terça-feira, 13 de agosto de 2019

Radar do Vinho: XXVI Talhas (Mestre Daniel)

Mestre Daniel Branco Lote X - O meu preferido
O projeto XXVI Talhas presta homenagem à tradição milenar da produção de vinho de talha, na pacata aldeia de Vila Alva.  XXVI talhas - porque é o número de talhas que existem na adega onde se produz o vinho, com as marcas "Vinho do Tareco" (vinho novo da talha) e Mestre Daniel em homenagem ao carpinteiro que construiu a adega e adquiriu as talhas há mais de 60 anos. O Mestre Daniel produziu nessa adega vinho de talha durante cerca de 30 anos, seguindo a tradição familiar que herdou de seus pais e avós. Após a sua morte seguiram-se ainda alguns anos de produção. Contudo, em 1990, a adega encerrou atividade. Em 2018, após quase trinta anos de interregno, a adega volta a funcionar, retomando a tradição local e familiar de produção de vinho de talha. O projeto é encabeçado hoje pela filha do Mestre Daniel e seus dois netos e ainda o enólogo Ricardo Santos (Malo Tojo), com ligações afetivas ao projeto. Das 26 talhas que dão nome ao projeto, 22 são de barro, algumas datadas do séc. XIX, e 4 são de cimento armado que, apesar de mais recentes (década de 1930), foram fabricadas por “mestres vilalvenses”.

As vinhas têm idades entre 20 a 50 anos e contêm castas do antigamente, que aí perduram. Os solos são pobres, carregados de xisto e saibro e com relevos atípicos para a região. A proximidade da pequena serra do Mendro tem influência na temperatura, o que tudo somado, torna este projeto um pouco fora do baralho para a região, permitindo produzir vinhos com enorme identidade e personalidade.
O Mestre Daniel Branco 2018 é feito de Antão Vaz, Perrum e Roupeiro, fermentado com maceração e contacto com as massas durante três meses em talhas de barro, sem controlo de temperatura e com leveduras indígenas. Resulta do lote de duas talhas, uma com capacidade fermentativa aproximada de 900 litros e outra com capacidade de 800 litros. Apresenta aroma com fruta branca madura e algum herbáceo. A boca tem um toque ceroso e untuoso, apresentando-se algo mineral, seco e muito fresco. De corpo médio e final médio/curto,  termina guloso. De beber e querer repetir. PVP: 15€. Garrafeiras.
O Mestre Daniel Tinto 2018 é feito de Trincadeira , Aragonês e Tinta Grossa. O nariz apresenta uma fruta muito bonita, quase como a lembrar geleia, mas sem qualquer sobrematuração. Antes pelo contrário, é apetecível. A boca apresenta um bom volume, focada na fruta, apesar de alguma rusticidade, o que lhe confere uma certa graça.  Termina-se seco, elegante e muito fresco, para se beber com muito prazer, com os seus moderados 12 graus de álcool. PVP: 15€. Garrafeiras
O Mestre Daniel Branco Lote X 2018 foi o meu preferido dos três vinhos provados. Feito de Diagalves, Manteúdo, Antão Vaz, Perrum e Roupeiro, é o produto da fermentação e estágio sobre borras de uma talha apenas. As uvas provêm da vinha mais velha, com cerca de 50 anos, plantadas num solo de saibro. O resultado é um vinho com muita mineralidade onde a curtimenta de 6 meses na talha lhe confere uma boca com alguma austeridade e um volume que provavelmente não estaríamos à espera encontrar, tratando-se de um branco de talha. Apesar dos seus 11,5 graus de álcool tem largura e uma excelente acidez que lhe confere grande frescura. Um branco com grande nervo e complexidade aromática a mostrar o que o terroir de Vila Alva pode produzir. PVP: 20€. Garrafeiras.

Sérgio Lopes

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