quarta-feira, 20 de abril de 2016

Radar do Vinho: A cinemática da Quinta da Covela

Quem não conhece Manoel de Oliveira, prolífico cineasta Português, nascido em 1908, dono de um interminável currículo recreado de prémios e galardões?

O que provavelmente não será tão conhecido é que ele foi também o proprietário (juntamente com a sua esposa, Maria Isabel Brandão de Meneses de Almeida Carvalhais), de uma extensa propriedade com uma excelente vista para o Douro em terras do Vinho Verde.

Não se pense, porém, que esta propriedade serviu apenas de aproveitar os lânguidos e solarengos finais de tarde, que esta região oferece com frequência, ou de refúgio para a adaptação do argumento da obra “Meninos Milionários”, de João Rodrigues de Freitas, que mais tarde seria imortalizada e amplamente difundida no filme “Aniki Bóbó” lançado em 1942.

Esta quinta confirma igualmente o invulgar dinamismo e capacidade do cineasta. O próprio desenhou e mandou construir aquedutos, muros, casas de pedra e eiras de granito, valorizando, desta forma, a propriedade existente desde o século XVI.

No final da década de 80, a quinta mudou de mãos, o proprietário decidiu investir fortemente nas vinhas e nos vinhos criando a marca Covela.

Em 2011, depois de um breve período de abandono e incerteza, a Quinta de Covela voltou a sofrer mais uma movimentação. Algumas personalidades oriundas de áreas diversas, e já conhecedores da reputação da marca entre os enófilos, decidiram comprar a quinta e devolver-lhe a aura de excelência na produção de vinhos.

Tony Smith, um dos atuais proprietários, contou que foi um processo lento e moroso de recuperação
da vinha, das linhas de muros e das linhas de água. No final do processo de recobro, a Quinta da Covela apresentava um perímetro total a rondar os 50 ha, dos quais 18 ha geram uvas destinadas à produção de vinho.

As principais castas plantadas são a Avesso e a Touriga Nacional que se complementam com Arinto, Chardonnay, Viognier, Gewürztraminer, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot. Estas, pela mão do enólogo Rui Cunha, depois de vindimadas e estagiadas dão origem a 75 mil garrafas distribuídas pelas referências escolha, rosé e reserva.

Durante a visita efetuada foram provados, à mesa, as referências: Covela Avesso 2014, Covela Escolha 2013, Covela Rosé 2015 e Covela Reserva 2013. Os vinhos provados revelaram-se muito gastronómicos, apresentando uma linha identitária comum: acidez, frescura e secura.

A Quinta da Covela apresentou uma gama de vinhos de muito alta qualidade. Destaco o Covela Escolha 2013 e o Covela Reserva 2013 pelo aroma a líchias, no primeiro, e pela madeira bem integrada, no segundo.

No final da visita ficámos com a nítida sensação que o Carlitos, a Teresinha, o Eduardo e o Batatinha podiam estar ao virar de uma qualquer esquina da quinta. Fica para a próxima...

Paulo Pimenta (Wine Lover)

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