sexta-feira, 23 de junho de 2017

A abertura do garrafão de Colares "Genuíno" (parte 2)

Retemperados com a visita às vinhas de chão-de-areia, em Fontanelas, chegámos a Almoçageme por volta das 19 h tendo o anfitrião José Baeta à nossa espera no Largo do Coreto. O calor apertava, pois a famosa brisa marítima estava de férias, mas o entusiasmo crescia à medida que os "felizardos" iam entrando para a monumental adega Viúva Gomes. O cenário estava preparado a preceito, com todas as velas dos candelabros gigantes acesas, com as mesas preparadas para o repasto e com os célebres garrafões - um de branco e um de tinto - perfilados lado a lado.

José Baeta não se tinha esquecido de nada. Havia decantadores, saca-rolhas de palhetas, saca-rolhas helicoidal, funil de rede fina, guardanapos e 60 copos de prova bem alinhados.O primeiro momento alto, com todos os felizardos a fazer meia-lua em frente aos garrafões, foi a extracção da rolha, do de vinho branco. Sabíamos que da facilidade com que a rolha fosse extraída e do seu estado de conservação dependeria grande parte do sucesso da noite. 

A tensão era, por isso, grande e a expectativa estava estampada nos olhares de todos. José Baeta, habituado a estes momentos, empunhou o saca-rolhas de palhetas e avançou resoluto para o garrafão de branco, disposto a sacar-lhe a rolha e a desvendar-lhe os segredos que tinha dentro. A primeira dificuldade surgiu quando constatou que as palhetas do saca-rolhas tinham sido feitas para garrafas e não para garrafões, não permitindo a extracção da rolha! José Baeta, que nunca tinha aberto um garrafão desta forma, contentou-se em tentar descolar a cortiça do vidro do gargalo, que conseguiu com alguma arte e ao som de alguns suspiros de admiração dos presentes. Foi, então, o momento para entrar em cena o outro saca-rolhas. 

A perfuração da cortiça fez-se com todo o cuidado, mas rapidamente se percebeu que não iria ser tarefa fácil, pois a rolha esfarelava devido à secura extrema que tinha à superfície. Cada pedaço de rolha que se destacava do conjunto causava burburinho na adega e as câmaras fotográficas e os telemóveis não paravam de registar esses momentos. Por fim, José Baeta tornou-se (ainda) mais afoito e perfurou a rolha de lado a lado, convicto que chegava para ela. Puxou e conseguiu vencê-la, brandindo-a, na ponta do saca-rolhas, à frente de todos como se de um troféu de caça se tratasse! Escusado será dizer que o entusiasmo cresceu exponencialmente na adega.

A segunda etapa do ritual consistia na decantação do vinho, pois desconhecíamos se tinha sedimentos. Foi a vez de VL pegar no garrafão, enquanto José Baeta segurava o decantador e o funil de rede fina. Logo que o vinho viu a luz do dia soltou-se uma exclamação, em uníssono, de todos os felizardos, pois apresentava um aspecto brilhante e uma linda cor acobreada. Tudo apontava, por isso, para uma noite de glória. A operação foi morosa e ocupou quatro decantadores, pois havia 5 L para decantar, numa operação que se pode chamar inédita, pelo menos para todos os presentes. Entretanto, começou a sentir-se o cheiro forte e delicioso que exalava do vinho, aumentando o entusiasmo de toda a gente.

Ao fim de muitos anos, que José Baeta estimou em cerca de oitenta, o vinho do garrafão ia começar a revelar os seus segredos...

Fotos cortesia de Rui Viegas

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Professor Virgilio Loureiro

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