segunda-feira, 22 de abril de 2013

2 provas... 3 enólogos da nova geração!

Este sábado foi um dia de tertúlias à volta de (excelente) vinho, À hora do almoço, com Jorge Moreira (Poeira / Real Companhia Velha) e Luís Cerdeira (Soalheiro) enquanto que à tardinha com Tiago Alves de Sousa (Alves de Sousa) e seu patriarca, numa "prova do outro mundo"! Mas antes de falar mais em pormenor das provas propriamente ditas, apraz-me saudar o trabalho que os enólogos da nova geração fizeram pelo nosso vinho, transformando processos, desmistificando conceitos, profissionalizando a produção do vinho, no fundo retirando o melhor que cada terroir e casta podem dar, aplicando a paixão e rigor necessários para o efeito, respeitando sempre a região. Como enófilo apaixonado e português que sou, o meu lado patriótico deixa-me bastante orgulhoso desta malta. Jorge Moreira, Luís Cerdeira e Tiago Alves de Sousa são apenas alguns exemplos desta fornada de profissionais que definitivamente a par de outros, da sua geração, transformaram o sector vinícola para patamares de excelência, criando vinhos capazes de se destacar no panorama quer nacional, quer internacional. Obrigado!

Luís Cerdeira
Jorge Moreira
A primeira prova ocorreu na Wine O' Clock de Matosinhos, centrando-se na casta Alvarinho. Penso ser consensual que quando se fala de Alvarinho, quase sempre se confunde com Soalheiro. E o que começou com o Soalheiro clássico, se tem vindo a expandir em inúmeras referências tais como o brilhante Primeiras Vinhas, o Reserva, o Espumante e mais recentemente o Allo (Alvarinho + Loureiro) e o Dócil, com apenas 9º de álcool.  Luís Cerdeira tem diversificado o portfolio da marca, dando continuidade ao projecto iniciado pelo patriarca e nunca parando, como demonstra o aparecimento das novas referências.

Jorge Moreira, enólogo que durante 7 anos trabalhou na gigante Real Companhia Velha (ao qual regressou recentemente) e cujo projecto pessoal Poeira, foi (e continua a ser) um dos vinhos mais aclamados do Douro, deste século. É inegável a frescura, elegância e longevidade que caracterizam os seus Poeira.

O mote da prova, tal como referi, foi a casta Alvarinho, isto porque para além da apresentação do Soalheiro 2012 (com a consistência que nos habituamos) foi também apresentado o Pó de Poeira Branco 2011, 100% Alvarinho, no Douro. Jorge Moreira decidiu-se pelo Alvarinho para fazer o seu primeiro Poeira branco, pela capacidade que a casta tem de exprimir o terroir. Trata-se de um vinho crocante, pleno de acidez e frescura, a pedir comida. Confesso que em prova cega nunca o identificaria como Alvarinho... Mas o que ficou da prova e que é importante registar é a versatilidade e nobreza da casta Alvarinho que se exprime de forma clássica na sua sub-região de origem, Monção e Melgaço, mas que tão bons resultados apresenta fora dela, resultando em brancos que respeitam o terroir. Talvez seja uma casta que a breve prazo seja realmente a nossa casta internacional, à semelhança do Riesling, ou Viognier, entre outras...Quem sabe?

Luís Cerdeira apresentou também mais uma novidade do mundo Soalheiro, o primeiro espumante...Rosé. Feito com uvas próprias, 80% Alavrelhao, 10% Vinhão + 10% Touriga Nacional. Um espumante bruto natural, gastronómico, interessante, que curiosamente resgata a casta base dos primeiros Mateus Rosé, o Alvarelhão. No final da prova, ainda tivemos a possibilidade de  beber um pouco do Poeira Tinto...


Domingos e Tiago Alves de Sousa
A segunda prova do dia ocorreu na Viniportugal, na sala Ogival do Porto. Inesperada, pois de passagem pelo palácio da Bolsa cruzamo-nos com o evento, ao qual tivemos a sorte de assistir, apesar do Sol agradável que raiava lá fora. É daqueles eventos que poderiam fazer parte por exemplo das provas comentadas da Essência do Vinho, tal a qualidade e o tema: 10 vinhos (2 brancos , 8 tintos) + 2 Portos para ilustrar os 20 anos de história do produtor Duriense Domingos Alves de Sousa, que se fez acompanhar do seu filho, o enólogo Tiago. 

