Confesso que, nos últimos anos, tenho andado um pouco de costas voltadas para o Alentejo. Os motivos foram sobretudo estar demasiado concentrado na Bairrada e ter o preconceito de que os vinhos alentejanos andavam demasiado certinhos, tecnicamente muito bem feitos, mas muito idênticos. Provavelmente era um preconceito infundado, mas adiante.
Há um par de meses provei um vinho curioso, que resultou duma parceria da Filipa Pato/William Wouters com Susana Esteban. E, porque já conhecia as criações bairradinas, surpreendeu-me o cariz “de pés assentes na terra” (neste caso, na vinha) da enóloga que também assina este BLOG ’12.
E é essa característica de regresso às origens, de privilégio da vinha e do terroir, em detrimento da Adega e da técnica, que me cativou neste tinto, que elegi como estrela maior do jantar vínico organizado pelo restaurante PEDRO DOS LEITÕES em parceria com os vinhos de Tiago Cabaço Winery.
Aromaticamente, este vinho é uma sinfonia de exuberância. Não maquilha a fruta e faz transparecer o chocolate que nos provoca um sorriso espontâneo de puro prazer. Na boca revela macieza, mas não descura os taninos vincados, o que o torna um vinho pleno de vigor e potência.
Escreviam-me há pouco que é um vinho que está na moda. Bom, que seja moderno e venha para ficar, porque o Alentejo precisa de vinhos com este carácter muito próprio. Este foi previamente decantado e, a mim, só me faltou levantar e aplaudir quem cria a perfeição.
Miguel Ferreira (A Lei do Vinho)
Sem comentários:
Enviar um comentário