boca. À medida que se oxigenava no copo ficava melhor e eu interrogava-me: como é que há pessoas que não gostam disto? Será que quando se explica cuidadosamente um vinho destes a quem não o entende é tempo perdido? Já passei várias vezes por tal situação e algumas pessoas a quem expliquei este estilo de vinhos já me agradeceram a descoberta que lhes proporcionei e os horizontes que lhe abri. Os brancos do Dão, principalmente os que envelhecem bem (e são muitos) têm de passar a ser motivo de orgulho para toda a gente da região, nem que para tal tenham de ser provados lado a lado com os grandes brancos da Borgonha!

NOTA FINAL:
Nunca me esqueço do orgulho que tive quando jantei com um amigo americano num restaurante do centro histórico de Viseu, há anos atrás. Ele ficou verdadeiramente extasiado com a carta de vinhos do restaurante, pois tinha o preço de venda ao público e, também, o preço a que o dono do restaurante os tinha comprado. Ao fim de minutos a fotografia da carta estava no facebook dele e os enófilos da Califórnia encheram-no de comentários altamente elogiosos.

Professor Virgilio Loureiro

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