A prova começou com 2 brancos, o Berço, e o Reserva Pessoal 2005. De seguida passamos aos tintos:

- Quinta da Gaivosa 2008
- Quinta da Gaivosa 2005
- Quinta da Gaivosa 2003
- Quinta da Gaivosa 2000
- Reserva Pessoal Tinto 2005
- Vinha do Lordelo 2009
- Vinha do Abandonado 2009
- Memórias 20 anos Domingos Alves de Sousa e Família

Para o final estavam reservados o Vintage 2009 e o 20 anos.

Uau!

Os vinhos foram sendo apresentados pelo pai Domingos, contextualizando a história dos mesmos, ao mesmo tempo que o filho Tiago ia explicando tecnicamente como nasceram e foram produzidos. Depois dos 2 brancos com perfis muito distintos, destacando-se é claro o Reserva pessoal, um branco quase tinto, e que adoro, passamos aos tintos e logo começando por uma mini-vertical do icon Quinta da Gaivosa. Este vinho é obrigatório para qualquer enófilo. Produzido exclusivamente em anos de qualidade excepcional, segundo Tiago apenas se começa a mostrar verdadeiramente após 10 anos da data de colheita. Foi por isso muito interessante verificar e comparar o comportamento dos 4 vinhos provados da última década: O 2008 para guardar. O 2005 a mostrar toda a secura e calor do ano, mas mantendo um nervo invejável. O 2003 num momento de prova excepcional. Adorei. E atenção que será relançado em breve para comemorar os seus 10 anos, ou seja o tal período que Tiago considera que a partir do qual o vinho entra na idade adulta. O 2000 achei que ainda estava um pouco nervoso, embora já tivesse entrado na idade da maturidade. Todos, gramdes vinhos! 

Depois do Reserva pessoal tinto 2005, que tal como branco só sai para o mercado 7 anos após a data de colheita, entramos no trio de luxo final. A Vinha de Lordelo é, “só por acaso”, a mais velha das vinhas da quase centenárias da Quinta da Gaivosa. Uma produção escassíssima de 10hl/ha. E sempre que existam condições para tal nasce este vinho, de uma produção muito reduzida e excepcional. O 2009 caracteriza-se por uma facilidade de prova e harmonia de conjunto notáveis, o que torna este vinho um must. Quanto ao Abandonado, também é fruto da vinificação da vinha com o mesmo nome, vinha com mais de 80 anos, de localização agreste e que a espaços esteve ao abandono. O resultado é um vinho de nível mundial, com a idade de maturidade acima de 20 anos em garrafa, mas que eu confesso que adoro beber, desde já. A grande surpresa final estava reservada para o vinho intitulado Memórias 20 anos Domingos Alves de Sousa e Família. Em breve no mercado, consiste no blend das uvas das melhores quintas e também das melhores colheitas do produtor. Um trabalho de enologia notável de Tiago Alves de Sousa, num vinho impossível de descrever. Quando o bebemos, sentimos um misto de sensações provocadas quando provamos muitos dos vinhos anteriores. Serão engarrafadas apenas 1500 magnuns deste vinho original e de celebração!

No final, terminamos a prova com um vintage 2009 muito consistente e um tawny 20 anos, na minha opinião com um perfil de um tawny ainda com mais idade. Muito bem.

É inegável que Alves de Sousa é um dos produtores grandiosos do Douro. Traçou um caminho muito próprio, quiçá alternativo à corrente que estaria em vigor e tem-se saído muitíssimo bem. Não podemos esquecer que desde o início contou com o apoio do enólogo então desconhecido Anselmo Mendes, que continua ainda hoje a ser o consultor da empresa. Contudo, é igualmente inegável que desde a entrada de Tiago Alves de Sousa para a direcção de enologia, em 2003, o percurso tem sido de uma maior definição e consistência, tendo igualmente sido desenhados por si icons como o Abandonado, o Reserva Pessoal e agora o Memórias 20 anos que demonstram a assinatura do jovem enólogo. Muitos e bons anos pela frente se desejam à família Alves de Sousa que nos continuará seguramente a brindar com os seus vinhos de excelência. Os vinhos do Porto serão igualmente uma aposta maior do produtor, segundo nos confessou Tiago. 

Temos enólogos e temos vinhos, dos quais nos podemos seguramente orgulhar em qualquer parte do mundo!



Sérgio Lopes

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