A José Maria da Fonseca é o mais antigo produtor de vinhos de mesa e moscatéis em Portugal. A família Soares Franco, proprietária da empresa desde há 170 anos, tem assumido um papel determinante no sector vinícola nacional. Com mais de 650 hectares de vinhas, repartidos entre a Península de Setúbal, Alentejo e o Douro, e um moderno centro de vinificação com uma capacidade de 6,5 milhões de litros, a sede da José Maria da Fonseca situa-se em Vila Nogueira de Azeitão.
A empresa encontra-se neste momento na posse da 7ª geração da família! Decidimos então visitar este gigante "familiar" do mundo vinícola. A visita decorreu no passado dia 5 de Dezembro, pela manhã. Fomos muito bem recebidos pela Sofia Soares Franco, responsável pelo enoturismo da JMF e que tinha uma prova preparada para nós de 10 vinhos e 2 moscatéis. Antes, porém, iniciamos a visita pelas instalações, com a guia de enoturismo.
Começamos a visita pela propriedade, explicando a história secular da empresa e o conceito familiar da mesma. São 33 marcas, presentes em mais de 50 países! 75% da produção é para exportação, sendo os mercados mais repesentativos, Suécia, Brasil, Itália, Holanda e EUA. Quem não conhece as marcas Periquita, BSE, Lancers, ou mais recentemente os fabulosos moscatéis de Setúbal?
A propósito de Moscatéis, há que destacar o Torna-Viagem. Em 2000, por ocasião do festejo dos 500 anos do Brasil e mais recentemente em 2010, como mote para a reedição desta raridade e testemunho do estreitar das relações entre Portugal e os países asiáticos, alguns cascos de Moscatel deram a Volta ao Mundo a bordo do Navio Escola Sagres, passando quatro vezes pela linha do Equador, sofrendo a constante ondulação do Navio, bem como a influência das diversas condições meteorológicas. Experiências anteriores, de há mais de um século, provaram que o vinho voltava melhor do que quando embarcava!
Os portugueses descobriram o Torna-Viagem há mais de um século, por acaso. Na época em que os nossos navios cruzavam os mares do mundo fazendo todo tipo de comércio, era comum levarmos em consignação algum do Moscatel de Setúbal. Nem sempre se conseguia comercializar todos os barris. Na volta à pátria, depois do périplo, em que se submetiam a diversos climas e significativas variações de temperatura, os tonéis eram devolvidos às caves dos produtores. Ao serem abertos, quase sempre uma grata surpresa: geralmente o vinho estava melhor do que antes de embarcar. A passagem pelos trópicos, a caminho do Brasil, África ou Índia, quando atravessava por duas vezes a linha do Equador, uma na ida, outra na volta, parecia aprimorar a qualidade do Moscatel de Setúbal e conferir-lhe grande complexidade. Nasceu assim a lenda do Torna-Viagem!
A visita continuou atravessando os jardins da propriedade onde pudemos visualizar uma réplica das diversas castas plantadas, que compõem as marcas da empresa, até chegarmos às adegas. O centro de vinificação, que não visitamos, situa-se a pouco mais de 1 km do local e é ultra-moderno.
Na adega da Periquita é onde estagiam os lotes que vão dar origem ao colheita e reserva da marca mais conhecida da JMF, o Periquita, sendo que o colheita estagia em tonéis de mogno e carvalho francês, enquanto que o reserva, apenas em carvalho francês. Ambos os vinhos envelhecem por um período de cerca de 6 meses.
Seguiu-se a adega onde estagiam os Moscatéis, numa antiga fábrica do século XVIII, remodelada para o efeito. São 400.000 litros do precioso néctar armazenados e a envelhecer! Existem 3 designações:
SS- Setúbal Superior, produzido apenas em anos excepcionais e com uma média de idade superior a 30 anos.
MS- Moscatel de Setúbal (Alambre), produzido com lotes que podem atingir os 60 anos de idade.
MR - Setúbal Roxo, produzido com lotes que podem chegar até aos 80 anos de idade!
Contudo, como todos eles são loteados com 20 anos, aparece sempre no rótulo a designação 20 anos...
Terminada a visita, fomos encaminhados para a Sala de Provas, onde nos esperava a Sofia e a enóloga Catarina, para iniciarmos a degustação. Foram colocados à nossa disposição 10 vinhos representativos das várias regiões onde opera a José Maria da Fonseca e dos diversos estilos que apresenta e ainda 2 moscatéis. Provamos os seguintes vinhos:
- BSE - Branco Seco Especial 2010, vinho sobejamente conhecido e que facilmente se encontra nas grandes superfícies. Uma das marcas mais antigas da casa, datado de 1945, vinho produzido das castas Antão Vaz, Fernão Pires e Arinto, trata-se de um vinho simples, fresco e leve, fácil de beber.
