2017 já passou e é tempo de partilhar um pouco daquilo que foram as (grandiosas) provas de vinho que tive o privilégio de efetuar, ao longo do ano, incluindo provas caseiras e em confraternizações várias com amigos, que tal como eu, apaixonados, pelo vinho, me ajudaram a aprender um pouco mais e a. ter grande prazer! Seria fácil falar dos colossos que provei ao longo do ano e que seguramente figuram nos "mellhores do ano" - irei falar de alguns deles é inevitável - mas esta selecção privilegia vinhos diferentes e diferenciadores, ou noutros casos, que consumi com regularidade ao longo do ano. Foi um ano em que a minha garrafeira inverteu a tendência, isto é, passou a ter um racio de 70%/30% - Brancos / Tintos. Consumi pois muito mais vinho branco, algum dele com idade entre 5 a 10 anos, intervalo que aprecio particularmente. Bebi (muito) menos tintos, fortificados e até menos espumantes, talvez porque a "companhia" lá de casa não os privilégio, o que aconteceu por uma belíssima razão, a que tornou este ano, o ano mais feliz da minha (nossa) vida.
Se há vinho que branco que me surpreendeu em 2017 (e que consumi bastante) foi o Lisboa 2016 do enólogo Hugo Mendes. Este vinho não consensual foi a sua primeira aventura a solo (tem nos deliciado com os fabulosos Arintos da Quinta da Murta), a sua interpretação da casta Fernão Pires na região de Lisboa. Hugo trabalha como ninguém as redes sociais e conseguir vender todo o seu vinho através deste meio, inclusive, grande parte en primeur. O vinho não é barato, mas tem pouco alccool, muita elegância e um nervo que o torna delicioso. A crítica generalizada da especialidade recebeu o vinho muito bem.
Outro vinho surpreendente, Anselmo Mendes Beira Interior 2014. O mestre do Alvarinho não precisa de apresentações, delicia-nos com os fabulosos vinhos de Monção e Melgaço e mais uma vez foi um prazer beber ao longo do ano vinhos magníficos como Expressões, Curtimenta ou Parcela Única (o 2015 está assombroso) ou o Tempo, qualquer um deles poderia e deveria figurar como dos melhores brancos do ano. Mas o Beira Interior, feito 100% da casta Siria merece o destaque por elevar a região a um outro nível, num vinho elegante, mineral e gastronómico, com pouco álcool - delicioso.
Sem Igual 2015, vinho verde que nada tem de tradicional em relação à região. O projecto de João Camizão, feito de Azal e Arinto de Amarante, deslumbrou-me ao primeiro contacto. A linha condutora ou perfil é o de pouca exuberância, bastante acidez, e muito secos, com o corpo do Arinto e o "nervo" do Azal. Neste momento começa a mostrar-se em todo o seu esplendor, com um nariz contido mas cheio de complexidade, uma boca vibrante, frescura ácida e final bem prolongado. Nada de frutinhas enjoativas. Pelo contrário um branco de classe internacional, com um lado amanteigado que agora começa a aparecer a lembrar a "borgonha".
Pormenor Reserva 2015, do jovem Pedro Coelho, com enologia de Luis Seabra, enólogo pouco consensual, mas que imprime um cunho muito especial aos vinhos que produz, aportando um lado mais elegante e mineral, mais primário. Produzido a partir de mistura de uvas de vinhas acima dos 90 anos, em altitude, Muito complexo, com notas herbáceas à mistura. Boca com grande finesse, enchendo por completo o palato. Termina muito longo e a pedir novo copo. Um branco ainda muito jovem, mas a dar grande prova, num registo de grande elegância e finura de conjunto. Adorei.
Pequenos Rebentos 'à moda antiga' 2016. Gosto muito do produtor Márcio Lopes. Faz vinhos do caraças apesar de não possuir vinhas próprias e trabalhar em diferentes regiões. Este ano produziu um dos seus melhores vinhos de sempre e seguramente o mais diferenciador, na minha opinião. Elaborado a partir de uvas de 40% Alvarinho, 30% Avesso e 30% Arinto, provenientes de Amarante, o vinho sofre uns dias de curtimenta e 9 meses em barricas usadas com as borras totais - 3 meses de fermentação, 6 meses de estágio. Totalmente fora do baralho, vinho algo rústico ('à moda antiga'), com aroma fortemente mineral e ligeiro toque citrino. A boca apresenta enorme frescura, corpo e uma acidez descomunal o que indicia uma grande longevidade. Apresenta-se poderoso, com final longo e refrescante, a pedir comidas que lhe possam dar luta à mesa. Vai durar anos!
Para finalizar, o Alvarinho, seguramente a casta que consumi com maior regularidade, destacando 4 vinhos para além dos de Anselmo Mendes mencionados acima (Expressões, Curtimenta ou Parcela Única). O Deu-la-Deu Terraços, Produzido a partir de vinhas velhas, fermentadas com leveduras autóctones. Trata-se de um vinho de grande pureza aromática. Acidez e frescura a rodos. Muito complexo e cheio de mineralidade, com notas de pedra molhada. Na boca é firme, austero, imponente e muito longo. Um caso sério. Regueiro Barricas, se o Regueiro Primitivo feito das uvas mais antigas da propriedade é fino e cheio de nervo, o "Barricas" é ainda mais mais preciso e delicado. São apenas 2000 garrafas de um branco que amadurece em barrica, como o próprio nome o sugere. A madeira aparece sempre superiormente integrada, conferindo-lhe apenas a complexidade e arredondamento extra, que o elevam a outro patamar de "finesse". Um exemplo claro de como utilizar a madeira de forma a potenciar a uva Alvarinho, sem marcar em demasia. Valados de Melgaço - Vinifcação Natural. O objectivo do produtor Artur Meleiro foi o de lançar para o mercado um Alvarinho que mostrasse a expressão genuína da região de Monção e Melgaço. Com estágio sobre borras finas em madeira, durante 8 meses, não foram utilizados sulfitos durante a vinificação. O resultado é um vinho complexo e fino, bem acima do seu Alvarinho colheita, já de si muito bom. O aroma é profundo com notas delicadas citrinas e um balsâmico que lhe dá um carácter bem interessante a potenciar a frescura. Na boca, é fresco e elegante, com madeira bem integrada e um bom corpo, terminando persistente. Com potencial de envelhecimento. JPR Reserva Alvarinho A incursão do produtor João Portugal Ramos pela região dos vinhos verdes. O JPR Alvarinho Reserva, fermentou em barricas de carvalho francês de 2 e 3 anos onde permaneceu sobre as borras durante 10 meses. É um vinho muito sério, complexo, fino e estruturado, com a madeira ainda em primeiro plano, mas sem massacrar. Mineral, com boa definição aromática e intenso, de final bem longo. A entrar directamente na primeira liga dos alvarinhos da região.
Colossos
1. Buçaco 1958 - Todo ele surpreendente, desde a cor com evolução, mas nada de marcante, aos aromas complexos, à boca com uma acidez descomunal, a aportar enorme frescura. A mudar constantemente com o passar do tempo. Um branco memorável, divinal.
2. Passarela Lote 2010 - 2014, lote proveniente de uma barrica por ano dos Vila Oliveira. O objectivo é fazer duas edições por década, sendo esta a primeira. Um vinho estruturado, longo, complexo, com classe.
3. Clos des Mouches 2012, um vinho francês cheinho de classe, como só um Borgonha consegue ser.
Nesta selecção ficaram tantos vinhos de fora, tal é a qualidade dos vinhos brancos portugueses, o que é de saudar!
Sérgio Lopes
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