Foi na essência do vinho, que tomamos contacto pela primeira vez, com os vinhos produzidos na Quinta do Carrenho, mais conhecidos por Dona Berta. E como temos família em Foz Coa, mais propriamente em Sebadelhe, era uma questão de tempo até se proporcionar a visita à referida quinta. Aproveitando o fim-de-semana prolongado do dia de Portugal, lá fomos em direcção a Freixo de Numão, localidade onde está situada a Quinta do Carrenho. Infelizmente, o Engº Hernâni Verdelho, mentor do projecto, não pôde estar presente, mas fomos mutíssimo bem recebidos pelo Sr. João Carlos Cabral e respectiva esposa, que tinham tudo preparado para nos acolher.
Hernâni Verdelho, descendente da local Dona Berta, que empresta o nome aos seus vinhos, reabilitou a vinha no final do século passado e finalmente, os resultados começam a dar realmente frutos. Situada a uma cota superior, embora numa região sujeita a temperaturas extremas, consegue produzir vinhos, onde a elegância e a aptidão gastronómica, são as principais características.
São 10 hectares de vinha (e 3 de olival) onde predominam as castas tradicionais do Douro, plantadas individualmente, com principal incidência no Rabigato e Verdelho - nos brancos, sendo que nos tintos, Touriga Nacional, Franca, Barroca, Tinto Cão e Sousão (conhecida por vinhão na região dos vinhos verdes) são as escolhidas. As vinhas apresentam uma idade média de 15 anos. Destaque especial para um talhão de vinhas velhas, localizado a meia dúzia de quilómetros da quinta, mais acima, de onde provém o topo de gama da casa Dona Berta Vinha Centenária, branco e tinto. Trata-se de um talhão de castas desconhecidas, com idade superior a 100 anos!
A vindima é efectuada pelo método tradicional, com uvas colhidas em caixas de 20kg, sendo posteriormente pisadas a pé, num lagar de granito para o efeito. Na quinta existem cubas de inox de fermentação e estágio, quer de tinto, quer de brancos, sendo que o envelhecimento em madeira dos tintos é efectuado fora da quinta, uma vez que o espaço não é suficiente para albergar as cerca de 70 a 80 barricas de carvalho utilizadas nos reservas tintos. A gama dos vinhos Dona Berta é composta pelo Dona Berta Reserva Vinhas Velhas Rabigato, um monocasta que pretende ser associado ao pioneirismo na aposta desta casta como extreme (daí a designação Vinhas Velhas, apesar de terem "apenas" 15 anos de idade); Dona Berta Reserva Especial Tinto e Grande Escolha (este último só sai para o mercado em anos excepcionais); Os monocastas Tinto Cão e Sousão e ainda os Vinhas Centenárias Tinto e Branco, provenientes do tal talhão de vinha com mais de 100 anos de idade.
Terminada a visita, provamos os seguintes vinhos:
- Dona Berta Reserva Vinhas Velhas Rabigato 2009
Ligeiramente floral, muito fresco e muito gastronómico. Apresenta uma grande mineralidade, bela acidez, sem deixar de emprestar grande elegância e finura ao conjunto. Grande Vinho.
- Dona Berta Reserva Especial Tinto 2008
Fruta madura, alguma tosta da madeira, mas sobretudo um vinho que dá enorme prazer a beber. "Escorrega" muito bem, e apesar de macio e elegante, apresenta uma estrutura que pede comida. Excelente.
Para além dos vinhos acima, provamos ainda em amostra de cuba, alguns dos vinhos que vão saír para o mercado, nomeadamente os blends com e sem madeira que vão dar origem aos reserva especial tinto e vinha centenária tinto e ainda o monocasta Tinto Cão. Este útimo, surpreendeu-nos bastante pela estrutura e garra apresentadas, a lembrar um pouco a austeridade de um grande baga. Teremos em vista um grande vinho?
Resta-nos agradecer a visita e desejar as maiores felicidades ao projecto de Hernâni Verdelho.
Quinta do Carrenho
5155 Freixo de Numão - V.N. Foz Coa
Sérgio Lopes
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