- Periquita Branco 2011 - Ora aí está um vinho provado em primeira mão. Produzido das castas Moscatel, Viosinho, Viognier e Verdelho, está diferente dos anos anteriores, bastante exótico, muito frutado e fresco. Muito agradável.
- Periquita Tinto 2009, o vinho tinto português mais consumido no mundo. Maioritariamente Castelão, com alguma percentagem de aragonês e trincadeira, é um vinho sobejamente conhecido e é seguramente A MARCA.
- Periquita Reserva Tinto 2008, 50% castelão, loteado com Touriga Nacional e Touriga Franca, passando por madeira nova e usada, conferindo-lhe uma maior complexidade. Uma escolha acertada, num vinho consensual que eleva um pouco mais a marca Periquita a outros níveis. Existe ainda o Periquita Superyor, que não se encontrava em prova.
- Quinta de Camarate Tinto 2008, vinho produzido da Quinta com o mesmo nome, situada em Azeitão, à base de Touriga Nacional (48%), Aragonez (21%), Cabernet Sauvignon (17%) e Castelão (14%), sendo que 25% do lote passa por madeira nova. Um vinho suave e equilibrado, de final médio.
- José de Sousa Tinto 2009, vinho produzido em Reguengos de Monsaraz, Alentejo, à base de Grand Noir (45%), Trincadeira (35%), e Aragonês (20%), Pequena parte fermentou em ânforas de barro e o restante em cubas de inox a uma temperatura de 28ºC. 30% do lote envelheceu em carvalho novo americano e francês. Interessante.
- José de Sousa Tinto 2009, vinho produzido em Reguengos de Monsaraz, Alentejo, à base de Grand Noir (45%), Trincadeira (35%), e Aragonês (20%), Pequena parte fermentou em ânforas de barro e o restante em cubas de inox a uma temperatura de 28ºC. 30% do lote envelheceu em carvalho novo americano e francês. Interessante.
- José de Sousa Mayor Tinto 2007. Este vinho, pretende reproduzir o tinto velho de 1940. Assim, o processo de vinificação passa por vindimar as castas das vinhas velhas em separado, pisadas a pé e fermentadas em talhas de barro e lagares de maior dimensão, sofrendo posterior estágio de cerca de 10 meses em madeira. O resultado é um vinho muito elegante e fresco, complexo e bastante agradável. Muito Bom!
- Domini Tinto 2009. Com o objectivo de optimizar a excelência das castas e dos vinhos do Douro, e associá-los à imagem e credibilidade da José Maria da Fonseca, surge o Domini, produzido com uvas da Quinta de Mós, à base de Touriga Nacional (50%), Tinta Roriz (30%) e Touriga Franca (20%), com estágio de 3 meses, em barrica nova. Um Douro agradável.
- Domini Plus Tinto 2008. Com ligeira variação das percentagens nas castas utilizadas e um estágio de cerca de 14 meses em meias pipas novas de carvalho francês, este tinto mostra a garra e potência de um belo Douro. Muito Bom.
- FSF Tinto 2007. Em homenagem a Fernando Soares Franco, um vinho produzido a partir das suas castas preferidas: Syrah, Trincadeira e Tannat, sofrendo um estágio de cerca de 12 meses em meias pipas novas de carvalho francês. Um vinho complexo, elegante e diferente. Muito bom.
Provamos ainda os seguintes moscatéis:
Moscatel Roxo 2005 & Moscatel Setúbal 1999 |
Ambos os moscatéis muito bons. Eu sou um fã incondicional do Moscatel Roxo, mas o Moscatel de Setúbal 1999, com a inclusão de Armagnac para parar a fementação, delicioso. Conclusão, comprei dos dois!
Alambre Moscatel de Setúbal 20 anos |
Moscatel Roxo 20 anos |
Trilogia |
O grande final estava reservado para estes 3 magníficos néctares. Tanto o 20 anos Alambre , como o Moscatel Roxo 20 anos, deliciosos! Frescos, complexos, uma delícia. Mas o Trilogia, composto pela combinação das melhores colheitas do Século XX: 1900, 1934, 1965, simplesmente indescritível. Puro mel, num final interminável e incrivelmente saboroso. Um final em grande, para uma prova excelente.
Resta-nos agradecer à Sofia Soares Franco, pela disponibilidade, simpatia e generosidade, com que nos recebeu!
Sérgio Lopes
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