Organizado pelo Wine Club Portugal, de Luis Gradissimo (http://avinhar.blogspot.pt/), o WINE FEST 2017 PORTO voltou para a sua segunda edição, no passado sábado dia 18 de Novembro. Perto de 1000 pessoas encheram o Salão Nobre do edifício da Alfândega do Porto, para provar os mais de 200 vinhos disponíveis.
O belíssimo cenário da Alfândega e a escolha criteriosa de produtores contribuiu decisivamente para o sucesso do evento. Pequenos produtores, com identidade, muitos deles foras dos grandes circuitos comerciais, provenientes de quase todas as regiões vinicolas do país.
Foram mais de 30 produtores cujos vinhos estiveram à prova, desde os alvarinhos puros da Quinta do Regueiro, os brancos modernos e irreverentes dos Vinho Verde Young Projects, a frescura do Douro Superior, dos D. Graça da Vinilourenço; a diversidade dos Maçanita Vinhos, os vinhos Casal Faria e Alto do Joa, da emergente região de Trás-os-Montes. Pela Bairrada, os vinhos e espumantes da Casa de Saima e das Bageiras, com os seus desconcertantes Garrafeiras da casta Baga, a elegância do Dão com a Quinta de Lemos e a Casa da Passarella. A Quinta do Cardo e a Quinta de Pancas fizeram as honras pela Beira Interior. Joaquim Arnaud, com o seu Alentejo completamente "fora do baralho" e o vinho generoso DOC Carcavelos Villa Oeiras, entre muitos outros, que fizeram as delicias dos participantes.
E claro as fabulosas provas especiais, das quais tive a oportunidade de participar em duas delas, a da Casa da Passarela e a dos moscatéis de Horácio Simões.
Casa da Passarela - 125 anos de História
Os Moscatéis de Horácio Simões
Casa da Passarela - 125 anos de História
Nesta prova conduzida pelo enólogo Paulo Nunes provamos os topos da casa, Villa Oliveira, numa mini vertical. Nos brancos, Villa Oliveira 2012, Vinha do Provincio, um blend (nem sempre é 100% feito de encruzado - depende dos anos), fino, elegante e complexo, num momento delicioso de prova. Vila Oliveira Encruzado 2015, com 10% de curtimenta (que não se sente) reflecte bem o ano, com um nervo e uma acidez bem vincadas. Tão diferentes e tão bons! No final Villa Oliveira L2010-2015, lote proveniente de uma barrica por ano dos Vila Oliveira. O objectivo é fazer duas edições por década, sendo esta a primeira. Um vinho estruturado, longo, complexo, com classe. a um PVP de 45€.
Nos tintos. Villa Oliveira Touriga Nacional 2009, vegetal e com taninos ainda bem firmes, um pouco fechado, mas bastante fresco. Villa Oliveira Touriga Nacional 2011, menos vegetal mas mais concentrado e com a sensação de alcool mais evidente, reflectindo o ano que foi quente na região do Dão. Villa Oliveira 2012 - Vinha das Pedras Altas, que já tinha tido o privilégio de provar na Casa da Passarela e me fascinou imediatamente. Continua a fascinar-me! Ao contrário dos vinhos provados anteriormente, constituídos 100% de Touriga Nacional, aqui estamos na presença de um blend de uma vinha velha, a Vinha das pedras Altas. O resultado é um vinho super elegante e fino, muito fresco e sedoso, delicioso e cheio de classe. Depois provamos o Villa Oliveira Touriga Nacional 2014, que ainda não está no mercado, a demonstrar um elevado potencial, com as notas vegetais mas também uma fruta primária muito interessante. Irá evoluir bem. O final da prova dos tintos estava reservado para aquele que pretende ser o ex-libris da casa, o Villa Oliveira Passarela 2014, blend de castas de vinhas muito velhas, maioritariamente Baga e Jaen, temperadas com Alvarelhão ou Tinta Carvalha, entre outras. Tudo castas que remonstam a primeira marca da casa Villa Oliveira, como homenagem à sua rica história, com 125 anos. O vinho é simplesmente descomunal aliando uma invulgar potência para a região, a uma desconcertante elegância. São 2000 garrafas apenas, a um PVP de 90€, das quais serão lançadas para o mercado apenas 200 garrafas por ano. Um vinho para ser apreciado nos próximos 10 anos. Uma prova de antologia.
Da casa agrícola Horácio Simões fizemos uma pequena viagem pelos deliciosos moscatéis roxos de Setúbal. Vou começar pela ordem contrária à que foram servidos, isto é do mais novo para o mais velho. Começamos com duas versões do Moscatel Roxo 2010, aquele que se encontra atualmente no mercado e o que navega e estagia no porão do barco Évora, renovando a tradição do vinho "Embarcado". Este último mostrou-se um pouco mais evoluído e por isso valeu a pena a experiência. O Moscatel Roxo Superior 2005, distinto por ser usada aguardente da região de Armagnac (tal como Domingos Soares Franco faz no seu JMF colecção privada). O Moscatel Roxo 2003 num registo intermédio, passou um pouco despercebido. Para o final dois grandes vinhos, o Moscatel Roxo 1999 que iniciou tímido e foi crescendo com o tempo no copo e o Moscatel Colheita 1974, com guarda em tonéis mais garrafão de vidro, a revelar-se um vinho enorme, com frescura, notas aromáticas de "garrafa", muito complexo e com um longo final. Adorei. Deste último vinho sairá uma edição limitada para este Natal de apenas 300 garrafas. Os moscateis podem não ter a acidez dos Madeira ou a fama dos Porto, mas têm um encanto muito próprio.
Sérgio Lopes
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