quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Opinião: O prazo de validade do vinho

Possivelmente já se questionou porque é que o vinho não trás no seu rótulo um prazo de validade, uma vez que os alimentos embalados trazem todos uma data expressa. Realmente, com o vinho a questão é bem mais complexa, mas nada que não tenha uma explicação.Para se saber até quando um alimento ou uma bebida mantêm boas condições de consumo, as amostras desses produtos são enviadas para laboratório onde são realizadas análises que avaliam a velocidade e as condições que levam à sua deterioração. Essa avaliação é chamada de “teste de vida de prateleira” e é com base nela que se determina o prazo de validade. Mas então, como é que se fazem análises ao vinho quando sabemos que (nalguns casos) podem manter-se em condições de serem apreciados por muitos e longos anos? Uma vez dentro d7a garrafa, existem vários factores que influenciam o tempo que um vinho vai permanecer apto até ser apreciado. As diferentes intensidades da acção de factores físicos como a luz, temperatura e movimento (vibrações); e químicos, como a oxidação (alterações que ocorrem em contacto com o oxigénio) ou a redução (alterações que ocorrem na ausência do oxigénio) irão influenciar a evolução e/ou deterioração de cada vinho. Cada um deles vai reagir de forma diferente a essas influências e, por isso, não há como fazer com os vinhos o tal “teste de vida de prateleira”. 

Como a validade é uma informação obrigatória nos alimentos embalados e os vinhos evoluem de diferente maneira uns dos outros, dependendo da sua constituição e forma de armazenamento, os rótulos podem ostentar a informação “válido por tempo indeterminado” ou “consumir de preferência antes de…” sempre e desde que embalados em vasilhame de vidro. Embora este pormenor não se aplique, para já, na União Europeia. Neste caso, o risco de perda do produto por motivos de excessivo tempo de armazenamento é avaliado pelo consumidor e controlado pelos estabelecimentos da especialidade. Para orientar o consumidor, os produtores costumam indicar no contra-rótulo as condições ideais para prolongar a vida útil do vinho. Mas então, se o vinho não tem prazo de validade, porque é que se fala em tempo de guarda? Com base no facto de cada vinho evoluir de maneira diferente, o chamado tempo de guarda é uma estimativa que os produtores e especialistas sugerem para o limite de tempo até ao qual, possivelmente, o vinho manterá características dignas de serem apreciadas. Passado esse tempo, ele entrará em deterioração, mas sem nunca trazer riscos para a saúde. Porém, não existem garantias precisas para que essa estimativa se concretize, pois é impossível prever com exactidão como o vinho irá evoluir em garrafa, mesmo que esteja armazenado nas melhores condições. Por isso, o vinho é um produto que tem uma “estimativa de guarda” e não um “prazo de validade” Saúde…!
Fernando Sousa (www.global-satisfaction.com)

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Radar do Vinho: Herdade da Maroteira

No 4.º dia do grupo (meu 2.º) fomos visitar a Herdade da Maroteira com 540 hectares, no sopé da Serra d’Ossa, a 20km a sul de Estremoz. É nesta propriedade onde se produzem os afamados Syrah Cem Reis e Mil Reis (quando a colheita é excepcional) que desaparecem a um ritmo impressionante. A enologia está desde o início do projeto com António Maçanita e apenas as uvas de qualidade superior são aproveitadas para a produção de vinho da Herdade da Maroteira, a maior parte das uvas são vendidas. Nesta visita, o nosso principal interlocutor foi o Anthony Kynaston Doody que nos levou num autêntico safari pela Quinta, pois é muito mais do que uma produtora de vinho, aliás, ocupa uma parte muito pequena da quinta e não será fácil de aumentar substancialmente devido aos inúmeros sobreiros protegidos dispersos por toda a área. Os vinhos apenas foram provados durante um almoço simples, mas muito saboroso e por isso não têm nota de prova. Todavia, devemos destacar dois vinhos que foram provados ainda antes da sua comercialização e sem rótulo:

- O Cem Reis 2015, que já estava muito bom, intenso mas elegante e com uma acidez que equilibra os 16% de álcool, factor que contribuiu para essa sensação, foi a temperatura a que foi servido, que diria ser à volta dos 15ºC, mais adequada na minha opinião do que os 17-18ºC, referidos pelo atual contra-rótulo.
- O Senhor Doutor Alvarinho 2016, que prova, que com uma viticultura/enologia cuidada, se consegue fazer bons alvarinhos em todo o país, mesmo no interior alentejano.

