sábado, 12 de agosto de 2017

Radar do Vinho: Quinta do Tamariz

Quando penso em vinho verde, não é de Barcelos que me lembro em primeiro lugar, embora tenha grandes recordações dessa belíssima região, onde residem familiares e cujas memórias de infância remontam para os dias em que havia a matança do Porco e todo um ritual à volta do evento. Era um dia inteiro de comes e bebes, entre Rojões, papas de sarrabulho e claro... vinho verde. Contudo, sempre achei que a região de Barcelos era uma região do vinho verde de quantidade, aquele com gás e de venda à porta das adegas - fresco, frutado e ácido, mas sem muito mais para contar. Pois, na Quinta do Tamariz, não é assim. 

Na Quinta do Tamariz, localizada em Barcelos, há uma ampla tradição vinícola, sendo uma empresa de cariz familiar que se mantém na mesma família, hoje gerida pela 4.ª geração. António Nunes Borges foi o fundador em finais do século XIX, um banqueiro que decidiu expandir a sua atividade, inicialmente centrada no prestigiado banco Casa Borges & Irmão, para a exportação de vinhos feitos nas suas quintas. Mais tarde, em 1926, a sua filha Lúcia Vinagre investe num forte desenvolvimento vitivinicola, continuado pelo seu filho, sendo hoje conduzida pelo seu neto Dr. António Borges Vinagre, que tivemos o prazer de conhecer na visita.

Em finais do século XX, mais propriamente a partir da década de 80, começa o processo de reestruturação das vinhas, com particular incidência na casta Loureiro, tendo sido plantadas posteriormente as castas arinto e alvarinho, entre outras. Do seu portfolio constam vinhos, espumantes e aguardentes vínicas velhas. São 35 hectares de vinha e 90 anos de história!

Fomos recebidos pela simpática Sofia Lobo e pela enóloga Francisca Vinagre, na loja da quinta, onde ficamos a conhecer a história da quinta e da família. Por mero acaso e com grande felicidade juntou-se a nós o homem do leme, o patriarca da família, Dr. António Vinagre que logo nos acompanhou até à adega onde iríamos começar a prova. Mas antes, foi tempo de visitar a cave onde repousam as aguardentes velhíssimas.


Iniciamos então a prova do portfolio completo da Quinta do Tamariz. Todos os vinhos provados apresentaram um denominador comum: Acidez elevadíssima (as vezes até no limite), o que lhes confere enorme longevidade, frescura proveniente dos solos graníticos e pendor gastronómico. E nada de gás...ufa! Provamos as colheitas de 2015 e meus amigos, só agora estou a começar a beber os vinhos comprados (e com grande prazer).

Quinta do Tamariz Loureiro Escolha
A casta ex-libris da casa. Floral e cítrico, acidez marcante, corpo médio, pouco alcool (11,5) e muita frescura. Boa RQP. Um daqueles vinhos para se ter sempre no frigorifico. No entanto, não pensem que estarão na presença de um Loureiro frutadinho... nada disso. Aqui há alguma austeridade que lhe confere um pendor bem gastronómico. 16/20. 4,5€

Quinta do Tamariz Alvarinho
Muito delicado e leve, mas com um acidez por trás que lhe dá balanço. Diferente do que estaríamos à espera de um Alvarinho. mas também estamos em Barcelos. Gostei bastante do lado fino que este vinho apresenta. Mais uma vez apenas 12º de alcool. 16,5/20. 7,5€

Quinta do Tamariz Arinto
De novo notas citrinas e alguma fruta branca. Com corpo e final médios, mantém o registo de frescura comum a todos os vinhos. Um bom exemplar da casta Arinto, da região dos vinhos verdes 15,5/20. 6,5€

Quinta do Tamariz Grande Escolha 2013
Por algum motivo está no mercado o 2013... E porquê? Porque os vinhos da Quinta do Tamariz precisam de tempo e este blend das três castas acima mostra agora um vinho cheio, equilibrado, com acidez ajustada e final longo. Tipicidade de vinho verde sem ser agressivo. Muito bem. 16/20. 6,90€.

Provamos ainda dois espumantes, ambos brutos, o branco feito 100% de Arinto e o Rosé 100% de Touriga Nacional. O branco intenso e com muita frescura e mousse de qualidade (15,5/20); O Rosé mais leve e delicado como se pretende (15/20). Ambos bastante interessantes. PVP 10€.

Ficou a faltar provar o verde tinto, feito exclusivamente de vinhão, mas trouxe uma garrafa para casa para experimentar. E claro, as aguardentes, cujo destaque vai para a aguardente 100% de Loureiro, de 2001 com uma produção de apenas 500 garrafas. Algo a merecer por si só seguramente um comentário à parte. No final ainda trouxemos MUITA laranja boa do pomar da quinta, pois nem só de vinho reza a Quinta do Tamariz.


QUINTA DO TAMARIZ
Rua de Cantim, 106 ,
4775-091 Fonte Coberta | Barcelos

GPS 41º29’2.42N, 8º33’29.70W
Telefone: +351 252 960 140

Sérgio Lopes


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