A Espanha é o terceiro maior produtor de vinho do mundo, logo a seguir à França e à Itália e aquele que tem a maior área de vinha plantada. Pode parecer um paradoxo mas não é uma vez que a densidade e a quantidade de uva produzida em média por videira podem tudo explicar.
Um país que produz tanto vinho como este tem obrigatoriamente de ter belos e diferentes tipos de vinhos e este não é exceção. De todas as regiões deste país a mais reconhecida internacionalmente é sem dúvida Rioja e durante algum tempo não percebi o fascínio que causava em alguns amigos meus. O motivo, sei-o hoje, tem um nome um pouco esotérico: Brettanomyces. Esta levedura, é disso que se trata, é um dos famosos bichinhos que transformam o açúcar em álcool e deixa durante o processo um aroma no vinho nada agradável para o meu sensível nariz mas que o é para muito boa gente: suor de cavalo. Como então? Suor de cavalo? Pois é, por mais incrível que vos possa parecer, este era o aroma dominante e mais comum em quase todos os vinhos riojanos até ao final do século XX. Não sendo, muito longe disso, a única região a sofrer desse mal, era, devido às práticas enológicas, que envolvem muitas trasfegas, uma das mais afetadas, pois com esta prática basta uma mangueira estar infetada para todos os vinhos trasfegados por ela ficarem irremediavelmente afetados.
No entanto e apesar de eu sentir imensas dificuldades em apreciar um vinho com estes aromas a verdade é que há quem adore, mesmo se por vezes não o conseguem identificar desta forma, o que levou alguns produtores a utilizarem ainda hoje de uma forma propositada a famosa levedura na elaboração dos seus vinhos. Felizmente para mim esse comportamento não é o normal naquela região e uma autêntica revolução aconteceu desde o início do século, mudando o estilo dos vinhos para um estilo muito mais consensual a nível internacional. O que mudou também, sobre tudo quando falamos dos produtores que estão na vanguarda da região, foi a utilização da madeira, passando o carvalho húngaro e francês a ter cada vez maior presença em detrimento do americano
Apesar de apresentar belíssimos vinhos brancos da casta Viura, mais conhecida internacionalmente por Macabeo, esta é uma região que se define essencialmente pelos seus vinhos tintos. Cerca de 80% dos vinhedos são de uvas negras. A Tempranillo com cerca de 85% dos encepamentos é a casta dominante, seguida da Garnacha com 10%, da Mazuelo com 2,6% e a Graciano com 1,7%. Em 2007 outras castas tintas foram aprovadas sem no entanto terem para já expressão.
São quatro as classificações usadas para distinguir os diferentes estilos do tradicional vinho de Rioja:
- Vin Joven: que raramente passa por madeira e tem um ou dois anos de estágio em garrafa. Habitualmente menos extraídos e por conseguinte com muito menos tanino. São ideais para perceber a fruta da casta Tempranillo.
- Crianza: tem um estágio mínimo de 1 ano em barricas e outro a estagiar na garrafa. Se for um vinho branco tem de estar 6 meses na madeira. Por norma, as barricas utilizadas são usadas e assim a presença da madeira é bem menor o que o faz ser mais apetecível para o gosto português e foram estes os que primeiro me seduziram.
- Reserva: se branco tem de estagiar dois anos com pelo menos 6 meses em madeira. Se tinto tem de estagiar por três anos com um mínimo de 1 ano nos cascos. São Riojas sérios, com os produtores a escolherem as melhores uvas e a deixarem o vinho evoluir mais tempo que o mínimo exigido por lei.
- Gran Reserva: se for branco terá um mínimo de 4 anos de estágio com um mínimo de um ano em barricas. Se tinto aumenta para 5 o tempo mínimo de estágio com pelo menos dois em barricas que os marca de uma forma indelével. Barricas novas são usadas com grande profusão e grandes extrações são efetuadas o que faz destes vinhos uns monstros enquanto jovens. Não admira pois que os melhores apenas deixem sair os seus vinhos para o mercado com mais de uma década de estágio.
A região divide-se em 3 sub-regiões:
Rioja Alavesa – De onde provêm os vinhos mais leves, ácidos e aromáticos graças a uma elevada altitude média das vinhas que podem atingir os 1200 metros, a um solo de argila e calcário e a um clima mais afetado pelo Atlântico dado ser a região mais próxima deste oceano.
Rioja Alta – Aquela onde estão situadas as mais nobres propriedades e de onde vêm os vinhos mais equilibrados em corpo, normalmente elevado, acidez boa e teor alcoólico moderado com boa caraterísticas para estagiar em barricas como é habitual na região.
Rioja Baixa – A mais quente e mais baixa das 3 sub-regiões, é a que dá origem aos vinhos mais encorpados e de menor acidez, graças também a uma maior percentagem da Garnacha. É por isso normal a mistura destes vinhos com os das regiões mais elevadas que assim se complementam.
Uma visita a esta famosa região deverá fazer parte da vossa agenda, pois além de grandes vinhos poderão também encontrar alguma da melhor gastronomia espanhola, é essa a fama que o País Basco ostenta…
Hildérico Coutinho
Escanção/Sommelier
Sem comentários:
Enviar um comentário