Duarte Silva (Wine Lover)

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Radar do Vinho: Sir Júlio Bastos e os seus Dona Maria

Após a manhã na Tiago Cabaço Wines, a tarde do dia 12 de Abril, não foi nada inferior, pois os vinhos foram muito bons, com vários excepcionais e a boa disposição era tão grande que se prolongou inesperadamente para a noite, num jantar fenomenal na Mercearia Gadanha com a mesma equipa que nos recebeu (Raquel Fernandes, Sandra Tavares e o inconfundível Júlio Bastos). Confesso que para um senhor tão importante no mundo do Vinho, quanto é o Júlio Bastos, fiquei surpreendido com o facto de ser tão acessível e tão bem disposto (penso que as fotos dão uma ideia). Quanto aos vinhos propriamente ditos, segundo as minhas notas de prova (sintéticas e pessoais, mais úteis a pessoas com gostos semelhantes):

- Dona Maria Rosé 2016 – seco e com boa intensidade (16,5);

- Dona Maria Branco 2016 – equilibrado e só prejudicado um pouco para o meu paladar por uma ligeira sensação de doçura (16);

- Dona Maria Viognier 2015 – intenso e com acidez pronunciada (17);

- Dona Maria Amantis Branco 2014 – parecido com o anterior, ligeiramente mais volumoso (17);

- Dona Maria Amantis Branco 2012 – já com uns aromas de evolução que lhe dão um pouco mais de complexidade (17-17,5)

- Dona Maria Amantis Branco 2009 – intenso mas equilibrado com uma evolução fabulosa (18);

- Dona Maria Tinto 2014 – relativamente intenso e com acidez média/elevada que lhe dá uma boa frescura (16,5);

- Dona Maria Amantis Tinto 2012 – mais intenso mas mais quente (16,5);

 

- Dona Maria Touriga Nacional 2013 – floral e intenso mas elegante (17,5);

- Dona Maria Reserva 2005 – aroma e sabor muito bons (18);

- Dona Maria Reserva 2008 – muito parecido com o anterior em que apenas o aroma achei ligeiramente inferior (17,5-18);

- Dona Maria Reserva 2012 – sabor muito bom com classe (18);

- Júlio Bastos 2007 – sabor muito intenso e com grande classe (18,5)

- Quinta do Carmo Garrafeira 1986 – num bom estado de evolução face aos seus 31 anos, por exemplo, pela cor, diria bem menos (17,5)

- Quinta do Carmo Garrafeira 1985 – um pouco mais complexo do que o anterior (18).

Ainda voltamos no dia seguir para visitar a belíssima quinta, datada do princípio do Séc. XVIII, incluindo a adega e jardim e terminamos com uma compras.

Duarte Silva (Wine Lover)

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Radar do Vinho: Os Blog do Tiago Cabaço

Aproveitando um fim de semana menos agitado, venho reportar um dos dias mais fabulosos deste ano, que se passou há meio ano, a 12 de abril. O início foi muito madrugador, em Vila do Conde para me juntar ao Sérgio Costa Lopes e rumarmos a Estremoz de forma a nos juntarmos ao núcleo duro dos Cegos que já estava há dois dias pelo Alentejo em provas. 

Assim lá pelas 10h já estávamos à porta da Adega da Tiago Cabaço Wines. O que se seguiu foi fenomenal. Fomos visitar a adega incluindo uma prova diretamente das barricas, onde percebemos que se quisessem fariam vinhos monocastas de grande qualidade (ao nível dos Blogs). O tema principal da visita foi uma prova do Blog de rótulo preto com Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Syrah. Segundo as minhas notas de prova:

Blog 06 - Aroma e sabor muito bom e com intensidade e acidez (18)
Blog 07 - parecido com o 06 mas aroma não tão bom (17,5)
Blog 08 – muito parecido com o 07 (17,5)
Blog 09 - um pouco mais de potência (17,5-18)
Blog 10 - mais adstringente (17)
Blog 11 - muita potência e classe (18-18,5)
Blog 12 – um pouco inferior (17,5)
Blog 13 - muito parecido com o 11, é impressionante estar já tão pronto para ser bebido, ainda sem estar à venda e por isso sem rótulo na fotografia (18-18,5).


Depois da vertical, almoçamos umas bochechas de porco com a restante gama do Tiago Cabaço. Não tirei notas mas queria destacar dois vinhos:
- O Tiago Cabaço Vinhas Velhas 2013 Tinto, um vinho com uma excelente relação qualidade/preço, já chegou a ganhar uma prova cega que organizei de vinhos até 15€;
- O Blog Bivarietal de Alicante Bouschet e Syrah (Rótulo castanho) 2013 que estava brutal, que juntamente com o outro Blog 2011 foi o único que comprei (por isso não estranhei quando uns meses depois ganhou o prémio de melhor vinho tinto de lote de todos os vinhos que estavam em exibição no Decanter World Wine Awards (provavelmente o concurso mais conceituado do mundo).

A tarde e a noite foi uma outra orgia vínica mas isso fica para outro post.

