Agosto e Setembro trazem consigo a azáfama das vindimas na Bairrada, uma época onde os produtores jogam todas as fichas dum ano de laborioso trabalho e procuram na colheita obter a boa fortuna da qualidades dos seus vinhos. Das vindimas de 2016, acompanhámos algumas colheitas realizados pela Quinta do Poço do Lobo e Filipa Pato..
Quinta do Poço do Lobo - Caves São João
A penúltima aventura neste mundo das vindimas levou-me até à Pocariça, em pleno concelho de Cantanhede, local onde se situa a Quinta do Poço do Lobo, propriedade adquirida em 1971 pela mais antiga empresa vitivinícola em actividade na Bairrada, as Caves São João, uma Sociedade dos Irmãos Unidos, fundado no já longínquo ano de 1920. Neste dia previa-se que a chuva se fizesse anunciar ao fim do dia, o que obrigava os muitos vindimadores – mais de duas dezenas - a adoptar um ritmo muito elevado, sob o comando de José Rumor,, comandante das tropas no terreno e um dos principais responsáveis pela qualidade das vinhas da Quinta do Poço do Lobo.
O Cabernet Sauvignon é uma uva que surge na Quinta do Poço do Lobo já nos anos 80 por força da visão mundialista dos mentores das Caves São João e da vontade de experimentar diversas castas nacionais e internacionais, devidamente parceladas. O primeiro vinho a sair desta propriedade foi o Quinta do Poço do Lobo Cabernet Sauvignon 1985 que, segundo Celia Alves , gerente das Caves São João, encontra-se ainda numa belíssima forma. A encantadora Quinta do Poço do Lobo estende-se por 37 hectares, dos quais 25 com vinhas plantadas, a que acrescem mais 7 hectares plantados já no corrente ano. Em parcelas bem definidas, encontram-se plantadas na Quinta, para além do Cabernet Sauvignon, as tintas Touriga Nacional, Syrah, Merlot, Sousão, e nos brancos Arinto, Chardonnay e Semillon. Nas novas parcelas plantadas já despontam o Pinot Noir, Petit Verdot, Alicante Bouschet e Baga, para além de novas parcelas de Semillon para dar continuidade à produção do Colheita Tardia Apartado 1, que no futuro, à semelhança da prática de Sauternes, será a casta exclusiva daquele vinho de podridão nobre.
Sendo o Cabernet Sauvignon uma casta mais tardia, de maturação mais lenta e película mais rígida, é normalmente a última vindima a realizar na Quinta do Poço do Lobo. As Caves São João não foram excepção e, à semelhança da maioria das empresas com produção vitícola, também sofreram perdas na vindima de brancos, tendo, no entanto, mantido e até aumentado a produção nas uvas tintas. Num ano de condições climatéricas difíceis, as vinhas da Quinta também não não escaparam ao rigor dos tratamentos fitosanitários. O controlo de maturação é também aqui feito, semanalmente, na sua forma tradicional, através da prova da matéria-prima que dá origem aos vinhos de qualidade reconhecida desta Quinta. Não se descurando também o controlo analítico final, que permitia que, neste dia, se vindimasse o Cabernet Sauvignon com uma previsão de 13,0% de teor alcóolico e 6,5% de acidez.
Finda a vindima da Quinta do Poço do Lobo, uma propriedade que cria vinhos para o Mundo, com castas do Mundo e locais, resta-nos desejar um bom trabalho na adega para que possamos brevemente provar os néctares das Caves São João.
Filipa Pato
A última vindima de Baga do corrente ano, levou A LEI DO VINHO até Óis do Barro, com uma visita à nova Adega de Filipa Pato, um espaço que alberga não só uma parte dos seus tesouros, em barrica e ânfora, mas também acolhe o lar da família. Filipa Pato que desde sempre negou a entrada de produtos químicos nas suas vinhas, é, actualmente, uma defensora da biodinâmica na produção de vinhos, bebendo inspiração nos princípios enunciados pelo austríaco Rudolf Steiner que, a partir dos anos 20 do século passado criou os princípios da agricultura orgânica, mais tarde transposta para a produção de vinhos por reputados produtores internacionais.
Numa vinha perfeita para brancos – o Nossa Calcário nasce nesta vinha de Óis do Bairro – Filipa lamentou a quebra de produtividade que se registou este ano, facto que segue a tendência da Bairrada, sentindo-se, também aqui, maiores perdas nos brancos que nos tintos. E também em virtude de se trabalhar em biodinâmica, o que impede qualquer uso de produtos químicos na vinha, essas quebras tornam-se ainda mais acentuadas quando o tratamento preventivo na vinha não é feito no tempo certo.
Filipa Pato é uma das mais fervorosas adeptas das castas autóctones. E a sua aposta centra-se nas castas Bical, Maria Gomes, Cerceal e Baga, distribuídas pelos cerca de 15 hectares de vinhas próprias em produção biodinâmica. A produtora bairradina tem hoje um papel importante também na sensibilização dos pequenos produtores para esta forma de agricultura sustentável, apostando numa mensagem ambiental e de preservação do terroir para o futuro, e para a rejeição dos fitófarmacos industriais nas vinhas.
Consigo tem uma equipa multifacetada que a acompanha todo ano, não sentindo dificuldades na época da vindima em ter trabalhadores. No dia em que acompanhámos a vindima, vindimava-se Baga, apresentando as uvas um estado de maturação e sanitário ideal. O controlo da maturação faz-se diariamente da forma mais artesanal possível, através da prova das uvas, mascando películas e grainhas. Usufruindo das boas condições climatéricas que se têm sentido, as análises finais ao estado das uvas que se vindimavam em vinhas velhas faziam esta casta atingir os 12,5% de teor alcóolico e um nível de acidez de 6,5% a 7,0%.. A manhã de vindima terminou em grande com um repasto em família preparado pelo grande Chef William Wouters, harmonizado com um dos mais brilhantes brancos nacionais – Nossa Calcário 2010.
https://www.facebook.com/aleidovinho2015/
Miguel Ferreira (A Lei do Vinho)
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