sexta-feira, 29 de março de 2019

Fora do Baralho: Quinta Olival da Murta (Serra Oca)

A Quinta do Olival da Murta é um projecto de natureza familiar, que vai na sua quarta geração. Situada na Estremadura, a 80 Km da cidade de Lisboa, possui terrenos de grande influencia Altlântica e um micro clima da vertente norte da Serra de Montejunto, caracterizado pela grande amplitude térmica. Pertence à Sub região de Óbidos, uma das nove denominações de origem da “Região de Vinhos Lisboa”, que se caracteriza por vinhos tintos aromáticos, ricos em tanino e com grande capacidade de envelhecer em garrafa, e uma grande diversidade de brancos frescos e equilibrados. O projecto contempla um tinto e dois brancos, ambos muito originais, quer nas castas utilizadas, quer no método de produção, com recurso a alguma "curtimenta".
O Serra Oca Tinto (13€) é um vinho composto por Aragonez, Touriga Nacional e Castelão, com fermentação em lagar e passagem por madeira, por 18 meses. Há duas edições no mercado, atualmente, 2014 e 2015, sendo que preferi esta última, onde achei a madeira um pouco menos presente (embora não se sinta em demasia no 2014). São ambos tintos suaves, frescos e fáceis de beber, bem ao estilo da região de Lisboa. As grandes joias da coroa, na minha opinião, são os brancos, ambos de curtimenta e por isso, originais. O Serra Oca Branco 2017 (12,5€) é composto por Arinto (50%), Fernão Pires(45%) e Moscatel Graúdo (5%), fermentadas em separado em lagar com leveduras espontâneas. O Arinto e Fernão Pires com maceração pelicular e fermentação em barrica. Moscatel com curtimenta completa (estilo orange wine). Parte do lote estagia em barricas usadas de carvalho francês e restante parte do lote com estágio em inox. O resultado é um vinho mineral, com notas de laranja cristalizada e algum fruto seco. A boca é austera, com uma secura impressionante e uma acidez que marca este estilo de vinhos "orange", terminando intenso. Um vinho realmente original e "duro". Mais original ainda e o meu preferido de todos, o Serra Oca Moscatel Graúdo 2017 (12,5€), um branco de curtimenta completa, de uma casta também pouco usual. O aroma é muito complexo, com notas florais, fruta exuberante e toques melados. Tudo muito fresco. No entanto, a boca é algo mais contida de intensidade - elegante, mas a acidez lancinante que apresenta, fá-lo brilhar. Quase que parece um vinho que ameaça ser "bonito"  e exuberante pelo nariz, mas que na boca "arrasa" pela sua acidez. Apenas 12,5º de alcool e 600 garrafas produzidas, num ensaio que tem tudo para continuar. Mesmo "sui-generis".

Serra Oca (onde se diz que se ouve o mar)

Sérgio Lopes

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