Duarte Silva (WineLover)

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Passatempo: Novo vinho de que produtor?

Numa altura em que o final do ano se avizinha, o ContraRotulo está a antecipar o espírito Natalicio criando um passatempo destinado aos seus leitores. Em exclusivo com o grupo do facebook Wine & Stuff, o desafio consiste em acertar no nome do(a) produtor(a) cujo vinho se encontra na foto ao lado. Trata-se de uma nova referência que sairá para o mercado até final do ano e irá contribuir para o aumento do seu portfolio. 

Durante os próximos dias irão ser fornecidas mais pistas para vos ajudar a tentar adivinhar de quem se trata. O primeiro leitor a acertar no nome do o(a) produtor(a) levará para casa uma garrafa de vinho do mesmo!

Para participar basta efetuar o seguinte:

- Fazer like na página do facebook do Contra-Rótulo.
- Indicar a vossa resposta no post respectivo na página do facebook do Wine & Stuff

Boa sorte!

Sérgio Lopes

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Prova vertical dos vinhos Sem Igual

Sem Igual é um projecto de João Camizão, vinhos verdes diferentes, desde logo a começar pela combinação de castas - Azal e Arinto, que conferem ao vinho uma generosa dose em partes iguais de nervo e corpo, sempre amparados por uma enorme frescura. São vinhos que quando novos apresentam-se até um pouco austeros, mas que com o tempo vão crescendo imenso, demonstrando grande longevidade - capacidade de evolução bem patente na prova vertical que tivemos o privilégio de fazer, há uma semana. Provamos desde 2012 a 2016, as 5 colheitas produzidas até agora.

O Sem Igual 2012 está delicioso, impressiona pela forma como evoluiu tão bem, com uma acidez desconcertante e notas meladas e petroladas, sem perder a fruta e o lado floral, num conjunto fantástico. Que grande vinho e que acompanhou brilhantemente a minha sobremesa, harmonizando na perfeição com um delicioso bolo de chocolate. Deste ano há pouquíssimas garrafas na reserva particular do produtor. O Sem Igual 2013, um pouco austero ainda, mas com uma prova bastante agradável, com predomínio das notas vegetais e algum citrino. Fresco e com vida pela frente. O menos "preferido", se assim podemos dizer.  O Sem Igual 2014, foi o preferido da maioria. Está num momento de forma delicioso, cheio de complexidade, com notas amanteigadas, a fazer lembrar um Borgonha. O Sem Igual 2015, continua a ser o meu preferido. Embora aprecie o registo do 2014, adoro o "nervo" do 2015. Gosto particularmente da boca vibrante, frescura ácida e final bem prolongado, mas ao mesmo tempo do nariz contido e misterioso, cheio de complexidade. Estou muito curioso em verificar como vai evoluir. Seguramente por muitos anos. Este é o vinho que se encontra à venda neste momento. Finalmente, o Sem Igual 2016, ainda tremendamente jovem e à procura de encontrar o seu caminho. Há quem preveja vir a ser um dos melhores (bem, todos são ótimos). Para mim, parece neste fase que vai buscar as notas mais frutadas e amanteigadas dos anos pares - 2012 e 2014, mas já mostra uma elevada acidez e alguma austeridade, características dos anos ímpares - 2013 e 2012. Será? Um par de anos o dirá.

Em suma, grande prova e a confirmação da enorme qualidade dos vinhos Sem Igual. Estejam atentos que virão novidades para breve.

Sérgio Lopes

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Da minha cave: Duas Quintas Reserva Tinto 2000

A casa Ramos Pinto dispensa apresentações, bem como a marca Duas Quintas, icónica marca do Douro e associada a consistência e qualidade, ano após ano. Tive a oportunidade de provar este Duas Quintas Reserva Tinto de 2000, que o Alirio trouxe para mais uma jantarada. O vinho tem algumas particularidades -  uvas provenientes da Quinta da Ervamoira e da Quinta dos Bons Ares (não sei se agora continua assim), feito de Touriga Nacional (70%) e Tinta Barroca (30%), 6 meses de estágio em barrica e dois anos de repouso em cave na Quinta dos Bons Ares, tudo sinais e formas de fazer este vinho, quase como que a prepará-lo para uma digna e prolongada guarda.

E é isso mesmo que sucedeu, o vinho evoluiu e muito bem, apresentando-se 17 anos depois muito fresco, com a boca macia e ainda com bastante fruta presente, associada a notas deliciosas de evolução que lhe dão uma complexidade acrescida. Um prazer à mesa. 

O Douro também é capaz disto: Fazer vinhos que desafiam a passagem do tempo.  Ainda se encontra este vinho na Garrafeira Nacional. Esta garrafa veio da cave do Alirio e não da minha cave, como o título pode sugerir erradamente...

Sérgio Lopes