quinta-feira, 21 de março de 2019

O Rio Minho, a fronteira do grandioso Alv(b)ariñ(h)o

Abaixo do Rio Minho, está localizada Monção e Melgaço, uma sub-região incorporada na região dos Vinhos Verdes onde a casta Alvarinho tão bem se exprime, sobretudo, pela conjugação de factores únicos – como clima, casta, solo e o factor humano –, produzindo vinhos singulares e inimitáveis. Vinhos brancos cheios de frescura e mineralidade. Trata-se de um terroir que usufrui de um microclima continental, promovido por uma cintura de montanhas, que protege as vinhas dos ventos húmidos. Os solos de onde as uvas são oriundas (terras de aluvião mais próximas do rio, terraços fluviais, por vezes com pedra rolada, ou cotas mais altas, onde predomina o granito mais fino) e as decisões tomadas na adega, definem depois o perfil dos vinhos que pode oscilar entre a fruta tropical, ou o lado citrino.

Acima do Rio Minho, passando a fronteira, estamos a entrar nas Rias Baixas, onde a casta Albariño (tenho de a escrever mesmo assim) também se exprime de uma forma igualmente original, resultando também em vinhos repletos de identidade. As Rias Baixas são uma das grandes divisões geográficas do litoral da Galíza. As rías são um braço de mar que, como se fosse um vale, se adentra na costa. As rías da Galíza estão divididas em Rías Altas (aquelas que ficam ao norte do cabo de Finisterra) e Rías Bajas (ao sul do cabo). Ou se preferimos abaixo de Santiago de Compostela, para mais fácil localizarmos. Aqui a influência é totalmente marítima e a proximidade com o Oceano Atlântico (por vezes com vinhas a escassas centenas de metro do mar) contribuem para uma salinidade evidente e que confere aos vinhos uma tipicidade muito própria. São vinhos também com uma elevada acidez e muita, muita frescura.
Os Protagonistas

Quando pensamos em Alvarinho é incontornável destacar Anselmo Mendes, talvez o maior nome associado ao estudo da casta e que produz vinhos, com enorme qualidade há mais de 25 anos, logo seguido de Soalheiro, também um dos pioneiros nesta matéria, sendo hoje em dia um dos maiores produtores da região. Em volume, só ficam atrás de empresas agregadoras de viticultores locais, tais como a Adega de Monção, PROVAM ou Quintas de Melgaço – Fantástico como a casta se dá tão bem na região produzindo vinhos de volume, mas com qualidade inegável. Outros nomes, no entanto, merecem igual destaque, de menor dimensão, mas enorme qualidade, como a Quinta do Regueiro, ou mais recentemente, já neste milénio, o surgimento de expressões diferentes da casta com projetos refrescantes, tais como Valados de Melgaço, Vale dos Ares ou Quinta de Santiago, entre outros.
Atravessando a fronteira, talvez o nome mais conceituado e a trabalhar a casta Albariño há mais tempo seja o produtor Zarate. A Bodega Zarate, localizada em Pontevedra, foi um produtor pioneiro no Albariño remontando ao século passado, quando começou a produzir esta variedade. Inclusive, Ernesto Zarate criou o Festival Anual de Albarino da região de Cambados, em 1953, que hoje é um dos eventos mais interessantes no que toca à mostra de vinhos Albariño. Mas é em redor do Vale de Salnes que ficamos ainda mais impressionados com os vinhos produzidos – secos, com muita acidez e cheios de salinidade. A conhecer: Albamar, o nome provém da junção do sobrenome da família Alba com a proximidade das suas vinhas ao mar; Benito Santos, vinhas encostadas ao mar e finalmente Alberto Nanclares, um dos maiores magos a trabalhar a casta em Espanha. Todos estes produtores têm em comum a mínima intervenção possível na feitura dos vinhos, uvas de vinhas bastante antigas, algumas delas centenárias e a expressão salina e mineral do terroir. Haverá seguramente outros mais, mas estes em particular, encheram-me as medidas este ano.
Esteja de que lado estiver do Rio Minho, viva o Alvarinho! E o Albariño…!

Sérgio Lopes (in Revista Paixão pelo Vinho)

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